Negro Drama: Barbosa e as marcas do preconceito

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2 min readNov 20, 2018

Por @MatheusMeyohas

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Barbosa poderia estar melhor colocado. Poderia ter se aproximado da trave, fechado o ângulo, impedido o gol de Ghiggia. Mas, em um país onde se aprende diariamente a odiar pretos, Barbosa esteve na hora e no lugar mais errados possíveis.

Ele foi por anos, décadas, tratado como o símbolo do maior fracasso do esporte mais popular do país. Em uma época em que o futebol ainda era um esporte acostumado a ver seus principais ídolos alisarem o cabelo, com vergonha de serem pretos, para se incluir em quadros sociais e serem aceitos.

Logo Barbosa, campeão sul-americano com a Seleção Brasileira. Campeão dos campeões Sul-Americanos com o Vasco da Gama. O homem que parou o lendário Ángel Labruna da marca da cal neste mesmo torneio, contra o River Plate. Que se eternizou como o goleiro de um dos maiores times de um dos maiores clubes do país. E que ainda venceu o Carioca seis vezes com o Cruzmaltino da Zona Norte. Morreu pobre. É lembrado sempre que querem citar um exemplo de fracasso, de alguém que ficou marcado negativamente. Teve jogada ao chão uma das carreiras mais vitoriosas que um goleiro já teve no país. Cumpriu, por muito mais tempo do que nossa legislação permite, a pena por um crime que não cometeu, como sempre frisava.

Moacir Barbosa do Nascimento.

Num país racista como o Brasil, Barbosa não teve direito à mínima margem de erro. Nem ele, Juvenal ou Bigode, os mais cobrados pelo Maracanazzo. Quando o Brasil perdeu em 50, foram eles, todos pretos, que acabaram como bodes expiatórios da derrota. Seu nome virou sinônimo de um falha que tantos já cometeram, e continuarão a cometer. Barbosa poderia estar melhor colocado, e ainda assim poderia não escapar do que sofreu.

Como pontuou Mário Filho: “Quando o brasileiro acusou Barbosa, Juvenal e Bigode, acusou-se a si mesmo. O futebol não seria paixão do povo se o povo não se identificasse com um time, o seu time, com uma bandeira e uma camisa. Quem torce em futebol está ligado, irremediavelmente, ao seu time, para o bem ou para o mal, para a felicidade ou para a desgraça”.

Não foi coincidência que os jogadores mais identificados com o povo tenham compartilhado este peso. Assim como não foi coincidência quando, oito anos depois, do povo, e para o povo, surgiu o Rei. Preto, como Juvenal, Bigode e Barbosa. Enorme, como eles.

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