A falta de técnicos negros só escancara o racismo da NFL

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5 min readJan 15, 2019

Por @mathesudao
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AP Photo

Cerca de 70% dos jogadores da NFL são negros. Informação incrível, certo? Sim, o futebol é um esporte culturalmente negro, tal qual o basquetebol, e nós já sabemos disso. Porém, o foco aqui não são os jogadores, e sim os técnicos. Na NFL, liga com 32 times, apenas dois tem técnicos negros. Sim, dois técnicos em trinta e duas franquias, sendo eles: Mike Tomlin, do Pittsburgh Steelers e Anthony Lynn, do Los Angeles Chargers. Além disso, o técnico do Carolina Panthers, Ron Rivera, é latino, e também entra no recorte de minoria.

Na segunda feira pós Temporada Regular, dia 31 de dezembro, sete técnicos foram demitidos, sendo quatro negros. Se contarmos com o curso da Temporada Regular, fechamos em oito demissões, sendo cinco negros…uma loucura, né?! Denver Broncos e New York Jets já anunciaram seus novos Head Coaches e sim, nenhum deles negros, mas nas entrevistas, houve sim alguém da minoria. É aí que entra o momento de história do texto.

A Rooney Rule, criada em 2003, é uma regra que postula que todos os times da NFL têm que atender a política de entrevistas às minorias étnicas para Head Coaches e também para outros empregos relacionados à operação de futebol da franquia. A regra surgiu com este nome após Dan Rooney, que foi dono do Pittsburgh Steelers de 2003 até 2006. Desde 1969 ele está com a franquia, como presidente e como General Manager. Rooney também foi o presidente do Comitê de Diversidade da liga.

Para contarmos sobre o surgimento da regra, voltaremos a 2002, quando Tony Dungy foi demitido do Tampa Bay Buccaneers e Dennis Green foi mandado embora do Minnesota Vikings. Naquele tempo, Dungy tinha um recorde positivo com o time, de 54–42 em seis anos de franquia, contando com apenas uma temporada abaixo do .500 e indo para os Playoffs em quatro de seis oportunidades como técnico do time. Green foi ótimo em Minnesota: em dez temporadas, apenas uma vez o técnico ficou abaixo dos .500: em 2001, quando foi demitido. Durante os dez anos, oito aparições em Playoffs e um recorde de 97–62.

Após a demissão muito injustificada de ambos, dois advogados, Cyrus Mehri e Johnie Cochran, lançaram um estudo mostrando que, mesmo com bons recordes no time, os técnicos negros da NFL são maiores alvos de demissão do que os brancos. A pesquisa também mostrava que, em caso de admissão, é muito mais provável que as franquias contratassem técnicos brancos do que técnicos negros. Antes da regra, a NFL teve apenas sete técnicos negros, em incríveis 83 anos.

Quantos técnicos negros foram demitidos com recorde positivo? Ou então após pegar um time quebrado, em clara situação de tank, e uma temporada depois, sem chance de colher nenhum dos frutos que plantou, acabou sendo mandado embora? Todos os donos estão muito mais predispostos a demitir os técnicos negros, é muito mais “fácil”. Essas informações são tiradas de estudos, não é mera opinião com um chutômetro. E sim, nós também temos nossos erros nisso. Automaticamente, estamos muito mais dispostos a demonizar o técnico negro do que o branco.

Até 2017, apenas 17 técnicos negros na história da NFL conseguiram treinar um time por toda uma temporada. Quatro deles (Art Shell, Tony Dungy, Lovie Smith e Jim Caldwell) foram demitidos mesmo tendo uma temporada vencedora, ou seja, 23,5% dos técnicos negros. Quando isso vai na comparação com técnicos brancos, apenas 6,9% são demitidos quando conseguem uma temporada com record positivo.

Desde 2011, apenas oito técnicos negros foram contratados pela NFL, o que nos mostra muito sobre como a Rooney Rule não tem sido efetiva e também como as equipes conseguem burlar, tranquilamente, a regra. O que tem ocorrido muito é que os candidatos de minorias são entrevistados apenas pela obrigação, mas nenhum acaba sendo realmente um dos mais qualificados para o emprego (segundo a visão do empregador, claro). Quase sempre, os escolhidos são outros técnicos, brancos, que não têm nem mesmo um histórico tão bom assim.

Um bom exemplo disso é Kliff Kingsbury, que foi contratado para ser Head Coach do Arizona Cardinals após a demissão de Steve Wilks (negro) que ficou apenas uma temporada na equipe. Kingsbury, durante seis anos de carreira no College Football, teve apenas duas temporadas com .500 e no final, saiu com 35–40 de lá, mas como o analista da ABC Dallas, Dale Hensen disse, Kingsbury foi contrato por ser um gênio ofensivo, por ser jovem e também por ter privilégios brancos, não necessariamente nessa ordem. O que simplifica, e muito, o que estamos falando aqui.

Podemos falar de mais privilégios brancos na NFL. Por que Jason Garrett está há nove anos na frente dos Cowboys? Garrett tem três aparições em Playoffs em todo esse tempo e nunca passou do Divisional Game. Em oito anos (não contando a temporada de 2010, na qual chegou como técnico interino e comandou o time por apenas oito partidas) conseguiu ficar com .500 ou mais sete vezes, mas foram três campanhas de 8–8, já visando a Offseason desde antes de finalizar a temporada, amargurando a desclassificação para os Playoffs. Falando em Playoffs, Garrett tem um tímido 2–3: em 2014 e 2018, venceu o Wild Card e perdeu para Packers e Rams, respectivamente. Já em 2016, de bye week, chegou também no Divisional e perdeu para o sempre carrasco Green Bay Packers. Anos após anos e após mais anos, Jason Garrett não mostra evolução nos Cowboys, mas por ter amizade forte com o dono, Jerry Jones, o seu cargo é seguro, e inclusive deve ser renovado em breve.

Um bom tempo após tudo que aconteceu e continua acontecendo com Colin Kaepernick e a NFL, a liga não tenta, nem um pouco, ser ou parecer menos racista do que realmente é, e os donos também não fazem questão disso. Não é por falta de técnicos, coordenadores, ou então membros de escritório negros. Como dito, os executivos das equipes não estão dispostos a procurar, ou então a dar chance para os negros, que apesar de carregarem a liga dentro do campo, do lado de fora são sempre os deixados de lado, nesse grande espetáculo que é a NFL.

Isso é apenas o retrato do que ainda acontece em muitos lugares do mundo: os pretos fazem o trabalho duro, mas na hora do cargo de comando, os brancos estarão lá, não importando a sua competência.

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