Editorial | Serenidade em mares bravios: disrupção à vista

Jornal SP Norte
SP Norte
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5 min readApr 3, 2018

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por Bruno Viterbo

Também publicado no site do SP Norte, em dezembro de 2017

O ano, que termina em poucos dias, foi desafiador ao SP Norte. Em um contexto de economia irregular, a imprensa brasileira se vê em um momento caótico: nas últimas semanas, dezenas demissões atingiram as redações de grandes veículos de comunicação. Até Silvio Santos afirmou, na tradicional aparição na festa de fim de ano dos funcionários do SBT, que as dispensas ocorridas na emissora eram necessárias ou, se não, “teremos de fechar a empresa”.

Enquanto alguns veículos tentam travestir as demissões com expressões como “reorganização”, “reestruturação” e, a mais interessante, “integração de redações”, o SP Norte seguiu seu caminho. Para um jornal regional, nunca (foi) é fácil. Mas, talvez, a travessia é menos complicada para um “barco pequeno” em um “rio estreito” do que uma “grande embarcação” no mesmo contexto.

Rios estreitos (foto: Pixabay)

O SP Norte, como já afirmamos em alguns editoriais, sempre priorizou a qualidade da informação, em vez da quantidade. Não somente por questão estética, mas por condições: jornais regionais possuem redações enxutas, em que é preciso “se virar nos 30” para dar conta de uma área que possui mais habitantes que muitas capitais pelo mundo. E, honestamente, é impossível dar conta, sabemos — e queremos que você saiba — disso.

Ainda assim, a redação do SP Norte acredita que entrega o conteúdo mais relevante, em meio à avalanche de outras notícias — muitas delas, com pouco ou nenhum interesse público, que reforçam a caricatura interiorana de um jornal regional. Novamente: priorizamos a qualidade em vez da quantidade.

Mas, é algo indissociável: a quantidade se faz importante quando traduzida em números. Nesse sentido, afirmamos — com orgulho, é bem verdade — que (quase) dobramos o número de acessos em nosso site em relação a 2016: 92,75% mais acessos em 2017. Não é um número a ser desprezado: conseguimos, com uma redação enxuta — e, consequentemente, menos notícias — ter praticamente o dobro de acessos.

Certamente, a felicidade não é somente por conta de números. Não se engane, leitor: apesar deste fato, a web ainda é um território inexplorado em toda a mídia brasileira, e traz pouco — ou nenhum — retorno financeiro que viabilize a manutenção de uma redação. A felicidade, sim, é saber que mais pessoas estão tendo acesso às notícias. Mais informadas, mais empoderadas.

Porém, ainda que muitos decretem seu fim, o jornal impresso é predominante. Até quando? Ninguém pode dar essa resposta.

Este é um caminho sinuoso: como, em meio a nossos smartphones e notebooks, com notícias a todo momento, ainda dependemos do papel? Talvez sejamos tradicionalistas, ou apenas costumeiros. Mas, ainda assim, é o que domina — e sustenta — as redações Brasil afora. Até quando? Nós não sabemos, muito menos a grande mídia — ainda atordoada, vide as demissões em massa ocorridas neste semestre.

Em meio às fake news, resta a confiança no bom jornalismo (foto: Pixabay)

Voltemos aos números: quando comparados mês a mês, apenas em novembro o número de acessos em 2017 foi menor que o ano anterior. Foi naquele fatídico mês de 2016 que estourou a “notícia” (sim, entre aspas), do risco de desmoronamento de um importante centro de compras da Zona Norte supostamente ocorrida por um “tremor”.

Daí em diante o leitor já pode imaginar — ou se recordar: o descolamento de uma parte do piso de uma loja foi prato cheio para aproveitadores, usando e abusando de má-fé, que enviaram áudios via WhatsApp de uma “profecia” religiosa. A falsa notícia profética se espalhou, causando medo, danos à imagem, aos trabalhadores e, momentaneamente, à renda do centro de compras — em meio à proximidade do Natal.

Este dado para elucidar a importância do combate às fake news, termo tão em moda quanto absurdo: é preciso aniquilar, de todas as maneiras, a circulação de notícias falsas, em todos os níveis: do seu parente, amigo ou vizinho que lhe enche a caixa de mensagens do WhatsApp com besteiras, até aos grandes barões da mídia, vistos e lidos por milhões de espectadores.

É nesse sentido que 2018 apresenta outro desafio ao jornalismo: ano de Copa do Mundo e eleições é prato cheio para delinquentes on-line, que espalham, com a facilidade que a web oferece, notícias mentirosas. Certamente, os inocentes cairão na fatídica “notícia” de que a Copa do Mundo fora comprada — se assim o é, está desde 1998, o que configura o maior viral pré e pós redes sociais da história.

O segundo semestre de 2018 certamente será animador e tão desafiador quanto 2017 inteiro. “Bombas” serão “reveladas”, capas de “revistas” vão atacar ou elevar a imagem de outrem, jornais estamparão manchetes garrafais de declarações, os “brucutus” da web se digladiarão nas redes sociais. Em meio isso tudo, resta a confiabilidade no bom jornalismo — ele está desde os pequenos noticiosos aos grandes, e sim sabemos que é complicado distinguir o que é verdade do que é mentira. Sabe o ditado “lobo em pele de cordeiro”?

2018, ano de Eleições e Copa do Mundo (foto: Pixabay)

Ainda assim, o SP Norte seguirá seu rumo, navegando em mares bravios, mas com a serenidade de que é possível seguir outro caminho no jornalismo regional, com qualidade e confiança que o morador da Zona Norte merece.

Nos últimos anos, a partir de 2014, rompemos parcialmente com os padrões estabelecidos a um jornal local, conseguimos entregar e distribuir a notícia da melhor maneira possível — seja pela web (com a estreia do novo site, em 2015), nas redes sociais ou no jornal impresso — e obtivemos resultados que nos inspiram a botar fé na constante evolução da comunicação, mesmo que esta esteja cercada por dúvidas acerca de seu futuro — cada vez mais presente.

Se no final 2015 propomos “o jornal do futuro” para o ano seguinte; em 2016, “um novo olhar para a Zona Norte” para o 2017 que se aproximava; para 2018 propomos uma disrupção.

O termo é relativamente novo: não se trata apenas de um rompimento, nem mesmo uma revolução. É um aperfeiçoamento daquilo que já existe, por exemplo: transporte por carroças e, depois, os carros; discos e streamings de música; distribuição de jornais impressos e compartilhamento das notícias nas redes sociais.

Seja disruptivo: com seus (pre e pré) conceitos, com o que você deixa de fazer em detrimento da opinião de outrem, com aquele hábito nocivo a você (e, talvez, aos outros), enfim… 2018 é o ano da disrupção.

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