Essen 2023: Antes tarde do que mais tarde (Parte I)

Israel Fonseca
Spiel des Djows
Published in
10 min readDec 18, 2023

Então, Essen 2023 já acabou, já tem vídeo no YouTube a rodo, cheio de texto de quem já foi e nós como sempre, mandamos conteúdo atrasado. É o que tem pra hoje (risos). Porém, o motivo é mais nobre já que logo após Essen já emendei minha viagem pro Brasil. Me acompanhe na cronologia dos melhores momentos, e se quiser acompanhar a versão vídeo não perca os Stories do Instagram, mas essa versão em texto é pra galera old-school que quer letrinha (cico, não esqueci de ti!).

PS: Sim, além de demorado, vou dividir esse relato em múltiplas partes, assim vocês não ficam de saco cheio e eu posso enrolar ainda mais para entregar as próximas. O PATRÃO VAI FICAR FURIOSO.

Dia 0: Véspera

A véspera é dia de sair de Den Bosch (minha cidade), rumar de trem para Eindhoven (19 minutos) e pegar o ônibus até a Essen (2 horas de viagem). Dessa vez fui de caravana com meus amigos de jogatina tupiniquins de Eindhoven. Essa viagem foi bem barata, 7 euros do trem + 11 euros do ônibus. Se converter saiu mais ou menos o preço de Joinville — Tubarão. Muito melhor do que os 4 trens que peguei da última vez (e que me perdi).

Patrícia e Levi: o grupo de elite do Boardgame Holandês de Eindhoven™

Na ida já teve a beleza do hobby em toda sua glória. Estava fazendo a cobertura live no Instagram (que você pode acessar aqui), quando recebi a mensagem de um seguidor do canal dizendo que estava… no mesmo ônibus! Eis que conheci o Sr. Diego, do canal esportenamesa que descobri não só ter amigos em comuns, como ter nascido na mesma cidade!

Hobby se pagando já na largada.

Logo em seguida, já em Essen, cometemos a breve-gafe de quase entrar num CASSINO achando que era uma loja de jogos. O Alemão falhou miseravelmente. Após essa derrota nos separamos já que cada um deveria rumar para a sua hospedagem.

Meu AirBNB do ano passado dessa vez virou contrato particular e como já fiquei amigo dos alemães rolou até uma boa confiança de deixar a casa sozinha comigo em alguns momentos. #ValeuAPena. Isso tudo a 1,5 km da feira tornando possível ir a pé, ou no meu caso de patinete elétrico alugado na rua com app de celular.

Por 6 euros, coloco um crédito de 60 minutos e posso andar "pingado" pela cidade, guardando o restante do crédito para depois. Vale muito a pena.

Como cheguei cedo, a tarde ficou livre então decidi fazer um passeio mostrando as redondezas da feira nos Stories do Instagram. Achei a identidade visual do evento muito boa, e quando fui pesquisar a respeito descobri a polêmica da vez: elas foram feitas com IA.

Consegue ver os dedos bizarros, a perna cruzada desconexa, e a proporção esquisita dos corpos? Passando os olhos rapidamente achei bem bom, confesso. xD

Como era de se esperar, descobri a polêmica que isso estava gerando na internet sobre, já que um evento de tanta magnitude deveria ter orçamento para pagar um artista para fazer 5 desenhos. Polêmica válida. O que vocês acham disso? Eu particularmente acho que não precisa-se de "caridade" com o Artista (dura realidade), mas ao mesmo tempo vai sim ter um trabalho muito piorado (ao menos por enquanto) e vai do público se importar ou não.

Passeio terminado, fui jantar uma pizzazinha e voltei para casa dormir cedo e preparar-me para a abertura.

Foi aí que me dei conta que talvez meu orçamento fosse ser transformado em comida. Spoiler: pizza brasileira sempre superior.

Dia 1: Quinta-Feira (Abertura)

Primeiro dia: queria chegar cedinho pois… Civolution (O civ game do Stefan Feld )! Queria ser um dos primeiros a chegar no estande e reservar meu horário para Playtest na tarde, e não é que consegui? Tive a honra de ser um dos primeiros playtesters públicos do mundo. Eis aqui meu micro-nano-review:

Protótipo usando componentes reciclados de outros jogos, podem mudar quando for lançado em Essen 2024 (provável data).

O Bom

  • Gostei do tema: somos estudantes num futuro cybertech, fazendo a simulação de uma Espécie/Civilização. A arte do Dennis Lohausen aqui caiu bem, o que é a redenção do Bonfire que recebe o Selo Spiel des Djows para "Euro seco mais temático, porém com um tema altamente desinteressante que encalhou nas prateleiras Brasileiras". Da para sentir o tema no jogo através das mecânicas, como por exemplo, melhorar atributos da nossa espécie, que no meu caso tinha habilidades de fala avançadas e que com isso poderia jogar uma carta chamada Política que dependia desses atributos. Isso fora todo o pacote básico de construir coisinha pelo mapa, não precisa de ginástica mental que nem ocorre com o Bonfire (apesar de ser bem temático, se você leu o backstory do jogo).
  • Dadinhos? Quero: Eu curto dados, então se o jogo tem isso já me chama a atenção, aqui os dados são usados para fazer a seleção de ações. Você sempre usa 2 dados para escolher uma das 15 ações disponíveis (e.g: dado 1 e 5, quer dizer que você pode fazer a ação da linha 1 e coluna 5 como a foto mostra). Você rola isso no início da roda e tem que se virar com o que tem. Existem formas de mitigar isso com marcadores de "cultura" para alterar seu dado.
  • O pacote Civ está aqui: alterações no clima que podem gerar fome, tem que alimentar o povo, você pode caçar (que é mais fácil ou difícil dependendo do território), você explora as regiões para encontrar novos tipos de recursos (ficha oculta que só é revelada quando tu chega), cartas de evento por rodada (típico), construir coisas como templos, fazendas e barcos, e por aí vai.
O jogo também é card based. Aqui temos 2 tipos (mas tem outras). Na esquerda uma carta de "Invenção" chamada "Roupas" que precisa de até 2 algodões e uma espécie com "Destreza" melhorzinha (nível 2), se fizer isso ganha prestígio imediatamente e uma condição nova de pontuação. Do outro lado temos uma "Mutação" chamada "Rabo de Macaco" que depende um nível ainda maior de destreza (2 + 1), mas que melhora permanentemente a ação de "Produção" do jogo (que são tiles que do seu board pessoal que podem ser evoluídos).

O Ruim

  • Precisa de um campo de futebol para montar o jogo, e mesmo com isso, de forma impressionante, o setup nem parece um problema tão grande.
  • Tem um cheiro de Bios Origins: tem milhões de coisas, para poder justificar o tema, mas se for ver mesmo, no que diz respeito a diversão líquida, pode ser considerado só gordura. Exemplo: existem 16 tipos de recursos diferentes, mas é aquela coisa tipo banquete de Odin e suas 50 ações que talvez nem sejam usadas.
  • A interação tá lá com corridinhas por recursos das regiões e… não lembro mais (risos). Esse é o problema de escrever um review tanto tempo depois, mas lembro que achei estar faltando um temperinho, não espere pancadaria e que eu lembre nem tem “guerra” propriamente dita, mas acho que da pra “chutar” os Meeples dos lugares. Bem suave.

Nota 8, comprarei com toda certeza e quero jogar mais. Vai vir com modo solo para os forever-alone.

Ainda no mesmo dia, consegui conversar um pouquinho com o que se tornou meu "casal favorito de designers", Saashi e Takako da Saashi e Saashi, a empresa que talvez só eu e o Lucas Fratini conhecemos no Brasil. Tive uma interação muito bacana, pois comprei o jogo Come Sail Away recentemente, direto de Kyoto para Holanda e que chegou em 2 dias, mas que veio faltando um meeple verde. Troquei e-mails com o suporte, que é gerido pelo próprio Saashi (literalmente uma empresa familiar), e combinamos de entregar em Essen já que ambos estaríamos lá. Estar lá, por si só já foi bastante coincidência, já que eles estariam vindo juntos da Oink e a itten (as editoras Japas mais famosinhas) pela primeira vez. A conversa por e-mail foi razoavelmente longa, inclusive com ele comentando que estava na correria para finalizar umas revisões do novo jogo, que eu acredito ter vindo a ser o Newsboys.

Chegando lá, antes de perguntar sobre a minha pecinha, passei o rodo no estande já que a fila tava grande. Comprei quase tudo da Oink (posteriormente vendido pra Família Polenta, grato por financiar essa viagem) e tudo da Saashi & Saashi. O estande que era gerido só por japoneses, tinha todo o charme que um Otaku (fã de cultura japonesa) pode querer: japoneses que não falam inglês, mas tem uma simpatia/respeito mais de 9000 com todos os estereótipos dos animes. A moça no caixa ficou impressionada comigo comprando tudo, e estava muito agradecida, me atochando de brindes pela quantidade de compras. Logo na sequência perguntei se eu podia falar com o Saashi (que estaria ali em algum lugar) para poder pegar a pecinha faltante, e não é que a moça era a própria Takako (artista e esposa dele)! É chuva de coincidência minha gente. Ela comentou então que eu era o "rapaz do e-mail" no seu inglês super limitado (auxiliado pelo app do celular) e ficou fazendo a clássica desculpa japonesa de ficar se curvando, tudo isso pelo Meeple verde que veio faltando. Tudo resolvido, consegui tirar a foto com eles, pegar a pecinha e ter os respectivos autógrafos.

Esse Meeple verde faltante rendeu uma boa interação.

Obviamente, continuo em busca do meu achievement pessoal de tirar foto com todos os grandes designers do mundo (e alguns obscuros), então no primeiro dia não podia faltar, fica aí o registro do resultado do dia.

Aaron Haag (Yunnan), Jun Sasaki (Oink Games), Stefan Feld & Ulrich Fonrobert (Euro Secos sem Alma), Saashi & Takako (Saashi & Saashi), Ignacy Trzewiczek (Imperial Settlers)

Conclusão do Dia 1

Comprei várias coisas, inclusive o que eu não esperava comprar, breve lista e as notas.

  • Marrakesh Deluxe (Nota 9): O Barba inocentemente comentou comigo sobre esse jogo no Instagram, acabei comprando um novo no mercado livre Holandês, e fiquei fissurado. GOSTEI MUITO MESMO. Aquela torre de cubos e uma maravilha. Gostei tanto que pensei comigo mesmo: "preciso da versão Deluxe". Eis que por causa de uns problemas de entrega do Cuzco do City Collection, acabei ganhando um cupom de 20 Euros +10% de desconto (combado). Então acabei comprando o Deluxe, meio que no mesmo preço de quem comprou na época do KS e ainda assinado pelo mestre. Oportunidade única.
  • Kutná Hora (Nota 9, talvez o melhor jogo do ano!): Comprei as cegas só pelo hype da galera. Jogo com visual Deluxe (apesar da campa de Tampa de Bueiro como o Arthur bem comentou) e uma nova tecnologia de tokens de madeira em alta definição. Joguei recentemente 2 partidas seguidas, e meu deus, que jogaço, muita interação, temático até onde é possível pro estilo e com uns "gimmicks" inovadores. Fiquem de olho, recomendadíssimo!
Da pra acreditar que isso ai é madeira?
  • Yunnan (Nota 8): Namorei esse jogo por muito tempo, já que era conhecido como Euro-Oldschool-Faca-no-Pescoço, além da piada interna de ser "do mesmo criador do Hansa" (só a arte e a editora que eram a mesma). Apesar disso, realmente tem um cheiro de Hansa Teutônica ali. Extremamente agressivo, e talvez até demais (risos), acabei vendendo pro Lanzen e gerou bons momentos no Brasil, inclusive uma partida EXPRESSA jogada em 1:20 com 4P.
  • Before the Guests Arrive, In Front of Elevators, Newsboys, Let's Make a Bus Route (standard e versão 2P), Wind the Film: Esses aqui vou deixar o mistério já que talvez eu faça uma série de reviews sobre os jogos da Saashi & Sasshi, mas fica o spoiler que Wind The Film! é um jogaço que foi bastante jogado.
  • Shipyard (Nota 7): outro que sempre quis jogar, mas totalmente difícil de encontrar. Sei lá, acho que talvez no final das contas eu não goste tanto do Vladmir Suchy. Até gostei bastante do jogo, mas num mundo com tanto euro TOP, não sei se escolheria esse pra jogatina… mas, da pra ver que é um bom jogo, jogando mais (improvável) talvez a nota até subisse. Veremos.
  • Evacuation (?): Euro no espaço? Depois do fiasco que foi On Mars eu até hoje to em busca desse Santo Graal. Não joguei ainda.
  • Tiger Dragon (Nota 6): Joguei bastante 1x1 várias vezes e me diverti bastante, mas cansou um pouco. Tive uma experiência em 4 players morna também, mas não em times já que era todo mundo desconhecido. Tem Hype, mas não sei se é pra mim.
  • Whale to Sale (Nota 6): Talvez o jogo mais bonito da Oink até hoje. Diria que diverte mais pela beleza do que o jogo em si, mas da pra dar risada com os amigos. O aspecto de memória é o meu fraco, e ficar flipando as cartinhas é um pouco incômodo já que minha memória só dura 5 segundos. Respeitável.
  • Town 77 (Nota 6): Jogo curiosíssimo, um dos poucos jogos que não tem ponto e você pode ganhar por perder primeiro (!?). Bem maluco e recomendo ser jogado, porém é crackudo demais para o meu cérebro Neandertal.
  • Nine Tiles Extreme (Nota 8): Jogo de destreza que você tem que virar os tiles, até formar o símbolo no centro da mesa. Bem despretensioso, mas muito divertido. Daqueles pra ter junto com um Taco-Gato para quando os civis chegarem.
Dessa vez fui de malão pra trazer tudo de volta.

Por hoje é só pessoal, e prometo que a continuação não vai demorar tanto. (risos)

No próximo episódio: Alemão encrencando com Designer e a tendência do Campo de Futebol

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