Editorial | Macacos não transmitem febre amarela. Mas, a ignorância pode matar
por Bruno Viterbo
Também publicado no site do SP Norte, em fevereiro de 2018
Desde o início do surto de febre amarela, em setembro do ano passado, a mídia — incluindo este SP Norte — tem se debruçado em informar a população da maneira mais direta possível. Onde se vacinar, sintomas, o que fazer, enfim: uma avalanche de informações.
Mas, sabemos que estamos em um momento em que a informação é abundante a ponto pode confundir. Assim como, por vezes, o cidadão pode se sentir perdido, os próprios jornais também se sentem em meio a uma encruzilhada de dados, sobretudo oficiais. Já falamos em matérias, a grande mídia também abordou: os governos federal, estadual e municipal não encontram um contexto único, confundindo o jornalista e, por consequência, o leitor. Tentamos traduzir toda essa avalanche da melhor maneira possível.
Porém, algo que também é falado exaustivamente, mas a população não se dá conta, diz respeito aos animais afetados pela febre. De 2017 até aqui, as notícias de macacos violentados e até mortos por ignorantes aumentam. Infectados com a febre amarela, tornaram-se alvo de agressões por quem ainda não compreendeu que macacos não transmitem a doença. Mas, e a ignorância, foi pega onde?
Ela, a ignorância, pode ser tão cruel e devastadora quanto o vírus. Transmitida de várias maneiras, sobretudo por redes sociais e whatsapps da vida, o desconhecimento e o consequente ato de crueldade com os animais é um ciclo sem fim. Sem os macacos, o controle da doença torna-se deficitário, já que são eles que fornecem informações para os órgãos de controle para auferir a magnitude, expansão e localização da doença. Com isso, evita-se que ela alcance humanos, e cria-se tempo hábil para que agentes de saúde criem medidas efetivas de combate à doença.
Por viverem em regiões de mata — alvo preferido do mosquito do tipo silvestre, por meio dos tipos Haemagoguse Sabethes –, os macacos acabam por virar “mártires” da doença. Com a febre, acabam por padecer — mas nãotransmitem a doença para humanos. Repetimos: não transmitem a doença para nós.
Com a ignorante morte dos animais, praticada por gente covarde e burra, o ecossistema se desequilibra, os agentes de saúde não têm meios para determinar o que fazer com a doença, e a população será a grande atingida pela insanidade de uns poucos. Eles estão sendo soldados, mártires, sentinelas. Por nós. E vítimas da insanidade de ignorantes.