Preview Des Djows: Ark Nova é Um Banquete à Terraforming Galaxy

Israel Fonseca
Spiel des Djows
Published in
7 min readApr 25, 2022

Então pessoal, já me mudei para Holanda (mais sobre isso em uma futura postagem) e aproveitando a oportunidade de poder ter acesso antecipado em relação ao nosso Brasilzão, tive a felicidade de jogar o famoso Ark Nova que está chegando pela Grok e o Carnegie pela Mosaico. Hoje vou falar do jogo dos bichinhos, e deixo para uma próxima o preview do Carnegie, que já dou spoiler: comprei a versão KS com o addon dos cubos dourados aqui mesmo na Holanda. Mas lembre-se, a redação do Spiel des Djows não se responsabiliza por tomada de decisão enviesada baseada em uma partida. Use com moderação.

Kathy Perry aprova esse jogo. Foto: Capstone Games.

O Contexto

Tive oportunidade de jogar esse em 3 players, em 's-Hertogenbosch no grupo que estou fazendo parte (mais detalhes sobre esse grupo em futuros tópicos). Quanto ao jogo, vou dizer que eu não acompanhei o Hype, tudo que eu sabia dizia que o jogo era tipo Terraforming Mars pelos milhões de cartas, e que tinha gente reclamando da famigerada sorte (ou falta dela). Por último, o tema de zoológico e a mecânica de tetris me lembrava o insosso Barenpark. E então, como é que é?

O Bom

  • A Exploração: +100 cartas sem repetição é uma delícia. Hoje em dia, pra mim jogos com cartas como o core, e ironicamente já que antes não curtia, cartas com texto, são coisas que aprecio bastante. Isso gera uma sensação de que cada partida vai ser uma jornada diferente e acaba se aliando do outro ponto positivo inesperado…
  • A Execução do Tema/Imersão é excelente: nesse mar de cartas diferentes temos as belas artes dos animais e projetos. Trabalho de arte este, muito melhor executado do que o famigerado Terraforming Mars. É tão legal e imersivo olhar aqueles bichos todos no seu tablado, de forma que me parece fácil imaginar como partidas diferentes vão ter um sentimento de ter construído algo diferente. Confesso que em condições normais, um tema de Zoológico beiraria o ruim, assim como o Bonfire do Feld e seu tema de fadas, no entanto a implementação do tema é tão boa que faz ser uma jornada saborosa. Ver aquelas fotos de Macacos, Onças, Elefantes, ver os símbolos das regiões a onde pertencem, precisar fazer acordo com os países para trazer os bichos… moralidade a parte, é bem envolvente. Fiquei impressionado mesmo.
  • Euro com interação: é possível acelerar o fim das rodadas com ações específicas, o que pode efetivamente ser um take that nas mãos alheias, já que isso implica com que os jogadores descartem cartas da mão. Além disso temos uma série de corridinhas estilo "faça o contrato X", que quem chegar primeiro leva. O próprio fim do jogo, é desencadeado pela performance dos jogadores, então o jogo é no mínimo "uma grande e complexa corrida". Some isso a existência de 10 cartas, todas com imagens de Cobras o que é uma boa sacada, que fazem ataques mais agressivos nos outros jogadores como diminuir o poder de ações entre outras maldades.
  • Mais Tático do que Estratégico: o jogo é muito mais Race for the Galaxy do que Terraforming Mars com Draft. Você tem que fazer o melhor com o que tem. Não da entrar no jogo pensando: "vou fazer um zoológico de macacos hoje". É comum comprar cartas de forma cega, então só o coração das cartas do Yu-Gi-Oh para conseguir garantir que elas sejam boas. Pra mim isso colabora com a história que o jogo conta, já que gera muito mais surpresas do que vir com a planilha de excel pronta para ser executada. Claro, isso é bem pessoal, mas o review é meu, então paciência (risos). Note que o jogo também traz mecanismos para conseguir comprar algumas cartas de forma mais consciente, mas em linhas gerais é se virar com o que tem.
  • Esteira de Cartas: Excelente mecânica, em resumo: quanto mais tempo ficares sem usar uma ação, mais forte ela fica (não é exatamente isso, mas é quase isso). Isso acaba impulsionando uma certa variabilidade de ações, mas sem impedir uma força bruta de vez em quando. É um puzzle delicioso e queria ver mais jogos plagiando isso (não que tenha sido inventado aqui, coisa que não faço ideia).

Nota do Djow_: elemento copiada do jogo Civilization: Um Novo Amanhecer. De longe a melhor mecânica do jogo.

  • Não é esse peso todo não: o jogo tem bastante elementos, mas ele ao meu ver anda "suave", não é aquele jogo travado e meio sofrido para tentar entender o desenrolar das ações. Ele deve ter o mesma complexidade de um Maracaibo, Pax Pamir, ligeiramente mais complicado que um Terraforming Mars. Com o tema "popular" com cartas de bichinho, até deve aumentar o ímpeto para o desavisado querer aprender. Você pode mentir para seu cônjuge que gosta do péssimo Wingspan: "é de bichinho também, vamos!".
  • O Tetris não é encheção de Linguiça e é divertido mesmo: Olha, é uma mecânica muito boa e bem casada com o jogo. O Tetris que você monta, na realidade é o "recurso/pre-requisito" para conseguir usar os bichos depois, efetivamente é você montando o parque para armazenar eles. E é por isso inclusive você que escolhe o formato da peça, cujo o preço vária conforme o tamanho. Aqui temos o desafio clássico de escolha de posicionamento agravado pela decisão de ganhar os bônus por alocar as peças em lugares específicos (estilo Barenpark). É interessante como você pode até ter um push-your-luck ao construir um espaço gigante esperando vir alguma carta de Elefante, mas correndo risco de acabar com um Macaco Prego e tendo que desperdiçar aquele tamanho todo.
  • Player Count: O jogo parece bom o bastante até para tentar jogar solo, o que é um grande mérito já que não curto jogos solo, mas esse eu certamente experimentaria. Não vejo motivos para acreditar que não funcionaria bem em 2P, e até mesmo em 4P, apesar de eu não achar tão indicado para uma primeira partida.
  • Setup Rápido: O jogo tem um insertzinho bem humilde, mas que faz um baita trabalho. Sair jogando não é difícil, e o setup é bem tranquilo.
A arte/foto das cartas de fato deixa o jogo bonito. Fato. Foto: Capstone Games.

O Ruim

  • O jogo ocupa bastante espaço, e de uma forma exótica: ele é “compridão” na mesa. Joguei numa mesa bem espaçosa, e ainda assim estava capengando o espaço em 3P. Se você joga numa mesa redonda não muito grande, vai apanhar.
Sinceramente, acho bem possível ter muita mesa incapaz de suportar o jogo.

O Cinza

  • A Sorte vai te Morder: o choro é real, a intensidade vai da sua percepção. Eu não acho que seja um problema do jogo em si, e sim do mindset errado do cara chato mimizento que reclama de sorte nos seus preciosos euros. Sim, é possível alguém comprar uma carta as escuras nos instantes finais e talvez "sair na vantagem" ou então existir uma missão sobre ter vários Macacos e não vir nenhuma carta de Macaco para você, só para os outros. Existem formas de mitigar essas compras as escuras, que podem até minimizar o seu azar, mas não impedem a sorte para os seus oponentes quando compram cartas direto do deck. Como é um jogo de duração razoável, da para entender a dor, então se você é chato com isso, vai se incomodar, então pode pular fora desse barco.
  • Pode Ser Demorado: quem desencadeia o fim do jogo são os jogadores através da pontuação. Dependendo da habilidade, ou até do metajogo, o jogo pode acabar se estendendo bastante. Eu diria que é seguro assumir 50 minutos por jogador, para o ser humaninho médio (tipo eu). Nossa partida em 3P levou 2:40 com uma pessoa que recém tinha aprendido as regras. Alie isso ao fator sorte e você pode ter uma receita para o desastre. Isso é um problema? Tempere a gosto.

Conclusão

Fui de coração aberto para a partida, sem nenhuma grande expectativa e me amarrei. Quando eu estava aprendendo as regras do jogo eu já estava ficando empolgado, o que é sempre um bom sinal. Acho que é um baita jogo, e certamente eu compraria minha versão se eu estivesse no Brasil. Ironicamente, eu acabei comprando um Carnegie mesmo achando Ark Nova mais divertido, mas fiz isso, pois o grupo afinal, já tinha o zoológico em mãos. Se eu tivesse que ir para Marte, apenas com um dos dois, certamente iria de Ark Nova, mas não perca o review do Carnegie nas próximas semanas.

Ark Nova me deixou perfeitamente saciado, pela "sustância", sem a complexidade exarcebada a là Lacerda, a diversidade das cartas, e ironicamente o tema, me fazem imaginar como seria um jogo que conseguiria jogar bastante com os grupos de Joinville, mas não o de Tubarão, já que lá só se joga Hallertau agora (risos).

Nota do Djow_: 19 partidas de Hallertau e contando.

Para mim que gosto de Banquete à Odin (nota 8), Terraforming Mars (nota 7) e Race for The Galaxy (nota 8) só me resta conceder então:

Selo Spiel des Djows™ para “Melhor jogo sobre exploração animal para enriquecimento de investidores fictícios que fingem fazer bem para a humanidade, mas no fundo só querem pontos de vitória.”

Nota 9, depois do Innovation, continuamos fazendo propaganda para a Grok, e continuamos sem patrocínio (risos).

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