STICKASSONGS #2: Uma manhã ensolarada de sábado — Anderson .Paak (Ventura)

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4 min readMay 2, 2019

Por Luan Fazio

Muitas vezes é difícil explicar o porquê de gostarmos de algo. Penso que o sentimento que ‘sentimos’ é maior do que um simples conjunto de palavras. Por isso, para a crítica a seguir, tentarei repassar da melhor forma que conseguir a ‘experiência’ e o meu sentimento com o álbum Ventura, do talentosíssimo Anderson .Paak. Diferentemente de outros projetos que ouso opinar, tenho pouquíssima experiência com o Soul e o Funk, muito presentes aqui, por isso, focarei realmente no sentimento. Mas, se eu puder resumir a sensação desses incríveis 39 minutos, seria simplesmente: uma manhã ensolarada de sábado.

Vindo apenas cinco meses após o lançamento de seu último álbum Oxnard, que, para muitos, foi abaixo das expectativas, Anderson traz em Ventura uma obra muito mais segura e simples. Isso parece ter sido a chave aqui. Quem já conhece o trabalho de .Paak, sabe da capacidade que ele tem de unir elementos de Soul, Funk e hip-hop como poucos. Sua voz e seu ouvido para produção já se provaram diversas vezes ao longo de sua carreira e, nesse projeto, ele parece ter tido a liberdade para usar todos os seus talentos da forma que quisesse. Tenho a sensação que, comparado com Oxnard, Anderson teve mais autonomia e segurança para retocar todos os detalhes da maneira que achasse melhor e o resultado não desaponta.

Com uma fórmula que já não é tão comum nos álbuns contemporâneos, .Paak parece ter voltado no tempo com os instrumentais e as participações, aplicando muito mais os elementos de funk e soul em todas as tracks. O estilo que Anderson pretende para o projeto já é estabelecido na primeira música, Come Home, que unido a um ótimo feat. do lendário ex-membro do Outkast, Andre 3000, tem uma performance emocionante de .Paak. Todos os detalhes da música se complementam perfeitamente. A sensação de nostalgia, mesmo com um álbum novo, já toma conta desde o começo.

Com a segunda track e um dos singles do projeto, Make It Better, Anderson .Paak é acompanhado pelo eterno Smokey Robinson e traz, pra mim, uma das melhores músicas lançadas em 2019. A otimista perspectiva que Anderson traz sobre um relacionamento em ruínas em que o amor já não prevalece, sugerindo que o casal recupere o que os fez se apaixonarem em primeiro lugar, casa perfeitamente com a batida simples, mas rica. Todos os detalhes, desde a letra, o refrão e os vocais de .Paak e Robinson me deixaram muito otimista para esse projeto e, diferentemente com o que aconteceu com Oxnard, não me decepcionou.

Daí em diante o nível alto que o projeto mantém é surpreendente. Mesmo em momentos em que existe uma possibilidade de queda, como na primeira parte de Reachin’ 2 Much, que parece uma ponte para lugar nenhum, Anderson rapidamente reconquista a energia com uma transição perfeita para a segunda parte. Lalah Hathaway é a cereja do bolo nessa música.

O assunto de relacionamentos e amor é mantido por todo o álbum, mas Anderson não cai nas armadilhas que muitos de seus contemporâneos caem e acabam deixando seu projeto tedioso, pelo contrário. As perspectivas que Anderson .Paak traz em suas músicas deixam a experiência leve e fazem os 39 minutos passarem muito rápido. Esse é um dos grandes acertos de um álbum que vai na contramão da indústria, trazendo apenas 11 músicas e uma presença que consegue prender o ouvinte com facilidade.

Outro ponto alto é a música King James, o outro single, aonde Anderson faz uma ode a Lebron James, ressaltando a influência positiva que é o jogador para sua comunidade, seja como um businessman negro, ou atleta. Anderson pede que mais membros influentes façam que nem o jogador dos Lakers e utilizem a sua plataforma para gerar oportunidades iguais para sua comunidade. A alfinetada a NFL também é muito bem-vinda. “We couldn’t stand to see our children shot dead in the streets, But when I finally took a knee, Them crackers took me out the league” (“Nós não suportávamos mais ver nossos filhos serem mortos nas ruas, mas quando eu finalmente ajoelhei, eles me tiraram da liga)

Para finalizar, Anderson ‘apelou pro emocional’ do ouvinte com uma surpreendente participação do finado Nate Dogg. É clara a atenção que foi dada a todos os detalhes dessa música. .Paak definitivamente não queria desonrar a memória dessa lenda que dividiria a track com ele e, diferentemente do que aconteceu com Drake e sua música com Michael Jackson, existe um casamento perfeito. A batida é utilizada para reforçar os dois artistas e o skit final, com um diálogo entre os dois, não só funciona como um fechamento perfeito, mas também para deixar lágrimas nos olhos de quem é fã de uma presença tão única e necessária que foi Nate Dogg.

Em geral, essa foi uma das mais surpreendentes e proveitosas experiências que eu tive com um álbum nos últimos tempos. Talvez por se tratar de um gênero e um artista que eu não tenho tanta familiaridade, os quase 40 minutos de duração foram muito refrescantes. Penso que isso se deve principalmente pela união entre uma linearidade de estilo e estética com uma certa variedade de formas com que Anderson mescla o Soul, Funk, R&B e rap em certos momentos. A atenção que esse projeto está recebendo tem todos os méritos possíveis. Esse é o álbum que Anderson merecia colocar e, claro, o que seus fãs mereciam receber. Posso dizer com tranquilidade que virei fã desse artista incrível.

Pontos altos: Come Home, Make it Better, Winners Circle, King James, Jet Black e What Can We Do?

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