Estamos sozinhos?

Julia Alonso Seabra
Space Talks
Published in
4 min readSep 12, 2021

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Um questionamento cósmico acerca da vida

Ilustração artística de Kepler-186f. Fonte: https://www.nasa.gov/ames/kepler/nasas-kepler-discovers-first-earth-size-planet-in-the-habitable-zone-of-another-star

Pouco sabemos sobre a vida além da certeza de sua finitude na forma corpórea em que conhecemos. Durante gerações, povos, culturas e mitologias perpetuaram as mesmas perguntas sem respostas absolutas: “Quem somos? De onde viemos? Para onde vamos? Estamos sozinhos?”. Perguntar sobre solidão em um contexto de isolamento social parece ter uma resposta óbvia, apesar da quebra de fronteiras geradas pela globalização, a solitude nunca se mostrou tão palpável. Transpondo a situação individual contemporânea para o cenário cósmico, a falta de comunicação extraterrestre até o presente seria capaz de instituir nosso exílio em meio a um universo tão vasto?

Em nosso sistema solar, a Terra é o único corpo celeste conhecido por apresentar todas as características necessárias para a existência de vida dentro dos aspectos habituais. Embora o exato processo de formação da vida terrestre não seja algo conhecido, compreende-se que a presença de moléculas orgânicas, água na forma líquida e fontes energéticas são fatores indispensáveis para a presença de vida. Por meio dos avanços tecnológicos no setor aeroespacial, novas descobertas a respeito do nosso sistema solar têm permitido iniciar indagações sobre a possibilidade de encontrar vestígios ou características que permitam a formação de vida em outros planetas e satélites naturais. Esse é o caso de planetas como Vênus e Marte, e luas como Europa, Titã, Calisto, Ganimedes e Enceladus.

Estudos sobre a atmosfera de Vênus mostraram componentes de fosfina, um gás produzido por bactérias terrestres. Entretanto, a descoberta não é o suficiente para comprovar a forma de vida bacteriana em Vênus, as condições climáticas e atmosféricas hostis do planeta são pontos negativos para que isso seja provável. Já o planeta vermelho tem se mostrado promissor quanto à possibilidade de vida no passado. Apesar de sua superfície desfavorável, devido aos constantes impactos de ventos solares e de radiação, missões já comprovaram a presença de água líquida na superfície marciana há bilhões de anos, o que leva ao interesse de investigar a superfície do planeta e seu subterrâneo em busca de vestígios de vida. Outros astros significativos na busca pela vida são as luas Europa, Ganimedes, Calisto e Enceladus, que contém oceanos de água líquida por baixo de crostas glaciais na superfície, e a lua Titã, de Saturno, que possui um ciclo hidrológico similar ao da Terra, mas composto por outros componentes diferentes da água. Contudo, ainda são necessárias mais missões para obter resultados conclusivos sobre as características intrínsecas desses astros.

Mesmo que as investigações no sistema solar não tenham sido suficientes ainda para a comprovação de vida extraterrestre, a análise de exoplanetas, planetas localizados fora do sistema solar, pode levar a novas descobertas. Exoplanetas são caracterizados em diferentes tipos, dentre eles, planetas similares à Terra, isto é, que contenham metais e estrutura rochosa, podendo ou não possuir oceanos e atmosfera. Contudo, mesmo apresentando similaridades, são poucos os exoplanetas conhecidos atualmente que possuam capacidade para conter vida. Em 2014, o Kepler-186f foi um marco científico por ser o primeiro exoplaneta descoberto que orbitasse na “zona habitável” de sua estrela, a anã-vermelha Kepler-186, e parecesse ter semelhanças com a Terra. Nesse sentido, o planeta se demonstrou um forte candidato a apresentar formas de vida como as que conhecemos, porém análises mais recentes acerca de sua estrela demonstraram a possibilidade de altas concentrações de silício na crosta planetária, tornando a superfícies rígida e deserta.

Além da busca por astros similares à Terra, uma outra forma de procura pela vida tem sido a investigação e detecção de ondas e sinais por meio de telescópios, sondas e missões. Nesse âmbito se destacam as sondas da missão Voyager, que foram lançadas em 1977 com o objetivo primário de realizar estudos sobre os planetas gasosos. Após a conclusão desse objetivo, as sondas Voyager 1 e Voyager 2 iniciaram outra missão: a interestelar. Atualmente essas espaçonaves são os objetos humanos mais distantes do planeta, tendo ultrapassado a heliopausa na última década.

Ilustração das sondas Voyager 1 (acima) e Voyager 2 (abaixo). Fonte: https://voyager.jpl.nasa.gov/galleries/illustrations/#gallery-4

Um dos componentes mais significativos para a comunicação espacial contido nessas espaçonaves é o Disco de Ouro, um disco que contém músicas, sons da natureza, imagens da Terra e saudações em diversos idiomas, juntamente com instruções em linguagem simbólica que contam a história das sondas e as instruções de funcionamento do disco.

Capa do Disco de Ouro e suas instruções. Fonte: https://voyager.jpl.nasa.gov/golden-record/golden-record-cover/

Em meio há tantas descobertas e avanços, as mesmas perguntas existenciais de outrora continuam sem respostas. Não sabemos para onde vamos, de onde viemos e se estamos sozinhos. Talvez as sondas Voyager vaguem infinitamente por um universo inóspito ou então podemos descobrir vida ou seus vestígios em nosso sistema solar dentro de alguns anos. Porém, assinalar a condição terrestre como singular em meio a imensidão do universo parece soar como mero desconhecimento, afinal, como dito por Isaac Newton, “o que sabemos é uma gota; o que ignoramos é um oceano”.

Referências Bibliográficas

[1] — https://cneos.jpl.nasa.gov/about/life_on_earth.html

[2] — https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1674987118302123

[3] — https://exoplanets.nasa.gov/news/1665/life-in-our-solar-system-meet-the-neighbors/

[4] — https://exoplanets.nasa.gov/what-is-an-exoplanet/planet-types/overview/

[5] — https://revistapesquisa.fapesp.br/duros-e-sem-vida/

[6] — https://voyager.jpl.nasa.gov/mission/

[7] — https://voyager.jpl.nasa.gov/golden-record/

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