Dissecando a Draft Class 2018 — PARTE II: Shooting Guards

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8 min readDec 7, 2018
NBA.com

Por @rafcl

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Não é novidade que o basquete mudou muito de uns anos para cá. E um jeito interessante de compreender as evoluções da NBA é analisar as escolhas da Draft Class. Esse ano, das 60 escolhas, 31 são wings — ou seja, Shooting Guards ou Small Forwards. Isso é uma tendência de uma liga que explora cada vez o jogo de espaçamento e rapidez, buscando a versatilidade e trocabilidade(sic) defensiva e o dinamismo do ataque, com enfoque nos jogadores explosivos e de perímetro.

O que também chama a atenção nesse ano é a quantidade de jogadores que chegaram sem aquela pompa de ser uma futura estrela, mas com capacidade de serem úteis e impactantes para as rotações dos seus times desde o primeiro minuto.

No segundo capítulo dessa série, analisamos alguns dos vários (18!!) Shooting Guards que foram Draftados. Aliás… draftados?

Allonzo Trier — Arizona — 22 anos. 196cm. 90kg. Evergadura 2,02. (Kelly Presnell/Arizona Daily Star)

Allonzo Trier — Undrafted (Knicks)

Um dos mais empolgantes jogadores da classe nem foi escolhido entre os 60. Atuando num contrato two-way, após um período na G-League, Allonzo Trier precisou se provar tanto em quadra quanto fora dela. Apesar de ter sido o Most Outstanding Player da PAC 12 em 2017, Trier já foi banido duas vezes por ter testado positivo para substâncias proibidas pela NCAA, perdendo jogos importantes na busca pelo título. Talvez por isso, a maioria das franquias da NBA não quis apostar nele. Mas trata-se de um scorer condecorado, instintivo, experiente e eficiente nos dois lados da quadra. No último dos 3 anos de Arizona, ele liderou a conferência em True Shooting Percentage e Offensive Box Plus Minus, estatísticas que calculam um dado geral de eficiência ofensiva. Trier é um competidor nato, focado, que se doa bastante. O novo estilo da NBA que valoriza jogadores 3-and-D lhe favoreceu e suas médias de arremessos de perímetro já ultrapassam todas as temporadas em Arizona. O Knicks correu um risco, mas a cada jogo que passa, o Madison Square Garden agradece.

Hamidou Diallo — Kentucky —20 anos. 196cm. 89kg. Envergadura 2,11. (Andy Lyons/Getty Images North America)

Hamidou Diallo #45 (Thunder)

O Oklahoma City Thunder tem a melhor defesa da NBA hoje e, por incrível que pareça, muito disso deve-se a um rookie. Com bom trabalho de pés, capacidade atlética de elite e envergadura acima da média da posição, Diallo chama atenção pelo seu desempenho — e potencial — defensivo. Em Kentucky, isso já era comentado, mas no Draft Combine de 2017 — no qual ele estava inscrito, mas retirou sua elegibilidade — Diallo roubou a cena: teve o segundo maior impulso vertical da história dos Combines e o maior desde 2001. Capaz de defender o perímetro e proteger o aro a um nível considerável para a posição, transformando boa defesa em transição rápida, com explosão e qualidade nas definições de jogada ao redor da cesta. É um jogador cru, que ainda precisa evoluir decisões, arremesso de perímetro e controle de bola, mas o senso de posicionamento e rapidez lateral que ele já apresenta aos 20 anos é notável. Mantém a energia e o alto nível na segunda unidade de OKC e é um jogador capaz de produzir jogadas de SportsCenter Top 10, se for dada a liberdade.

Grayson Allen — Duke — 23 anos. 196cm. 89kg. Envergadura: 1,99 (Winslow Townson, USA TODAY Sports)

Grayson Allen #21 (Jazz)

O ciclo se repete e Grayson Allen é mais um daqueles arquetípicos jogadores brancos odiados de Duke. E no caso dele, realmente é difícil ser diferente. Controverso, esnobe, destemperado e, em diversas ocasiões, desequilibrado mentalmente. Isso fez com que os 4 anos de Allen em Duke fossem, quase sempre, conturbados. Mesmo quando o time não fazia o bastante pra chegar nas manchetes, Grayson Allen dava um jeito. Como jogador, é um shooter natural e sólido, podendo agredir fora da bola saindo de bloqueios, com pull-ups por cima da marcação, ou saindo do drible — o que lembra o também jogador arquetípico de Duke, J.J. Redick. Quando está interessado, sabe impactar os shooters adversários com uma defesa decente. E quando ele quer, é o tipo de jogador que vai deixar a vida na quadra, se for preciso. Para voltar a ser campeão por Duke, deixou seu melhor momento passar ao não se inscrever para o Draft de 2016, ano em que anotou quase 22 pontos de média. De uns tempos pra cá, vem dando sinais de maturidade, mas vai passar um tempo na G-League porque ainda não achou seu papel em um Jazz que anda mal das pernas. Pode aprender muito com a chegada de Kyle Korver e as puxadas de orelha de Joe Ingles.

Joshua Okogie — Georgia Tech —20 anos. 193cm. 96kg. Envergadura: 2,13 (Photo Courtesy of Georgia Tech)

Josh Okogie #20 (Timberwolves)

Okogie é um energizador. O Nigeriano teve um impacto imediato em um Wolves que sofria com o período disfuncional da novela Butler. É um calouro que — pasmem — conseguiu bons minutos com Thibodeau logo nos primeiros jogos, o que é bastante difícil. Com força, agilidade e capacidade atlética avançada, Okogie é um reboteiro subestimado, intimidador defensivo e um coringa no ataque. Embora não tenha o melhor controle de bola, sabe ler bem o PnR e criar para si ou para os colegas, na infiltração. Sem medo do contato, tem recurso para arremessar e finalizar, mesmo contestado. Tem uma mecânica pouco ortodoxa, mas pode espaçar a quadra com bom arremesso da zona morta. Sua média de 38% do perímetro nos dois anos em Georgia Tech ainda não foi transmitida pra NBA (atualmente tem 30%), mas é o bastante para somar pontos importantes na segunda unidade de Minnesota. Perdeu minutos de jogo, principalmente após a chegada de Covington, mas espero que Thibs entenda que ambos juntos poderiam, por si só, influenciar positivamente o andamento das partidas.

Kevin Huerter — Maryland — 20 anos. 201cm. 86kg. Envergadura: 2,02 (Photo by Rob Carr/Getty Images)

Kevin Huerter #19 (Hawks)

Parte do plano de Atlanta de formar um ‘mini Warriors’, Huerter tem sua maior arma na eficácia do seu arremesso de 3 pontos. Draftado como um protótipo de Klay Thompson para acompanhar Trae Young, Huerter vem sendo sólido, mesmo com pouca usagem. Tem boa capacidade de ler as ações de quadra tanto na armação de jogadas quanto na movimentação offscreen pra receber passes em boas condições de marcar. No ano que apareceu para o público em Maryland, arremessava 10 vezes por partida, acertando mais de 50% dos arremessos de quadra e 40% dos 3 pontos. Sua altura acima da média da posição faz com que a rápida mecânica de arremesso seja ainda mais difícil de ser marcada. Embora tenha bom porte em tamanho e envergadura, facilitando a defesa em conjunto, ainda é franzino, sendo muito visado no um contra um. Com apenas 5 arremessos por jogo em Atlanta, ainda não conseguiu mostrar seu talento, mas é um projeto. Por enquanto, é um atleta que sabe muito bem o que fazer sem o volume ofensivo.

Lonnie Walker IV — Miami — 19 anos. 196cm. 92kg. Envergadura: 2,10. (Michael Hickey/Getty Images)

Lonnie Walker IV #18 (Spurs)

Cair no Spurs é sempre uma bênção aos calouros. Poder aprender com Gregg Popovich, por si só, já redesenhou vários prospectos que ninguém nem esperava muita coisa. No caso de Lonnie Walker, eu nem sei o que esperar. Dá pra ver que é um jogador diferente mesmo antes de vê-lo estrear na NBA. Gosta de estudar sobre o mundo e natureza, ouvir Frank Sinatra, ler sobre teorias da conspiração e tem o sonho de ter uma pantera negra — sim, o animal — como bichinho de estimação. Precisou passar por cirurgia e só voltou jogar essa semana, pelo Austin Spurs da G-League. Em quadra, por Miami, se mostrou um jogador muito competitivo, confiante e visivelmente concentrado, possuindo um porte físico ideal para a posição. É criativo e engenhoso, um dos melhores finalizadores da classe com a mão boa e a não dominante. Cuida bem da bola, com boas decisões e demonstra ser sedento pelo aprendizado. Jogadores com essas características geralmente viram enormes em San Antonio.

Donte DiVincenzo — Villanova — 21 anos. 193cm. 92kg. Envergadura: 1,98. (Bob Donnan-USA TODAY Sports)

Donte DiVincenzo #17 (Bucks)

Demorou até demais pra escolherem o eleito melhor jogador do Final Four e das Finais da NCAA. Bom pro Bucks. Donte esteve no plantel dos dois campeonatos ganhos por Villanova, sendo um dos jogadores mais determinantes do segundo título. É um jogador que apresentou uma enorme solidez durante a campanha. Não é um atleta tão explosivo, mas com uma mecânica de manual, acertou 40% das bolas de 3 no ano do caneco. É um atleta com impulsão vertical diferenciada no ato do arremesso, determinante para gerar a separação necessária em relação ao marcador. Não sente o peso do jogo, tanto que muitas vezes iniciou no banco, mas era sempre quem terminava em quadra. Disciplinado e com boas leituras defensivas, o que já deu pra perceber na transição para a NBA: é um dos 3 melhores rookies em Defensive Rating. Seu arremesso de 3 pontos ainda não cai numa boa porcentagem, até pelo grande volume de arremessos de perímetro proporcionado pelo novo estilo de Budenholzer. Bons minutos de jogo e autorização para puxar o gatilho, DiVincenzo já tem. Falta só esquentar um pouco mais a mão.

Jerome Robinson — Boston College — 21 anos. 196cm. 86kg. Envergadura: 2.01 (Sports Illustrated)

Jerome Robinson #13 (Clippers)

O Shooting Guard a ser draftado mais cedo é justamente o que menos tem espaço na sua franquia. Não tanto por culpa dele, já que o Clippers é um time com muita concorrência na backcourt, o que faz com que a escolha pareça ter sido um pouco precipitada. A verdade é que, pós Summer League, Jerome teve dificuldades de mostrar o seu jogo contra outros profissionais na pré temporada, com um jogo ofensivo inconstante e fragilidades defensivas. Em Boston, era um passador inteligente e scorer proativo, com recurso para pontuar em isolation, sem a bola e em transição. Sua efetividade como arremessador (53% nos arremessos de 2 pontos; 41% nos 3 pontos) também é de se espantar, devida à grande usagem que tinha. Era a principal peça ofensiva de um time abaixo da média — mais ou menos como Trae Young em Oklahoma — arremessando perto de 15 bolas por jogo e ainda distribuindo mais de 3 assistências. Se puder melhorar sua tomada de decisões e leitura de jogo nos dois lados da quadra — defeitos que, talvez, sejam ocasionados justamente por ter sido a principal peça ofensiva de um time fraco, por muito tempo — faça com que Doc passe a enxergá-lo como um jogador importante de rotação. Mas será que ele vai mexer em time que tá ganhando?

CONFIRA A PARTE I: ARMADORES

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