Uma análise para compreender a visibilidade de nossa região
A reflexão que estamos propondo parte não somente do que a grande mídia fala sobre nós, mas, também, o que refletimos
Uns dizem que o jornalismo está em crise. Outros dizem que o jornalismo está em seu auge. O primeiro, pela quantidade de notícias falsas e o uso massivo de meios de comunicação, sobretudo a internet. O segundo, justamente por conta da web: nunca tivemos tanta informação disponível, a qualquer hora, a qualquer segundo.
Se a web permite a disseminação de notícias, muitas vezes feitas com claras intenções de manipular o leitor, ela também permite o acesso quase sem fim a tudo que acontece ao nosso redor.
Nesse contexto, os grandes jornais ainda se adaptam para oferecer narrativas que permitam ao leitor ficar conectado — não somente à web, mas àquela história que é contada e mostrada, seja por meio de textos, fotos, vídeos ou uma combinação de elementos que tornam a experiência mais acessível.
No entanto, nada vai tirar a capacidade de escrever e envolver o leitor — mesmo que empresas estejam criando robôs que façam textos ad infinitum. A comunicação de histórias é essencialmente humana.
Temos por grande mídia os veículos de comunicação tradicionais, ou de massa. Exemplos não faltam: Folha, Estadão, Globo, UOL. Um cardápio de opções de notícias sem fim. Mas, e a Zona Norte? Como nossa região é mostrada nesses veículos?
Pensando em como o leitor consome essas notícias, o SP Norte estreia na próxima semana uma nova seção: o Manche(nor)te.
Inspirado no projeto Manchetômetro, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), o Manche(nor)te propõe realizar, periodicamente, um clipping (compilado) de notícias desses veículos de comunicação quando estes falam da Zona Norte.
Depois, a intenção é produzir análises quantiqualitativas da forma que a chamada grande mídia trata nossa região.
O SP Norte propõe, com a iniciativa, dar ao leitor regional um panorama daquilo que, certamente, ele consome mais — sobretudo por hábito, pois não faltam opções de notícias locais que mostram o dia a dia de nossa região.
Também propomos uma reflexão. A ideia de criar o Manche(nor)te surgiu, além da inspiração no Manchetômetro, que analisa as manchetes — favoráveis, neutras, ou desfavoráveis a temas como governo e economia — também veio de uma curiosidade.
Ao tomar um dos guias de final de semana de um grande jornal, que mostram opções de gastronomia e lazer em São Paulo, constatamos que entre cerca de 200 opções, apenas duas eram da Zona Norte. Com seus mais de 2 milhões de habitantes e inúmeras alternativas para todos os gostos, é negativamente surpreendente que a região tenha um número mínimo de citações em um guia de toda a capital.
A ideia de analisar a cobertura desses veículos também surgiu das pesquisas realizadas nestes. Assim como eles têm nos jornais regionais uma fonte de notícias, nós — por não possuirmos a estrutura que os “jornalões” possuem, também bebemos da fonte deles. Nessas pesquisas, algo chamou a atenção: a maioria das notícias da Zona Norte são relacionadas a crimes ou coisas, geralmente, negativas. Algo está errado — e será alvo de uma análise mais detalhada.
Diante da tendência do regionalismo e da notícia mais próxima ao leitor, esses jornais também deram espaço ao jornalismo local: a Folha possui o blog “Mural”, que mostra notícias dos bairros que estão “fora do radar”. O Estadão possui o “Blitz Estadão”, que percorre à procura dos problemas de infraestrutura em distritos da capital. A Globo, na TV, já possui seus tradicionais jornalísticos locais, há anos.
O Manche(nor)te não quer julgar o trabalho alheio, feito muitas vezes com competência e pautados em linhas editoriais mais abrangentes, que não dão espaço para o localismo que os veículos de comunicação regionais possuem. Porém, a reflexão que estamos propondo parte não somente do que a grande mídia fala sobre nós, mas, também, o que refletimos.
Será que estamos em uma bolha? Será que o outro lado do rio (o nosso lado) não é importante para os “jornalões”? Será que o nortista ficou enclausurado em seu castelo? São perguntas que todos nós, moradores da Zona Norte, devemos responder — e questionar.