Desvendando o futuro: como fazer o mapa astral da sua empresa

Maria Luiza Rubbi
eLab Started
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9 min readOct 9, 2018

Desde muito tempo atrás, por diversos motivos, as pessoas tentam descobrir o futuro de várias formas. Algumas mais místicas, como leitura de cartas de tarô ou astrologia, e outras com uma análise mais concreta, como a estatística. Essa discussão nos é tão curiosa que existem filmes bem famosos, como De Volta Para o Futuro (e muitos outros), sobre esse assunto misterioso. Pensando pelo lado empreendedor, quando falamos de negócios, o que mais se pergunta no início de qualquer empresa é como esta será recebida no mercado, se terá um futuro promissor e, mesmo com preparação e experiência no ramo, sempre há uma apreensão do risco de não ter sucesso. O que fazer? Oh, dúvida cruel…

Vamos supor que você se prepare durante uns 10 meses ou mais para lançar sua startup no mercado, invista muito dinheiro e, no final, acabe por descobrir que o produto/serviço criado não tem nada a ver com o que o cliente esperava. Isso acontece, e muito! Aí é torcer para que, se acontecer, os astros estejam favoráveis para não alterar seus ânimos e você tenha força suficiente para usar das ferramentas que iremos apresentar neste texto para se reerguer.

“Ah, mas eu ainda estou com medo de dar tudo errado de novo, acho que vou desistir”. Antes de tudo, acalme essa ansiedade! E se eu te dissesse que tem um jeito de mapear o seu negócio para que todos os tombos sejam evitados? Um jeito do meio empreendedor, especialmente para o mundo das startups e da inovação, um jeito que ajudará você, pelo menos, a desvendar uma parte do caminho que irá traçar no mercado?

Com prazer lhe apresento ao MVP (Minimum Viable Product), Produto Minimamente Viável ou, para leigos, o mínimo que seu produto ou empresa deve ter para ser lançado. O conceito de MVP foi introduzido por Eric Ries, empreendedor do Vale do Silício, em seu livro The Lean StartupStartup Enxuta, em português. De acordo com a metodologia descrita no site, “O método Lean Startup ensina como conduzir uma inicialização — como orientar, quando mudar e quando persistir — e desenvolver um negócio com aceleração máxima.”.

Entregar o MVP não é entregar uma parte do todo, como pode ter parecido à primeira vista; ele simula o produto todo (e suas funcionalidades), toda a ideia, mas de forma simplificada. Isso mesmo, a ideia de “menos é mais” também é aplicada no empreendedorismo! Como vemos na imagem abaixo, MVP não é entregar uma roda, peça por peça, até chegar em um carro, mas sim uma ideia inicial do produto, fácil de fazer, fácil de usar, algo capaz de resolver o problema de seu cliente, porém, sem satisfazê-lo por completo, como é o caso do skate, que resolve o problema de mobilidade, mas não é exatamente o que o cliente queria. Com o diálogo constante entre você e seu cliente, sua empresa poderá fazer mudanças que vão dar o rumo de desenvolvimento do seu produto junto com o crescimento de satisfação do cliente até chegar ao que ele realmente quer como, no exemplo abaixo, um carro.

https://blog.deming.org/wp-content/uploads/2014/11/minimal-viable-product-henrik-kniberg.png

Resumindo, o MVP funciona assim: você se prepara rapidamente, desenvolve sua ideia de forma simples, dá na mão do cliente para que ele se divirta testando da forma que ele bem entender e, depois, faz perguntas a ele sobre o produto. Além de poupar seu dinheiro, seus neurônios e sua esperança de ser bem sucedido, o desenvolvimento do MVP serve para que as pessoas que irão utilizá-lo (e que obviamente não pensam da mesma forma que você) o compreendam melhor. A troca de informações é muito importante para verificar as mudanças necessárias que só o seu cliente pode te dizer, pois é a ele que você quer agradar. A partir daí, o processo se repete até chegar o momento em que você se sentirá seguro de que está tudo pronto para ser lançado no mercado oficialmente. Ou, se tudo der errado, terá sido rápido e sem altos custos, você ainda terá tempo de alterar o que for necessário e, além disso, irá conseguir visualizar melhor o caminho para um futuro de sucesso.

Mas calma lá, não é só entregando um produto/serviço qualquer que o sucesso de sua startup estará garantido. Seus clientes precisam querer, desejar e, inclusive, depender do que você os oferta para que o sucesso seja ininterrupto. Então… como fazer isso?

Você precisa de uma solução, certo? ERRADO! Você precisa é de um problema, mas não qualquer problema. Você precisa daquele que atrapalha a vida do público que você quer atingir, o qual também pode ser chamado de dor (ou pode, a partir de um problema, descobrir qual o público que será atingido). Seguindo o exemplo anterior, você identifica que mobilidade é a dor de um certo público e conclui que o skate será a melhor opção e o que as pessoas mais querem. No entanto, ao vender um skate, percebe que o cliente não gosta nem um pouco, não vê valor nenhum na sua prancha de quatro rodinhas. E agora? O que você precisa descobrir são os valores do seu público. Sem a visão de valor, o cliente vai passar reto pelo seu produto.

Em seu livro “The Daily Drucker”, Peter Drucker — professor, consultor administrativo e escritor, considerado o pai da administração moderna — discorreu sobre o entendimento do que um cliente compra. Basicamente, ele explica que um cliente não compra um produto em si, mas a satisfação de um desejo, ou seja, compra valor. Na imagem abaixo, vemos a equação de valor — os benefícios percebidos, que se recebe com produto (como qualidade percebida, eficácia no uso e satisfação) divididos pelos custos, o que é gasto para adquiri-lo (como dinheiro, tempo ou mesmo o custo de oportunidade de usar uma alternativa avaliada como pior). A equação de valor precisa refletir no seu negócio desde o MVP e olha que legal: não tem que fazer muitas contas nessa equação! (ouvi um “ufa” da galera de humanas? Eu falei “ufa” quando li isso) Essa equação resume aquilo que ouvimos falar o tempo todo de “custo-benefício” ou “custo por benefício” e seu resultado é o que chamamos de valor, crush de todo empreendedor. Para dar match com o que o cliente considera por “valor”, é preciso saber de suas necessidades e expectativas, do que ele acha que necessita, do seu limite orçamentário, do tempo disponível para adquirir o seu produto (tudo aquilo que não cansamos de repetir nesse blog). E é falando com o cliente que essas informações serão descobertas para, ao longo desse processo, o MVP tomar forma (substituir o skate por uma bicicleta, a bicicleta por uma moto e a moto por um carro) e sua versão final vir a ser a queridinha do mercado.

Para ver valor, o cliente precisa entender e reconhecer seu produto. Na próxima imagem, foi resumido novamente o que é e o que não é MVP, agora em uma pirâmide com os itens a se considerar: o MVP tem que ser funcional, servir para alguma coisa; confiável, tem que dar a segurança de que ele funciona mesmo; utilizável, que seja útil e aplicável à solução do problema; e com um design empático, que seja algo que possa se identificar com os valores.

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Empatia é se colocar no lugar do outro. Design empático é o design que entende intimamente o consumidor entregando algo que este último reconheça. O entendimento e identificação com o produto andam lado a lado, portanto, é essencial que o uso seja fácil, simples e intuitivo, coisas que vemos e logo já sabemos como usar.

Como reunir tudo isso sobre MVP, valor e ainda ter um design empático?

Tomamos por exemplo os iTudo. Um dos comentários que mais ouvimos dos portadores de iPhone é que seu uso é intuitivo. Sabe como os produtos da Apple são muito fáceis de usar, ainda mais se colocar lado a lado com o Windows? Então, essa simplicidade, facilidade, intuição se baseia em uma teoria chamada de skeumorfismo, um tipo de design de produtos que utiliza a técnica de Affordance, definida por James Gibson, psicólogo americano e um dos mais importantes contribuintes para o campo da percepção visual. Essa técnica faz com que, ao ver uma estrutura, os elementos que a compõe sejam facilmente reconhecidos do repertório do dia a dia de quem observa, de modo que a pessoa entenda quase automaticamente seu funcionamento, sua lógica. Os aplicativos da Apple aplicam o skeumorfismo ao pegar elementos do cotidiano e inserir na estrutura de seus aplicativos, como, por exemplo, o bloco de notas (que é literalmente um bloquinho das antigas) e o iBooks (com o ícone de um livro). Por essa e outras, ao mexer em um aparelho da Apple, os usuários entendem rapidamente como o sistema funciona, o que cada aplicativo faz.

https://www.popicon.com/blogs/iconography/is-skeuomorphism-really-dead

Alguns entusiastas dizem que a tendência é o skeumorphismo desaparecer, dando lugar a um design mais “clean” — o Flat Design. Outros insistem que o skeumorfismo ficará, até porque ele tem tudo a ver com a experiência do usuário (já detalhada em outras postagens do blog), um campo que diversas empresas estão investindo para se aproximar de seus consumidores. E é aí que conseguimos ver o cliente desenvolver uma verdadeira dependência da marca. Os consumidores fiéis da Apple compram uma solução que não encontram em nenhuma outra empresa e que ainda é integrada com todos os produtos adquiridos da empresa.

Outro exemplo de skeumorfismo é o utilizado pela IKEA. A fabricante de móveis tem como seu conceito principal a facilidade para o consumidor e também para as lojas. Os produtos são elaborados de maneira que a montagem seja intuitiva, para o cliente pegar na loja e levar para montar em casa sozinho, sem ter que chamar um serviço extra para isso. Outra inovação aplicada pela empresa, com o intuito de reforçar este conceito, foi uma versão diferente de catálogo virtual. Nele, se vê pelo smartphone em realidade aumentada como o móvel ficará no espaço da casa, ainda vazio, antes da compra — tamanhos e cores ainda podem ser personalizados de acordo com as especificidades de compra e vontade — facilitando todo o processo de venda e evitando uma frustração pós-compra.

https://youtu.be/vDNzTasuYEw

Tanto Apple quanto Ikea são cases de sucesso no âmbito de inovação em solucionar o problema do cliente de maneira intuitiva, nunca se abdicando das necessidades e desejos que o mesmo possui.

Com todas essas facilidades que te contamos, você poderá escolher sol, lua, ascendente e todo o mapa astral de seu produto, antes mesmo de seu lançamento. Determinar quais valores ele irá agregar, com qual desejo do cliente ele irá se relacionar, quais problemas será capaz de solucionar, além de evitar que tenha conflitos com seu bolso, que sua ideia se perca por aí sem objetivos, que afaste seus clientes… Montando um bom mapa astral, com toda a certeza, você terá em suas mãos um produto pronto para arrasar no mercado e tornar os clientes fissurados! Um jeito mais certeiro e menos custoso de alcançar o sucesso. Não espere o futuro chegar para ter sucesso, desenvolva seu MVP com antecedência, elabore seu produto final e decole para o planeta dos bem sucedidos!

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Maria Luiza Rubbi
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Em comunicação com as palavras para conversar com pessoas e compartilhar ideias! / PP-ESPM