Compartilhe aventuras e planeje seu sucesso

Guilherme Augusto
eLab Started
Published in
6 min readOct 17, 2018

Modelo de negócios é uma estruturação realizada por uma empresa com o intuito de organizar seus rendimentos, descrevendo todos os elementos que compõe o negócio e como eles se relacionam. Essa definição pode até assustar em um primeiro momento, mas, na verdade, é bem simples.

Pense que um aventureiro está prestes a iniciar sua jornada. A primeira coisa a ser feita é montar sua trilha e planejar tudo o que será necessário para essa viagem: desde separar os equipamentos que serão levados em sua mochila até definir seu destino final, pois, por mais que a aventura possa apresentar surpresas, é necessário ter uma base para sempre saber como seguir em busca do objetivo final.

Podemos dizer então, que o modelo de negócios de uma empresa, que seria a jornada, é esse planejamento inicial do aventureiro, o qual chamamos de empreendedor. Logo, o modelo de negócios pode ser definido como uma esquematização dos objetivos da empresa e como ela os alcançará.

Essa ideia surgiu em 2010 no livro “Business Model Generation”, escrito por Alex Osterwalder e Yves Pigneur. Na obra, é apresentado um quadro conhecido como “Business Model Canvas”, ou “Quadro de Modelo de Negócios”, uma ferramenta gráfica que simplifica o entendimento do conceito por ser simples, prática e, ao mesmo tempo, eficiente.

(Business Model Canvas. Fonte: http://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae)

Em uma de suas palestras, Alex resume a importância de um bom modelo de negócios citando a Apple como exemplo: “Pensem em quanto vocês investem em pesquisa e desenvolvimento por ano. Agora, pensem em quanto vocês investem em encontrar modelos de negócios para esses produtos e tecnologias. Pois é, a maioria das empresas gasta próximo de zero (…) A única razão por ela [Apple] ser uma das companhias mais bem-sucedidas não é porque ela tem uma tecnologia melhor, é porque ela tem um modelo de negócios melhor”.

Voltando à analogia do nosso aventureiro, o planejamento de sua jornada (modelo de negócios), apesar de fundamental, não é suficiente. Ele precisa também realizar um estudo prévio das características do ambiente que irá explorar, como o clima, o relevo e os animais que lá habitam. Desse modo, em cada momento da jornada, ele terá uma lista com todas as atitudes que poderá tomar e conseguirá escolher a mais adequada, pois, quanto mais informações ele tiver, mais preparado ele estará.

(Ilustração de aventureiro. Fonte: https://pt.depositphotos.com)

Essa mesma lógica é utilizada no mundo empreendedor. Além de conhecer e dominar o Business Model Canvas, ferramenta que permite elaborar e estruturar o modelo de negócios, é necessário um estudo do mercado já existente para conhecer os pontos fortes e fracos, as vantagens e desvantagens, de criar um negócio em determinado segmento. Também é fundamental conhecer os custos estimados do negócio e utilizar métodos para reduzi-los ao máximo. Acima de tudo, a peça-chave para um bom modelo de negócios é apresentar um diferencial impactante e inovador!

Foi a partir disso que Garrett Camp e Travis Kalanick criaram uma das startups mais valiosas do mundo, a Uber Technologies Inc. Após o término de uma conferência em 2009, os amigos estavam com dificuldade de retornar ao hotel, pois não achavam alternativa de transporte eficiente e acessível. Ipso facto, surgiu a ideia de chamar um carro com motorista usando apenas o celular. Essa ideia foi amadurecendo (gradualmente, afinal nossas mães sempre nos alertaram para não entrar em carros de estranhos, especialmente quando eles oferecerem balinhas) e hoje é muito mais fácil das pessoas se locomoverem pela cidade.

A Uber é um ótimo exemplo visto que, na época, o mercado do ramo era muito promissor e pouco explorado. Ademais, o serviço oferece um custo muito baixo aos donos, os quais não precisam arcar com grande parte das despesas operacionais (transporte, manutenção, entre outros), gastando apenas com funcionários internos, marketing e a plataforma tecnológica em si. A empresa lucra ao cobrar uma taxa (20% no UberBlack e 25% nas outras categorias) sobre o valor total da corrida e, por fim, apresenta um diferencial relevante para a clientela: a acessibilidade.

(Business Model Canvas da Uber. Fonte: https://analistamodelosdenegocios.com.br/modelo-de-negocio-do-uber/)

Não bastasse tudo isso, a Uber ainda apresenta outra característica que faz com que a plataforma seja utilizada por muitas pessoas em diferentes partes do mundo: o conceito de “Sharing Economy”, ou “Economia Compartilhada”.

A economia compartilhada é uma ideia que consiste em oferecer produtos ou serviços que podem ser compartilhados (pessoas físicas representam, muitas vezes, tanto os consumidores quanto os fornecedores) de maneira a baratear seus custos e proporcionar ao usuário, notavelmente, uma experiência nova.

(Sharing Economy. Fonte: https://www.theceomagazine.com)

Esse modelo de negócios inovador vem crescendo em diversos setores da economia e ameaça modelos tradicionais já que apresentam muito mais interatividade, eficiência e uma burocracia bem menor em sua utilização. Você, por exemplo, prefere ir até a estação de metrô mais próxima mediante um Uber, que oferece previamente contato do motorista, sua avaliação e a rota predefinida ou chamar um táxi, o qual não oferece nada disso e ainda costuma ser mais caro?

Além da Uber, outras empresas como Airbnb e Etsy utilizam o mesmo conceito de economia compartilhada em seus serviços. A primeira atua no mercado desde 2008 e apresenta uma plataforma onde donos de imóveis que querem alugá-los se conectam com viajantes procurando hospedagem mais barata e (literalmente) caseira permite que mais pessoas consigam viajar para diferentes lugares do mundo, se hospedar com praticidade e conforto pagando valores abaixo do mercado hoteleiro, enquanto os donos ganham a oportunidade de ter uma renda extra. Já a segunda empresa oferece a interação entre vendedores e compradores de artigos artesanais, seguindo os mesmos princípios supracitados.

(Etsy, Airbnb e Uber; empresas que usam o conceito de economia compartilhada. Fonte: https://startit.rs/uber-etsy-airbnb-1000-korisnika/)

Apesar de atualmente essas empresas estarem bem estruturadas, todas passaram por dificuldades em seu início. A Etsy, por exemplo, ia até feiras de artesãos para divulgar a marca e a Airbnb chegou a contratar fotógrafos para tirar fotos dos apartamentos auxiliando no marketing. Então, mesmo com um diferencial que faça a empresa despontar, é necessário também um grande esforço de comunicação para quebrar paradigmas vigentes. Ideias disruptivas, pela própria essência, nunca são instantaneamente aceitas pela grande parte do público. Como citado anteriormente, sempre fomos instruídos a não entrar no carro de estranhos; no entanto, o modelo de negócios da Uber parte justamente da premissa que façamos isso (e ainda aceitamos balinha do estranho!). Mudar essa mentalidade só foi possível através de grande investimento em marketing e mecanismos que facilitem a conversão dos clientes mais céticos (todo marketplace digital, por exemplo, tem avaliações e histórico de transações de cada vendedor).

Mais uma característica comum a todas essas empresas, e que tem impacto sem precedentes nesse modelo de negócios, é a internet. Através dela é possível transmitir informações instantaneamente e isso é essencial para que a ideia de compartilhar funcione de maneira eficiente. A tecnologia digital avançará cada vez mais com o passar dos anos, e, como esse modelo de negócios se baseia na mesma, ele tende a ser cada vez mais presente no mercado. Outro ponto é a vantagem que esse modelo proporciona em relação aos mais tradicionais, com mais interação entre os usuários e mais acessibilidade, além da economia e redistribuição de recursos. A posse torna-se obsoleta: o que importa para o consumidor é a experiência. É possível ter uma Ferrari por alguns dias (sem pagar IPVA), andar de bicicleta até o trabalho (e dispensá-la em qualquer rua), alugar casas, roupas e até brinquedos infantis (alô, Quintal de Trocas) pelo tempo estritamente necessário. Há a chamada materialização da vida on demand.

A palavra que define a real tendência do futuro é inovação. Pode parecer até meio clichê, mas essa única palavra consegue sintetizar o caminho para o sucesso. Utilizando o próprio texto como exemplo, a criação do Canvas de modelo de negócios foi uma ideia inovadora e auxiliou diversos founders de startups relacionadas à economia compartilhada. Esta, por sua vez, foi outra inovação bem sucedida. Logo, seja em uma ideia ou em uma atitude, é inovando que se supera os desafios!

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