Essen 2023: Antes tarde do que mais tarde (Parte III)

Israel Fonseca
Spiel des Djows
Published in
8 min readMar 9, 2024

Olha, eu já achava que o título dessa série fazia sentido, mas considerando que estou postando a última parte em Fevereiro de 2024 (5 meses depois do evento), acho que acertei em cheio. Se você caiu de paraquedas não esqueça de acompanhar a Parte I e Parte II antes de se deleitar com a última parte dessa saga parcelada.

Dia 3: Sábado

Depois dos primeiros dias mais intensos, o sábado e domingo se tornam efetivamente o "modo passeio". Então basicamente fui investir meu tempo em algumas jogatinas, veja o que rolou:

Piratas of Maracaibo: Bom, bonito, mas ordinário.

Esse eu estava de olho, apesar de já ter algum preconceito, principalmente por um motivo semi-exótico: queria um jogo de caixa pequena. Para algo que é um "Maracaibo Light", se fosse uma caixinha pequena tipo um Cascadia ia ser excelente, eurinho com mais sustância portátil, porém infelizmente é mais um jogo com caixa OCA. Triste.

Quanto ao jogo em si, gostei, inclusive comprei já na hora pela oportunidade. O jogo não tem ABSOLUTAMENTE NADA de inovador ou impressionante, mas ao menos o tema de pirata somado a um eurinho-moderno sólido carregou o jogo pra mim. O fato no entanto é que depois de jogar no Brasil mais uma vez, acabei vendo que: num mundo com tanto jogo, investir tempo nesse feijão com arroz parece uma clara desvantagem. Vendido. Nota 7.

Havalandi: Tédio nas nuvens.

Esse foi outro interessante. Joguinho do Knizia, joguei em 3 players que não é ideal (esse jogo precisa ser jogado em 4p ao meu ver para o mapa ficar mais apertado), e foi uma experiência agradável. O jogo é beeeeeem simples, basicamente um roll-and-move (sim!) com um controle de área. Bem bonito, e setup instantâneo. Comprei, até pra conseguir um autógrafo do Knizia em cima, mas depois quando joguei mais vezes (inclusive no Brasil) a verdade é que fiquei de saco cheio. A rolagem de dado todo turno é um tanto enfadonha, apesar de que em média não chega a ser um incomodo do ponto de vista de excesso/falta de sorte. O grande problema é que as decisões são meio óbvias, então você não sente espaço para reviravoltas ou grande jogadas. Vendido. Jogo xuxu, nota 5.

News Boys: bom, mas falta algo.

Na sequência acabei jogando o novo jogo da Sashi & Sashi, Newsboys (que eu tinha comprado as cegas). Assim como a maioria dos jogos deles, é uma experiência meio zen. Joguei muitas vezes, tanto na feira, quanto até mesmo no Brasil e o jogo saiu de uma nota 8 para um 6. Explico, assim como o Come Sail Away, a interação é baixíssima (quase nula), onde mesmo com as corridinhas por território, não existe marcação alguma (típico de Roll and Write). Queria muito algum tipo de draft com os dadinhos e isso acaba me deixando com um gosto amargo. Vendido, espero que o LeoDoraJu faça bom uso (e sei que tem feito).

Ainda sobre o New Boys, acabei fazendo uma amizade com o instrutor do jogo e inclusive já estava ajudando com a explicação das regras com pessoas que apareciam para testar. Interessante que ele foi bem honesto, e disse que também sentia que falta alguma coisa no jogo. Depois rolou altos papos sobre perspectivas de vida, se mudar para o Japão e carreira. Encontros aleatórios que só a feira proporciona.

Grande Daniel, alemão que fala Japonês.

No mesmo dia, fui atrás do meu projeto "Tietagem de Designer" e na fila de autógrafos do Knizia conheci dois japoneses super simpáticos (como todo japonês), que a princípio estavam tímidos por causa do seu inglês quebrado (o mesmo espírito do Brasileiro médio: que sabe inglês, mas tem vergonha porque acha que alguém se importa com o fato de não ser perfeito).

Grande Masayuki-senpai (boné vermelho) e seu amigo que não lembro o nome (risos).

Achei bacana como o amigo dele, se referia a ele como senpai (indica alguém com mais experiência/respeito) já que ele é dono de uma loja de boardgames lá de Nagoya. No meio do papo, perguntei como é o cenário de boardgames Japonês e ele disse que o "grosso" das vendas é party games, e jogos pequenos (fica ai a explicação da relevância da Oink). Isso, diz ele, se dá pelo fato de que o consumidor típico é o estudante na pindaíba financeira, então é bem incomum saírem comprando jogos "expert", isso acaba ficando só para os velhos.

E é claro, fica aqui o saldo da tietagem do dia:

Antoine Bauza (Takenoko), Reiner Knizia (dispensa apresentações)

Durante a noite, fui para um hotel com meus amigos brasileiros e acabei jogando alguns jogos que a galera tinha adquirido.

Faraway: um filler com potencial.

Esse tem bastante sustância. Basicamente um draft de cartas em que tu vai jogando cartas da esquerda para a direita até formar uma sequencia de oito cartas. Depois você pontua as cartas no sentido contrário. Meio estranho de explicar (até porque não estou com as regras afiadas), mas pense que é o euro inverso: "em vez de ir atrás do contrato para cumprir, você vai atras de cumprir coisas e depois tentar achar o contrato", ou algo tipo isso (risos). Enfim, vale a pena jogar esse e certamente iria querer jogar de novo Nota 8.

Ancient Knowledge: cheiro de CIV? To dentro.

Esse já chamou minha atenção: cartinha, com cara de civ, e com artes únicas para as cartas. O jogo tem uma mecânica em que você coloca cartas no seu império, e elas vão envelhecendo (andando um slot para o lado), até que eventualmente elas são "perdidas" (o Ancient Knowledge do título), e o seu objetivo no jogo é constantemente manipular essas cartas para elas se transformarem em algo mais útil. Não é um jogo explosão de cabeça, e até acho que possa ser um sólido 7 eventualmente, mas nesse momento até fiquei com gostinho de quero mais, então Nota 8 (até porque eu ganhei com uma estratégia ousada de "perder o máximo de conhecimento possível"). Algo que vale salientar: jogamos em 4P e eu acho que é idealmente um jogo para 2P por conta do downtime. No que diz respeito a interação, achei bacaninha, os drafts das cartas de objetivo fazem um bom trabalho em forçar os jogadores a ficarem atentos. Fica a dica.

Dia 4: Domingo (Encerramento)

A verdade dói minha gente, mas começo achar que esse ano (2024) talvez seja minha despedida do Essen anual (risos). Digo, certamente não para ficar todos os 4 dias, pois nessa minha segunda ida senti que no 4o dia eu já não tinha tanto mais o que fazer. Talvez isso mude se eu fizer um turismo com meus visitantes ocasionais (aguardando o Cassio virar o magnata da carne pra fazer uma cobertura duo comigo). Dito isso, o ponto é: o último dia eu estava só no modo cruzeiro passeando, então fui conversar com quem estivesse disponível.

Tom Vasel, maior fã internacional do Spiel des Djows de uma mídia concorrente de menor impacto.

Aqui foi bacana, conversamos um tempo razoável sobre como Brasil estava crescendo e a experiência dele no DOFF. Óbvio que falamos sobre o excelente World of Wonders (que na época eu não tinha jogado ainda) e ajudei ele a lembrar do nome do jogo que ele curtiu altos também: O Bom do Videogame (nome péssimo, me desgulpe. xD). Na época ele me disse o que hoje já se tornou verdade: ele estava ajudando, nos bastidores, uma forma de lançar esse jogo internacionalmente já que também tinha curtido bastante. Me desculpem, o post atrasou 5 mêses e perdi a exclusividade da matéria, agora já é oficial que ele vai sair pela Arcane Wonders. Em fim, papo bacana, tanto que rendeu uma entrevista reversa que você pode ver aqui (já no tempo certo), aparecemos 2x:

https://youtu.be/G8vmrjOOvic?si=HAgluPm_Vr8Gqtf-&t=968

https://youtu.be/G8vmrjOOvic?si=piIkjtRiEW7WITWw&t=993

O momento mais cringe da minha carreira de pseudo-jornalista deve ter sido quando fui na R&D Games (Keyflower) e comecei a bater papo com um dos vendedores, até que na conversa percebo que na verdade estou conversando com o próprio Richard Breese. Foi muita vergonheira: primeiro fui perguntar, a pedido do Cássio, sobre um eventual Big Box com tudo que já foi lançado de Keyflower, mas ele falou que ainda tem muita cópia por aí para ele achar que valha a pena fazer isso, já empurrando umas cópias pra mim (que eu neguei envergonhadamente). Além disso, estava apanhando muito para entender o sotaque britânico super carregado dele, o que foi a cereja do bolo. Acabei não jogando o novo jogo dele The Glade, pois já estava na correria da volta: no dia seguinte já estaria praticamente regressando ao Brasil.

Richard Breese e seu novo The Glade.

E teve mais tietagem:

Família Eklund dos excelentes Pax Transhumanity e o vô do meu Top1 Pax Pamir 2nd Ed.

E a última é uma "imagem por texto". Acabei encontrando Vladimír Suchý (Woodcraft, Underwater Cities) e pedi uma foto com ele, mas eis que a moça que estava com ele (que não faço ideia quem seja), deixou bem claro que eu poderia até tirar foto, mas não postar em nenhuma rede social. Não vou dizer que é algo incompreensível (de certa forma, até faz mais sentido do que essa nossa hiper-desvalorização da privacidade dos dias atuais), mas certamente incomum. Vocês sabem se ele já deu alguma explicação específica sobre isso no BGG ou em algum canto?

E é isso, com um atraso de 5 meses, finalmente a cobertura 2023 de Essen está encerrada. Provavelmente vou fazer de alguma forma diferente para não correr o risco de demorar tanto (risos). Uma coisa que comecei a perceber no final desse evento: ir todo ano para ficar todos os dias, parece ser um pouco demais. Será que estou ficando velho (fato)? Esse ano ainda vou ficar todos os dias, mas ano que vem talvez eu fique só o FDS… será? Veremos.

Assim que cheguei, comecei a escolher os jogos que levaria pro Brasil. Você pode ler sobre isso no texto do Djow_ aqui.

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