Ilustração: daisukerichard

Lofi hip-hop: Um reflexo da nostalgia, depressão e futuros cancelados

Allan Mendes
Speculous
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14 min readOct 18, 2018

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O som das teclas de computador tateiam o ar em volta da sala. Os cliques dos mouses, orquestrados, exploram com o mesmo ritmo o cenário do escritório.

Antes mesmo de começar esse texto, pego um pedaço de bolo, um copo de café, boto meus fones de ouvido para tocar um mix de um dos milhares de canais de livestreams de lofi hip-hop que existem no Youtube.

Logo após entrar em um desses canais, uma música tranquila com sons de teclados mecânicos e beats abafados nos dão uma sensação nostálgica de um tempo em que as coisas eram mais simples e fáceis de lidar.

Às vezes, algumas das músicas começam com conversas casuais que parecem ter sido capturadas de ligações de telefone por fio, cheias de ruído e distorções que dão um ar poético e de importância para aquela exata voz.

Afinal, era tão bom aquela época em que não andávamos com eletrônicos em nossos bolsos e mãos, nos vigiando e deixando ansiosos 24 horas por dia, na rua e em nossas camas.

Toda essa sensação de liberdade contrasta com a imagem que o vídeo nos mostra: uma garota, ouvindo essas mesmas músicas com fones de ouvido, entediada por ter que estudar 24/7, podendo apenas olhar para seu gato e a vista de sua janela, talvez vendo o quão divertido seria aproveitar o dia ensolarado ou a noite iluminada lá de fora.

Essas descrições arranham um pouco do gênero musical chamado lofi hip-hop, que anda tocando em diversos canais de streaming do Youtube, plataforma que arrastou desde 2017 mais de 1 bilhão de ouvintes ao menos uma vez, onde também 85% dos jovens de 13-15 a utilizam para ouvir música. Seguindo a mesma fórmula dos canais de remixes como o Suicide Sheep e Majestic, canais de lives começaram a aparecer na plataforma junto com músicas independentes jogadas no Soundcloud.

Logo essa facilidade de acesso ao gênero e semelhanças ao nosso coletivo cultural, recheado de cultura pop e nostalgia, diz muito sobre como experimentamos música atualmente, revelando um cenário onde a transformação dessa mídia em um commodity, como pode ser visto na atuais batalhas entre a Amazon, Apple e Spotify e seus serviços de assinatura.

Traçar a história do gênero é difícil, pois mesmo que sua explosão tenha sido recentemente em 2017, aquela mesma experiência da anonimidade vista no vaporwave é vista aqui, onde seus diversos criadores soltam na web seus trabalhos sem deixar traços ou nomes, deixando apenas diálogos em seus subreddits e servidores de Discord.

Podendo ser feitas com programas de som simples de achar na rede — e muitas vezes pirateados — como Fruit Loops ou Ableton, as músicas desse gênero visam construir essa sensação de nostalgia e inocência, ideias que são melhor explicadas neste vídeo do Quadro em Branco.

Esses sons de chuva, chiados de disco de vinil arranhados e fitas K7, diálogos carinhosos de casais mergulhados em batidas similares as que vemos no hip-hop, essa sensação acaba se adequando como uma música de fundo por não trazer uma complexidade alta de instrumentos ou letras extensas como vemos em outros gêneros, mas sem se aproximar a outros tipos de distorcidas ou de ambientes similares m shoppings e elevadores (território que o vaporwave dá conta).

Tendo em seu nome o hip-hop, um gênero marcado pelas letras agressivas contra todas as injustiças sociais e desigualdades, tem aqui suas batidas misturadas com esses sons calmos, criando um cenário melancólico para podermos então descansar os olhos, tomar um fôlego e dai então seguir em frente.

Seu caráter atemporal consegue conquistar diversos corações que anseiam paz, revelando um estilo musical que consegue conversar com diversos outros. Ainda assim, sua identidade é perceptível que ganha novas camadas quando avaliado mais de perto:

  • As poucas letras falam de saudades, como os de tempos mais simples como a infância onde nosso universo imaginário era bastante compartilhado com as animações da Disney;
  • Diálogos de filmes, com trechos falando de amores não correspondidos, ou apenas o suficiente para setar um humor melancólico para a música;
  • GIFs das animações de Makoto Shinkai ou do Ghibli recheiam os diversos vídeos, animes ou até mesmo de ilustradores independentes, que compartilham uma mensagem de inocência e solitude.
  • Quase sempre o gênero se mistura com outras identidades, como o próprio lo-fi (visto com a Clairo), e outras com Soundcloud Rap (XXXTentacion), com letras que retratam solidão e, não raramente, depressão e suicídio.

Todas essas características criam o clima principal do gênero, conseguindo representar principalmente sua audiência nascida nos anos 2000 que está chegando no auge de suas juventudes agora: Um período de emoções fortes e de formação de identidade, conceitos que ficaram cada vez mais complexos em um mundo definido pela hegemonia das mídias sociais, e onde a possibilidade de conhecer e pertencer a um grupo se ampliou por conta dos estilos e ideias que podemos encontrar na web.

Menção honrosa ao Pogo e seus samplings audiovisuais e nostálgicos

Sim, essas letras falam de nostalgia para um público de 20 anos, ao mesmo tempo em que fala de saudades para mim com meus 27. Esse detalhe é o suficiente para poder afirmar que sim, pessoas jovens conseguem sentir nostalgia, principalmente em um mundo de registros digitais e obras importantes como "Princesa Mononoke" e "Aladdin" continuam a refletir até hoje em nossas identidades e memórias.

Essa mesma velocidade de informação que a internet nos permitiu, deu também a liberdade de acharmos coisas que amamos e que tivemos que largar por conta da passagem do tempo (ou porque tiveram que ser canceladas), virando um reflexo de nossos "eus" passados a céu aberto, onde podemos reviver partes do que nós quando nos convém.

Existem os prós e contras dessas possibilidades e filosofias, dando indícios de que as teorias de "cancelamento de futuros" e "realismo capitalista", construídas pelo Mark Fisher — também conhecido como "k-punk" — , possam estar acontecendo.

Nos livros "Ghosts of My Life" e “Capitalism Realism", Mark explica de que como a sociedade neoliberal prevê soluções de curto prazo e respostas imediatas para sua economia, possibilidades para reinventar o futuro ou ideias que possam ameaçar estruturas já formadas são geralmente descartadas, impossibilitando mudanças drásticas. Isso interfere diretamente ao imaginário coletivo, limitando a possibilidade de sonhar algum tipo de futuro diferente, cancelando possíveis mudanças e criando uma eterna manutenção dos sistemas atuais, independente de seus defeitos.

Esse mesmo neoliberalismo, comentado por ele, gerou uma sociedade de excessos, sejam audiovisuais e informacionais, gerando uma multiplicação de estímulos dentro de uma sociedade que além de ser cobrada por um melhor desempenho sempre, cria pessoas emocionalmente desestabilizadas e deprimidas, revelando alguns motivos do aumento de suicídios entre jovens e adultos.

Tais conceitos são melhor explicados no livro "A sociedade do Cansaço", escrito pelo professor de filosofia de Berlim, Byung-Chul Han. Nele, vemos porque o lofi hip-hop acaba sendo o gênero desse público; Assim como a garota do vídeo, passamos 24/7 estudando, trabalhando e consumindo mídias e ouvindo lo-fi, pois é um gênero fácil de escutar e os nomes das músicas e artistas são efêmeros, dando uma sensação de continuidade definitiva independente do que toque depois.

Isso pode ser entendido também como um reflexo hauntológico, termo cunhado pelo filósofo Jacques Derrida de que o presente está sempre misturado pelas antecipações do passado e pelos vazios dos futuros não preenchidos, assim como uma nota sozinha em uma música não faz ritmo. Dessa forma, só podemos entender o passado compreendendo o futuro, e só podemos ver o futuro interpretando o passado.

Em relação com as ideias ditas por Mark Fisher e com o conceito de hipernormalização chegamos ao campo cultural atual, mostrando os motivos de porque estarmos revivendo estéticas dos anos 80, mesmo que não tenham sido vividas, só para não lidarmos com as ansiedades do futuro.

Isso não só nos mostra os motivos de estarmos vivendo clichês como os vistos em "Ready Player One", "Stranger Things" e tantos reavivamentos de franquias antigas famosas como "Star Wars", mas como monta os cantos do quebra-cabeça de estarmos em uma onda tão severa de fascismo e intolerância, refletindo o desejo de pessoas a um tempo passado não vivenciado, residindo e construindo uma ficção em torno dela e a chamando de real.

Apesar de tantos desenvolvimentos econômicos e tecnológicos, o social revela o mesmo low life antes previsto em ficções anteriores e uma realidade que comprova que muitos desejam reconstruir passados falsos, como se a História pudesse ser vivida como um vídeo editado e muitas de suas consequências, ignoradas.

Agora você já deve ter percebido de onde veio minha curiosidade em abordar o gênero. Ele retrata tão fielmente a face de uma juventude que luta para se expressar, sejam sobre suas tristezas de viver em um mundo desigual, suas alienações parentais, bullying ou de suas dores causadas pela depressão e ansiedade desse mundo capitalista tardio, ao mesmo tempo que nos bota na segurança de uma repetição — como os gifs de seus vídeos — .

Porque sinto tanta saudade? Porque estou tão ansiosa?

Não quero dizer que revisitar o passado e usar da nostalgia seja um ato nocivo, ainda mais porque o lofi hip-hop consegue nos botar em um lugar de silêncios e paz, para podermos então refletir onde estamos e o que estamos fazendo conosco, enquanto nos permite olhar o espaço em volta e sentir, independente do sentimento, tudo que está acontecendo.

Vemos então um espaço de cura e união tanto nas suas melodias e nos chats presentes do Youtube, em um tempo aonde carinho e compreensão nunca se fez tão necessário.

Em um mundo construído em filtros e edição que representam uma realidade esterilizada, sejam nas fotos ou no áudio dos pops atuais, o lofi consegue ir nessa contramão e abrir um espaço onde os erros e chiados, mesmo artificiais, criam um espaço aonde podemos ser aceitos e relembrar nosso curto passado analógico.

Comecei esse texto para tentar arranhar um pouco do lofi hip-hop e de mostras sua importância, como um produto crítico e reflexo de nossa história dos anos 10. Após ver algumas similaridades, muitas vezes melancólicas, comecei a achar alguns padrões de artistas e comportamentos que possam ter levado a ascensão do gênero, servindo como possível base criativa para ele.

Muitas das músicas que irei apresentar não são do gênero lofi hip-hop e talvez não façam links diretos com o gênero, mas afirmo que pavimentaram um espaço fértil para que seus admiradores reconhecerem o estilo como sua casa.

Nujabes

Sim, ele mesmo. Jun Seba, mais conhecido como Nujabes, ficou conhecido para o público ocidental por sua participação irreverente no anime Samurai Champloo, famoso pela qualidade da animação, roteiro, e principalmente por sua trilha sonora.

Somando diversos conhecimentos musicais, suas habilidades de mixagem criam um estilo de hip-hop único, que contrasta batidas fortes e rítmicas com flautas, instrumentos orientais e vocais calmo. Suas habilidades pavimentaram um espaço entre os fãs de músicas ambientes e com o estilo de scratchs e beats do hip-hop, que deram a ambos estilos uma profundidade de texturas e a capacidade de transforma-lo em um som ainda mais colorido e contemplativo.

Até hoje suas músicas somam milhões de vizualizações no Youtube, que são alcançadas geralmente por remixagens lofi e até mesmo pelas listas de recomendações automáticas.

Ativo de 1996 a 2010, Nujabes fez história. Infelizmente breve, pois faleceu com 36 anos em 2010 em um acidente de carro. Mas Nujabes ainda vive em ondas sonoras, ganhando várias homenagens de seus colegas e até mesmo um álbum póstumo com algumas músicas inacabadas sendo finalizadas por eles.

Burial

Burial é um DJ e compositor de dubstep e eletrônico, autor de um dos álbuns mais influentes do século XXI segundo vários críticos, inclusive tendo admiração do próprio Mark Fisher.

Ativo desde 2001 como DJ e produtor, lançou em 2006 seu primeiro álbum homônimo, mas alcançou maior sucesso com o seu álbum Untrue, feito em duas semanas através do programa Sound Forge em 2007.

Suas batidas abafadas, sons de chuva e vocais levemente distorcidos criam um espaço semelhante ao que vemos no lofi hip-hop 10 anos antes de sua explosão. Essa sensação de desenhar com sons de videogame e músicas pop climas sombrios criam um espaço de relaxamento, ao mesmo tempo de nos fazer aceitar a beleza que a escuridão — e até mesmo o medo dela — pode nos dar.

Recluso, sempre evitou os holofotes e mídias sociais, gostando do tom poético de sua anonimidade, o que contribuiu com seu tom melancólico e obscuro de suas músicas. Recebeu prêmios do The Sun e da revista Wired mesmo quando sua identidade era desconhecida, que foi revelada brevemente depois ser um rapaz chamado William Emmanuel Bevan.

Burial comentou que para não raramente fazia o teste “Dirigindo de carro na madrugada”. Ele entregava alguma de suas músicas em CDs e dava para seus colegas poderem ouvir no carro enquanto voltavam para casa depois do trabalho. Caso eles gostassem do som e vissem que elas se adaptavam bem ao ambiente escuro, de luzes embaçadas pela névoa e chuva, Burial via que então sua “música cumprisse sua função”.

Fã de jogos, principalmente Metal Gear Solid, falou que adiaria alguns de seus trabalhos porque Dark Souls II iria lançar, muitas de seus samples são perceptíveis nas edições, contribuindo para o tom nostálgico-subliminar de seu som.

Burial continua sendo um enigma até hoje, mesmo com suas parcerias com artistas e bandas famosas como Massive Attack e Thom Yorke, ele continua em low profile, lançando raramente EPs de uma ou duas faixas em anos inconstantes.

Shiloh Dinasty

Sem Shiloh, nada disso seria possível.

Dona da voz mais famosa de todo o lofi hip-hop, Shiloh Dynasty é uma lenda na história do gênero, tanto pela sua graciosa habilidade vocal e lírica tanto quanto na forma que apareceu e desapareceu, deixando um mundo questionando sobre sua origem e identidade de gênero.

Ficando conhecida através do Vine, plataforma descontinuada que servia para upar vídeos que faziam loops de curta duração, sua história começou no final de 2014 quando postou o seu primeiro, ficando logo conhecida por suas habilidades musicais e atraindo legiões de fãs e somando até então milhões de seguidores e visualizações.

Shiloh tem um tom extremamente dócil, usando letras que falam sobre amores não correspondidos cantadas a um som acústico de violão ou com batidas de jazz hip-hop. Suas habilidades seriam emprestadas em breve para diversos artistas ao redor do mundo, sendo sampleadas para músicas de vários estilos e, o mais notável, o lofi hip-hop.

Apesar do sucesso massivo, Shyloh nunca divulgou sua verdadeira identidade, sendo uma pessoa totalmente anônima, um direito e uma raridade em uma geração monitorada pelas redes sociais.

Sua última aparição foi em 13 de setembro de 2016 em uma postagem do Instagram, nunca mais dando nenhuma notícia em qualquer outra mídia social, dando origem a um boato virtual de que ela cometeu suicídio, o que leva em consideração a imaginação de seu público e o teor de suas músicas.

Mesmo com seu desaparecimento, suas playlists no Spotify continuam crescendo, assim como suas visualizações e seguidores no Instagram oficial e em remixes e samplings no estilo do lofi.

Sua fama ficou ainda maior quando em 2017 o rapper XXXTentacion usou samples e remixes dela em 3 de suas músicas, “Jocelyn Flores,” “Carry On,” e “Everyone Dies in Their Nightmares”.

XXXTentacion

Dor. Violência. Esperança. A história do XXXTentacion é a mais complexa e dolorosa de se comentar aqui.

Sim, XXXTentacion acabou cruzando caminhos com o gênero lofi hip-hop, ainda mais porque ele produzia músicas em 2017 e tinha a mesma faixa etária de seu público.

Se identificando mais com o Soundcloud/emo rap, X era famoso por misturar diversos gêneros musicais e ter uma habilidade impressionante em seu liricismo, revelando uma produção musical excepcional, gerando um lofi não emulado e resultando músicas em formatos brutos e mensagens pesadas.

Tendo uma infância conturbada, apresentava sinais de depressão e agressividade, tendo a maior parte de sua história pública marcada por seus acessos de raiva e autodestruição a um ponto impossível de desassociar sua personalidade a seu trabalho. Foi preso duas vezes sendo acusado de assalto e diversas agressões de sua até então sua namorada, revelando-se uma pessoa não raramente cruel, covarde e incapaz de lidar com os próprios sentimentos.

Suas letras falam de suicídio, desencontros amorosos, abuso de drogas e violência, mas ainda assim conseguiam ultrapassar essas barreiras e inserir críticas sobre os diversos problemas raciais e até mesmo mensagens de positividade. Seus dois primeiros álbuns foram sucessos estrondosos tanto pela crítica e seu público. Fã de jogos como LoL e animes como Naruto e One Piece, X ainda era um jovem de apenas 18 anos que cresceu de um modo acelerado em um mundo afogado na exclusão e da nova geração do digitalismo.

Não é raro ver o mesmo modelo de vídeos e fundos musicais de lofi misturados com rap e screamo, mostrando que nessa geração interconectada e ágil, artistas de ambos gêneros influenciados do lofi também participam.

Sua música onde ficou mais evidente sua admiração pelo lofi-hip hop e principalmente pela Shiloh é a “Jocelyn Flores”. Nesta música, ele homenageia a jovem Jocelyn, uma garota que ele chamou para fazer um ensaio de moda para uma grife que ele lançaria em breve. Após breves desentendimentos por um suposto roubo, mandou a garota de volta para sua casa para evitar problemas.

Porém, seria a última vez que Jocelyn seria vista viva por nós. A jovem de apenas 16 anos sofria de um quadro crônico de depressão e cometeu suicídio em um quarto de hotel momentos depois.

Após a música lançada, seu caso ficou conhecido e virou um símbolo para diversos grupos de apoios virtuais para pessoas tendências suicídas. Apesar de não ser recomendado o apoio de pessoas despreparadas, o mínimo contato e compreensão podem ser úteis para evitar que medidas extremas aconteçam.

Seu ódio a essa identidade passada imersa em tantos problemas e negatividade foi bastante aparente em seu último ábum “?”, lançado em 2 de março de 2018. No clipe lançado postumamente de sua música “SAD!’, X aparece com seus dreads azuis, simbolizando sua esperança e positividade que estava se dedicando desde então, no enterro dessa persona passada.

Em 28 de setembro X foi assassinado a sangue frio após sair de um mercado em seu carro. Os assassinos, membros de uma gangue, chegaram a fazer posts no Instagram de momentos antes de dispararem os tiros e fazerem lives rindo e se divertindo com o dinheiro roubado depois.

Foto: Jason Koerner

X serve como um exemplo dessa juventude digital que vive atualmente, capaz de atos impressionantes e ainda assim, tão efêmeras e fortes, além de demonstrar um problema endêmico que a depressão, ansiedade e suicídio estão causando em suas vidas, lhes deixando apenas a músicas e poucos amigos possam lhes abraçar.

O objetivo de mostrar essas influências e artistas foi depara fazer uma trajetória e mostrar sinais similares, positivos e infelizmente trágicos que bordaram o caminho de um gênero tão delicado e prazeroso. O lofi hip-hop consegue ser um monumento preciso para compreender o nosso psicológico atual, fazendo sua própria interpretação da nostalgia com materiais ainda mais atuais e diegéticos com nosso cotidiano.

Tirando toda ironia e crítica ácida do vaporwave, o lofi deixou alguns ideias desse estilos mais leves e práticos, criando um mundo confortável para podermos recuperar um pouco de fé em nós, no mundo e em uma comunidade.

Como o próprio Mark Fisher afirma em seu artigo afrofuturismo e hauntologia, esse tipo de visão vem como uma possibilidade de fugir das mesmices e vícios de nossa época e mostrar que sim, existem futuros possíveis mesmo que através de visões do passado.

Amo de coração o gênero e como ele preenche minhas noites e madrugadas de insônia. Apesar do tom pesado, vejo o gênero cheio de esperança para possíveis mudanças, sejam sociais, políticas e principalmente criativas dessa juventude, como podemos ver sua influência no trabalho da Ana Gabriela. O estilo continua demonstrando uma enorme força cultural e simbólica, e continuará eternizado e sendo lapidado nesse mundo virtualizado como uma jóia furta-cor.

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Allan Mendes
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Designer, teacher and foresight researcher. Posts about rabbit holes, cyberpunk and the zeitgeist