Editorial | Nas Veias do Brasil

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por Bruno Viterbo

Também publicado no site do Jornal SP Norte, em março de 2018, e na Redação TRENDR.

Nas veias do Brasil corre o sangue da professora oprimida pelo aparato estatal quando protestava, clamava, para não perder ainda mais direitos. Mancha de rubro as paredes e o chão daquela que outrora era a casa do povo, gerida, cuspida, por quem fala muito, ladra, morde e engana.

Nas veias do Brasil corre o sangue da falcatrua orquestrada por quem tem sede de poder, e pouco lhe importa o alto crédito que o povo lhe concebeu. “Às favas!”, enquanto se regala entre sorrisos de cera em encontros de quem controla e dita o poder.

Nas veias do Brasil corre o sangue da cara de pau, ou de chuchu, de quem faz parte de uma facção que preza pelo abandono do cumprimento para o que fora convocada por quatro anos. De bicada em bicada, o voo é rasteiro, incompleto, sujo.

Nas veias do Brasil corre o sangue do cinismo de quem usurpa aquilo que nunca lhe fora dado diretamente, e lamenta a partida para as estrelas de um gênio, mas corta e freia sem decência o desenvolvimento de uma nação.

Nas veias do Brasil corre o sangue da molecagem de quem, no alto de suas chuteiras e mindinhos quebrados, se iguala àquele que pereceu incapacitado de andar e falar, mas jamais lhe fora retirada a genialidade para compreender a humanidade.

Nas veias do Brasil corre o sangue da intolerância de quem não admite conviver com as diferenças, abomina a suposta ameaça ao seu status quo, impede que se congracem na mesma torcida, em um canto que mistura nojo e hipocrisia.

Nas veias do Brasil corre o sangue de quem bajula o “cidadão de bem”, este que prega o racismo, a xenofobia, a morte, e imbuídos de sua suposta superioridade, creem que este é o salvador da pátria, quando este tem as mãos sujas de ódio e de falta de caráter.

Nas veias do Brasil corre o sangue de quem acredita que uma guerra perdida será resolvida com intervenções fajutas, orquestradas por usurpadores e usurpadoras, que atentam ao estado de direito de maneira impiedosa.

Nas veias do Brasil corre o sangue dos tiros que alvejaram uma representante do povo e suja, da cabeça aos pés, os causadores de tamanha patifaria.

Ainda assim, nas veias do Brasil corre o sangue das coisas transcendentais. Um dia nossos olhos hão de ver e sorrir o dia de graça, de uma manhã feliz com o mal cortado na raiz. Veremos o fim de toda opressão, o raiar da liberdade com as portas abertas e escancaradas ao irmão, de qualquer chão, de qualquer raça.

Chegou o áureo tempo de justiça.

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