A missão DART e seus impactos

Matheus Tavares de Andrade
Space Talks
Published in
4 min readOct 21, 2021

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Um panorama geral

A missão DART (Double Asteroid Redirection Test, ou Teste de Redirecionamento de Asteroide Duplo) consiste na tentativa de redirecionar a órbita de um asteroide por meio de uma colisão direta, fazendo-se uso de uma sonda espacial. Esse teste é pioneiro e, caso for bem sucedido, poderá servir como um ponto de partida para aprimorar a segurança do nosso planeta em relação a corpos celestes potencialmente perigosos.

O lançamento da sonda está previsto para o dia 24 de novembro de 2021, enquanto o choque propriamente dito ocorrerá entre setembro e outubro de 2022. É esperado que a nave atinja o seu alvo com uma velocidade de aproximadamente 6.6 km/s, o que é suficiente para diminuir o período de rotação do corpo de alguns minutos.

Créditos: https://spacein3d.com/where-is-asteroid-didymos-live-tracker/

O que é um asteroide duplo?

Um asteroide duplo ou binário consiste de um sistema composto por dois asteroides orbitando em torno do baricentro desse sistema. Comumente, a diferença entre as massas dos dois corpos é alta, de forma que se pode distinguir um componente primário (maior massa) e um componente secundário (menor massa).

O alvo da missão é justamente um sistema binário — o asteroide 65803 Didymos — mais precisamente o seu componente secundário (chamado Dimorphos), cujo diâmetro médio mede em torno de 160 m.

Por possuir uma órbita relativamente próxima da Terra e por ter o tamanho médio de um asteroide potencialmente perigoso para o planeta, Dimorphos ganhou atenção especial dos cientistas. Atualmente o binário é classificado como Objeto Potencialmente Perigoso (PHO), mas não se assuste! O asteroide vem sendo estudado com bastante foco, sua órbita é bem definida e não apresenta risco ao planeta pelo menos para os próximos 100 anos. Além disso, a deflexão em questão não proporciona um aumento da possibilidade de o asteroide atingir o planeta.

Dymorphos (esquerda) e Didymus (direita). Créditos: https://www.esa.int

A missão

A sonda estará a bordo do foguete SpaceX Falcon 9 e então será solta no espaço. A partir de então, a propulsão do DART será alimentada pela energia proveniente de um sistema de painéis solares (Roll Out Solar Arrays — ROSA), para que assim a velocidade desejada seja atingida.

O DART também conta com um payload composto por uma câmera de alta resolução (Didymos Reconnaissance and Asteroid Camera for Optical navigation — DRACO), que, juntamente com um star tracker, auxiliará na trajetória, no estudo do alvo e na determinação do local de impacto.

A bordo do DART estará também o LICIACube, um pequeno CubeSat de 6 unidades(cada unidade é formada por um cubo de 10 cm de aresta) fornecido pela Agência Espacial Italiana. Este será separado da sonda primária poucas horas antes do impacto e será o responsável por fazer os registros da colisão.

A missão contará com o apoio da Agência Espacial Europeia, que em um futuro próximo lançará uma outra nave — Hera — cinco anos após o impacto do DART para fazer um reconhecimento e uma avaliação de forma mais detalhada.

Créditos: https://dart.jhuapl.edu/Mission/index.php

A segurança do nosso planeta

Em 2016, a NASA estabeleceu o Planetary Defense Coordination Office (PDCO), com o intuito de organizar ações e estudos acerca da defesa da Terra. De forma sucinta, o PDCO tem como objetivos:

  • Detectar Objetos Potencialmente Perigosos próximos à órbita terrestre. Estes, em sua maioria, costumam se localizar a uma distância de 5 milhões de km do planeta e possuem um tamanho que varia entre 30 a 50 m;
  • Monitorar esses objetos com o objetivo de emitir alertas previamente caso apresentem algum risco iminente de impacto;
  • Planejar e estudar tecnologias para mitigarem os potenciais perigos envolvendo tais objetos.

A missão DART constitui um ponto chave nesse quesito. Além de ser a primeira missão levantada pela PDCO, é também a primeira vez que a agência norte-americana busca lançar uma nave com propósitos de segurança, visando estudar a eficácia da deflexão de corpos celestes caso estes apresentem rota de colisão com a Terra.

Localização e energia de impacto de pequenos asteroides que desintegraram na atmosfera (1994–2013). Créditos: https://en.wikipedia.org/wiki/Near-Earth_object

As contribuições tecnológicas

DART e seus principais componentes. Créditos: https://www.nasa.gov/planetarydefense/dart

Além do aprimoramento da segurança do planeta, muitos outros estudos têm sido desenvolvidos ao longo desta missão. Um deles consiste no teste do sistema ROSA, um arranjo de painéis solares com o triplo de eficiência em relação ao arranjo comum. Esse sistema alimentará um propulsor iônico, que está projetado para acelerar o propelente (composto de xenônio) a velocidades de até 40 km/s. O uso desse tipo de motor, desenvolvido pela NASA, busca demonstrar na missão a capacidade da próxima geração de tecnologia de motores iônicos, com aplicações para potenciais futuras missões.

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Referências Bibliográficas

[1] https://www.nasa.gov/planetarydefense/dart

[2] https://dart.jhuapl.edu/Mission/index.php

[3] https://www1.grc.nasa.gov/space/sep/gridded-ion-thrusters-next-c/

[4] https://spacein3d.com/where-is-asteroid-didymos-live-tracker/

[5] https://pt.abcdef.wiki/wiki/Double_Asteroid_Redirection_Test

[6] https://en.wikipedia.org/wiki/Near-Earth_object

[7] https://www.esa.int/Safety_Security/Hera

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