Billboard Hot 100: “One Sweet Day” vs. “Despacito”

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5 min readAug 23, 2017

Há algumas semanas, o assunto principal daqueles que acompanham a movimentação da Billboard Hot 100, parada de singles norte-americana, é o recorde de longevidade no topo, que após ter sido ameaçado muitas vezes nos últimos anos, finalmente encontrou um adversário à altura.

Mariah Carey e Boys II Men irão enfrentar Luís Fonsi, Daddy Yankee e Justin Bieber em uma disputa que provavelmente só será interrompida por uma lançamento muito impactante, já que o hit do verão de 2017, apesar de já estar desacelerando, ainda tem força para mais algumas semanas.

Pensando nisso, resolvemos dar um melhor contexto para vocês. Vem saber mais sobre as trajetórias de “One Sweet Day” e “Despacito” antes do resultado final chegar!

Em 1995, Mariah Carey promovia seu bem-sucedido álbum ‘Daydream’, que inclusive já chegou tornando o carro-chefe “Fantasy” a primeira canção de uma artista feminina na história dos EUA debutando no topo, o que é impressionante se considerarmos que não existiam vendas digitais ou streaming.

Para seguir com a divulgação de seu quinto disco, a cantora selecionou “One Sweet Day”, parceria com o grupo Boyz II Men, que se você tem mais de 20 anos, deve saber que foi uma das maiores sensações daquela década. Já imaginou se Adele resolvesse lançar uma música com a One Direction há alguns anos atrás? A comparação pode parecer meio tosca, mas imagina só o efeito causado.

“One Sweet Day” foi recebida com aclamação da crítica, entusiasmo do público e em momento mais que oportuno. A canção foi composta por Carey, Walter Afanasieff e os membros do grupo, falando sobre a perda de entes queridos, inspirada principalmente por Alison, irmã da cantora, os envolvidos também aproveitaram para transmitir uma mensagem também para aqueles que sofriam com a epidemia de AIDS que se espalhava pelo planeta naquela época.

Como mencionou anteriormente, o momento em que “One Sweet Day” foi lançada, no auge do R&B, reflete bastante em seu estrondoso sucesso. A canção foi enviada às rádios em Novembro, período pre-natalino, onde as estações norte-americanas passam a focar em baladas românticas e músicas nostálgicas. Vale ressaltar que, no ano anterior, Carey havia comentado seu status de “Rainha do Natal” com o lançamento do clássico “All I Want For Christmas Is You”.

Tendo como principal adversário a trilha-sonora do filme ‘Waiting to Exhale’, “One Sweet Day” chegou ao topo do Hot 100 na primeira semana de Dezembro, criando uma espécie de “queda de braço” com ‘Daydream’. A produção de Carey e Afanasieff encerrou o reinado de “Exhale (Shoop Shoop)”, da Whitney Houston, e viria a barrar duas outras canções: “Not Gon’ Cry” de Mary J. Blige e “Sittin’ Up in My Room” de Brandy. O filme de Forest Whitaker só viria a emplacar outro hit em #1 com “Let It Flow” da Toni Braxton, mas não antes de Mariah conseguir outro #1 com “Always Be My Baby”.

Consagrando o décimo single de Mariah Carey e o quarto do Boyz II Men a chegar ao topo da Billboard, “One Sweet Day” permaneceu reinando por 16 semanas consecutivas, de Dezembro até Março. O feito não deve ter chocado muitas pessoas na época já que o recorde anterior havia sido conquistado pelo próprio grupo, com as 13 semanas de “End of the Road” em 1992 e 14 semanas com “I’ll Make Love to You” em 1994, marca que a própria Mariah Carey viria a igualar 11 anos depois com “We Belong Together”.

Dando um salto de 21 anos no tempo, agora em 2017, temos Luís Fonsi iniciando a campanha de seu nono álbum de estúdio, após o um hiato de dois anos. Consideravelmente famoso, o cantor porto-riquenho já havia colaborado com artistas como Christina Aguilera e Emma Bunton no passado, mas nada comparada com o que estaria por vir.

O primeiro single do novo disco de Fonsi foi a canção “Despacito”, inicialmente planejada como uma espécie de balada latina. Após mudar de ideia e pensar em uma abordagem mais vibrante pra a música, o cantor chegou a considerar Nicky Jam como colaborador, mas acabou decidindo-se por uma versão reggaeton-pop em parceria com um dos artistas mais consagrados neste gênero: Daddy Yankee.

Lançada em Janeiro, “Despacito” competia apenas no mercado latino e europeu até uma parceria bastante inusitada se firmar em menos de uma semana. Durante sua passagem pela Colômbia, onde realizou show da ‘Purpose World Tour’ em 12 de Abril, Justin Bieber teria ficado impressionado com a reação do público ao ouvir a canção em uma boate e tratou de entrar em contato com a equipe de Fonsi na intenção de uma parceria. Se a lenda for verdadeira, os versos do cantor canadense foram escritos e gravados em 13 de Abril, quatro dias antes de seu lançamento oficial.

É importante ressaltar que, apesar do sucesso em países de língua espanhola/catalã, Luís Fonsi só havia conseguido entrar na Hot 100 duas vezes, com “Nada Es Para Sempre” (2005), trilha-sonora da telenovela ‘Rebelde’ e “No Me Doy Por Vencido” (2008). Daddy Yankee já colecionava hits consideráveis como “Gasolina” (2004) e “Impacto” com Fergie (2007). Mas a estrela aqui realmente é Justin Bieber, que em um intervalo de dois anos conseguiu cinco singles em #1, incluindo “What Do You Mean?” (2015), “Sorry” (2015) e “Love Yourself” (2017).

O remix de “Despacito” chegou ao topo da parada de singles norte-americana na última semana de Maio, substituindo “I’m The One” do DJ Khaled, e tornando Bieber o primeiro artista a ter #1 consecutivos com um intervalo de apenas uma semana. Mas o grande feito da música foi a vitória para o mercado latino, que já vinha retomando seu espaço de anos atrás, tendo o streaming como principal aliado.

O hit de Fonsi, Yankee e Bieber tornou-se a primeira canção majoritariamente em espanhol a atingir o topo da Billboard Hot 100 desde “Macarena” do Los Del Rio, sendo que antes disso, a América Latina havia sentido apenas um gostinho com “Hips Don’t Lie” de Shakira e Wyclef Jean. Duas curiosidades interessantes sobre esse feito: a versão de “Macarena” que chegou ao #1 também foi um remix, e isso ocorreu no mesmo ano em que “One Sweet Day” reinava.

Sentiu o impacto? Apesar dos momentos completamente diferentes, as histórias de “One Sweet Day” e “Despacito” se cruzaram de certa forma, e isso vai ficar ainda mais marcante quando elas empatarem o recorde oficialmente na próxima semana.

Muita gente torce o nariz para a música, principalmente por se tratar do remix com Justin Bieber no topo, mas é admirável como “Despacito” rompeu diversas barreiras e se tornou precedente para uma série de parcerias internacionais que vem sucedendo nos últimos meses. Será que “One Sweet Day” finalmente encontrou uma canção importante e icônica o suficiente para “substituí-la”?

Como mencionamos lá na início, a possibilidade do recorde ser quebrado não é remota. Depois que Bieber resolveu se auto-sabotar (?) lançando sua parceria com BloodPop antes da hora, só um milagre (chamado Taylor Swift?) para impedir o inevitável. Façam suas apostas!

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