Quando o mundo é juiz, somos refém de nós mesmos: uma reflexão sobre Kanye West.

Rodrigo Savian
STICK TO SPORTZ
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4 min readJul 21, 2020

Por Rodrigo Savian
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Kanye isso, Kanye aquilo e aquele outro. Todo mundo tem uma opinião sobre Kanye West. Amado e odiado, venerado e desprezado. No fim das contas ele está no topo do mundo e é refém de si mesmo. Quando acerta poderia ter acertado mais, quando erra é crucificado.

Eu não preciso escrever sobre seus discos nº 1 e inúmeras canções lendárias. A persona de maior artista de uma geração, segundo o próprio Kanye West “o maior artista de todos os tempos”, é o que o atrai em seguir com o fogo queimando artisticamente e o que nos atrai até ele como fãs.

Kanye West em estúdio (tumblr)

O mesmo artista que é prepotente de maneira brilhante em Can’t Tell Me Nothing é sensível de maneira também brilhante em Family Business. Com Kanye West é impossível ter um sem ter o outro. A dicotomia que nos traz em toda sua obra é o que penso torná-lo mais próximo de nós a cada linha. Ninguém é Sim ou Não, Um ou Outro, e sim uma soma de infinitas coisas. Não penso em filosofia barata nessa reflexão, não é meu papel. Porém, acredito que seja uma afirmação facilmente corroborada por quem estiver lendo isso.

Leio frequentemente que o artista que foi diagnosticado com bipolaridade utiliza de seus problemas psicológicos para PROMOÇÃO DE DISCOS. Questões psicológicas essas cujas foram reveladas ao mundo entre 2017 e 2018, quando Kanye já tinha SEIS discos número 1 e VINTE E UM prêmios grammy. Sim, ele precisa de promoção barata. É exatamente disso que ele precisa.

Kanye West (tumblr)

A maneira rasa e preconceituosa com que é julgado na maioria das vezes tenta ignorar tudo que ele é e colocá-lo numa caixa. Ter a parte boa sem ter a ruim. Isso é impossível.

Eu sou cego ao que acontece ao meu redor? Não. Ignoro falas problemáticas que têm se tornado cada vez mais comuns nos últimos anos? Também não. Porém atento para alguns clichês como “Setembro Amarelo”, campanha brasileira extremamente necessária anti-suicídio, que nas redes sociais por vezes parece valer apenas para fazer média. Quando alguém claramente está completamente preso dentro de si e em meio a um colapso, eu não acredito que seja o momento de oportunismo para ataques. Acho que o que mais tem me machucado como fã é outra vez constatar a maneira com que as pessoas conseguem ser cruéis em troca de meia dúzia de likes em redes sociais.

Também, fica evidente por meio de ocasiões como essa o quanto saúde mental ainda é um tabu. As pessoas não têm informações suficientes, nem sensibilidade, mas correm apontar um possível fingimento do artista, como pós-doutores no assunto. Cerca de 96,8% dos casos de suicídio estão relacionados a transtornos mentais. Em primeiro lugar está a depressão, seguida do transtorno bipolar. Não é preciso ir longe para encontrar casos de pessoas que sofrem em silêncio com doenças do tipo sem que ninguém imagine, até que seja tarde demais.

A frase “I met Kanye West, I’m never going to fail” cantada por Chance The Rapper na faixa Ultralight Beam, traduz o sentimento de muitos fãs, que encontram conforto e esperança nas letras de alguém que está no topo do mundo mas que psicologicamente está tão próximo de alguém comum quanto qualquer pessoa. Por isso me dói tanto como fã assistir a deterioração mental expressa e julgada publicamente a cada sequência de tweets, a cada entrevista, a cada surto diante de câmeras. Como se fosse uma cobaia ou um palhaço de circo.

Recentemente li algo que pode soar clichê, mas acredito que se aplique aqui. “Kanye West jamais lerá o que você posta em uma rede social, e sim as pessoas que te seguem, e eles saberão o que você pensa sobre saúde mental”. Isso quer dizer que você não deve apontar um erro ou ser uma espécie de santo? Não. Longe disso. Porém, tente não ser mais um juiz entre tantos que já existem por aí.

Se todos os erros de um indivíduo acabarem inevitavelmente superando os acertos, qual o objetivo de ao menos tentar?

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