Sou corajosa ou sigo as expectativas alheias?
Nesta lunação minguante estou alinhada a minha lua minguante interna e me vi em looping sabotador. Questionamentos como ser corajosa ou seguir as expectativas alheias vieram à tona. E então eu precisei de silêncio para perceber o que acontece nesse fluxo interior.
Encarar vulnerabilidades movimenta seus aterramentos férteis.
Muitas vezes estamos tão acomodadas as nossas construções e elaborações em nosso terreno conhecido, em nossa zona de conforto, que não acessamos outras potencialidades, não construirmos em terrenos ainda inabitados.
Quando negamos nossas fases, a exemplo a nossa TPM que todo mês vem — SOMOS CÍCLICAS como a lua, manas — dissipamos muita energia criativa! E então ficamos frustradas, vem a autossabotagem, a culpa, a síndrome da impostora (quem já sentiu?). Perdemos muito potencial de intuição, de expressão, de vida.
“A mulher parece cansada, porém cheia de ideias, mas com uma anemia profunda e cada vez mais incapaz de realizá-las”. Essa é uma das citações que me identifiquei quando li ontem mais um cap do livro “Mulheres que correm com Lobos” de Clarissa Pinkola Estés (Aliás, está muito inspiradora e acolhedora o círculo de leitura coletiva do livro nas manhãs de domingo com Alcateia e Café).
Estou lendo com calma, sentindo mesmo o livro. Eu vou destacando o que já me toca e depois eu vou anotando e registrando muitas memórias revividas com a leitura. E quão colorido foi ter lido e então refletir sobre o momento que todas nós passamos com a TPM, o nosso período do pré-menstrual.
Quantas energias internas estão se movendo e muitas vezes nem nos damos conta. Ou só quando vem, queremos que logo acabe. E não aproveitamos a potencialidade desse momento.
Momento de remexer as nossas sombras, o que não costumamos acessar.
O que eu não estou querendo ver? Por que eu me nego a sentir? Que forças são essas que me inquietam? Que predador é esse que tenta me acuar?
“Fazer a pergunta certa é o ponto central da transformação” disse Pinkola.
No conto do Barba Azul, compreender seus predadores é desenvolver a sua força, apurar a sua escuta, acessar uma percepção mais aguçada. E não é um processo fácil. Não aprendemos nas escolas a lidar com os predadores externos e internos. Não aprendemos a lidar com nossas sombras, nossas entranhas. Às vezes estamos no looping de construir em terrenos já conhecidos, que já aprendemos e reproduzimos e não desbravamos tantos outros territórios que nos compõem.
É também um processo de olhar e encarar o que está te incomodando, oprimindo, processar tudo isso e agir estrategicamente. Demanda um tempo e principalmente uma escuta apurada da nossa intuição. De acessar esses outros territórios dentro de nós que não nos ensinaram mesmo. É um trabalho solitário, o nosso despertar da natureza selvagem.
E no conto O búfalo, do livro Laços de Família de Clarice Lispector, que foi uma indicação da querida e eterna professora Luciana Wendling, e um presente de 2017 da minha amiga Lorena Araújo pude perceber como Lispector tem uma sabedoria extraordinária para falar da construção do ser mulher, do que nos é imposto, do que nós mesmos sabotamos também.
Alguns gatilhos interessantes no conto foram: “a tola inocência”; “como abrir passagem na terra dura e jamais chegar a si mesma?”; “lágrimas presas dentro de sua carne herdada”, isso é muito forte!
A tola inocência me remete a mulher ingênua que negligencia seus instintos. A nossa intuição tem muito a nos dizer mas não com as palavras da razão. E às vezes os insights vêm e a gente não sabe interpretar. Eu alugo muito minha amiga Natalia Cortelette com meus áudiocasts de autorreflexões que surgem hahaha.
Faz parte do movimento mesmo, vamos recebendo os insights da nossa intuição e a interpretação dificilmente vem pelo caminho racional, vem mesmo pela dança, pela poesia, pelas expressões artísticas, pela cura intuitiva, pela visão e escuta aguçada, pela percepção apurada.
Acessar os questionamentos, inquietações, acessar nossas entranhas e terrenos ainda inabitados é um ato de profunda coragem. E aí quando eu encarei o pensamento de não ser corajosa, eu acessei, e não tive medo, sabe? Eu processei e entendi que eu dei voz a uma autossabotagem, a um predador interno. E quando você encara e compreende seu predador, você encontra a sua força!
“O trabalho mais profundo é geralmente o mais sombrio, uma mulher corajosa, uma mulher que procura ser sábia, irá urbanizar os terrenos psíquicos mais pobre, pois, se ela construir apenas nos melhores terrenos da psique, terá uma visão mínima de quem realmente é. Portanto, não tenha medo de investigar o pior. Isso só lhe garante um aumento no poder de sua alma”, Clarissa Pinkola Estés.
Espero que esse escrito entorne sentidos em você. Provavelmente não será em solo racional, então que flua os sentidos do inconsciente.
Obrigada por ler até aqui! Se você curte e quer ler mais dos meus escritos, aperte o clap. São as “palmas” e você pode dar de 1 a 50. Quem quiser comentar ou destacar alguma parte também, fique à vontade :)
Vamos um café? Com um valor que você pagaria um café, você apoia e contribui com meu trabalho, além de fazer parte de uma comunidade de apaixonadas e apaixonadas por escrita afetiva, feita por gente como a gente! Bora?! Faça pelo Patreon aqui !
Gratidão!
Com carinho,
Sthefany .