Verdadeiro igual Sócrates, Febem abre o jogo sobre sua carreira e o Grime no Brasil

Felipe Desiderio, mais conhecido como Febem, falou tudo e mais um pouco sobre sua carreira em entrevista exclusiva ao Stick2Sportz.

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7 min readJul 25, 2020

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Por @jhonataskm e @mouraul

Febem. (IG: @trezeclout)

Com o apelido da época de escola, Febem vem ganhando destaque na cena do hip-hop brasileiro. Desde que saiu do ZRM, o artista teve 2019 como o seu grande ano da carreira até então, principalmente após o lançamento do excelente álbum ‘Running’ — o qual completou um ano no último dia 5 — , em que retratou a correria cotidiana do brasileiro em diversos estilos, flows e sonoridades diferentes. Desde então, Febem vem voando alto.

No dia 2 de março deste ano, veio a pedrada que geral estava esperando. O EP colaborativo com CESRV e Fleezus, ‘BRIME!’, que mistura o ritmo underground do Reino Unido com o Funk paulista. No nome do álbum, inclusive, podemos perceber o jogo de palavras com BR, de Brasil, e Grime, o estilo musical.

Nesta entrevista, você vai poder conhecer todas as influências e motivos que fizeram Febem chegar onde está hoje. Criado em um berço regado a samba rock de raiz, funk soul — o popular balanço entre tios e tias — , o artista chegou no rap por influência de seu irmão. Em centros culturais, Febem encontrou o amor pela cultura que o faria ser destaque. Confere aí e marcha, mesmo porque, esse é o nosso estilo e que se foda!

Quando você notou sua paixão pela música e definiu que faria isso pra vida? Como é ser um artista?

Minha família sempre gostou muito de música, cresci vendo as festas regadas a muito samba de raiz, rock, pagode, funk soul e por aí vai. Então foi automático o amor pela música, já que sempre ouvi música boa desde que me conheço por gente. O rap entrou na minha vida por influência do meu irmão e da rua — no decorrer dos anos 90 o que mais tocava nos carros na periferia era rap — , mas o amor mesmo surgiu quando eu morei um tempo em Diadema, onde meu irmão se envolveu com a vida do crime, foi pro sistema, e minha mãe automaticamente começou a me levar pras paradas de centro cultural, onde conheci a cultura hip-hop de verdade e aí foi amor à primeira vista. Eu desenhava desde criança, então rápido me identifiquei com a cultura da pixação e graffiti. Mas a vontade de fazer música surgiu na época que o Emicida explodiu; entediado em trabalhar pros outros, comecei a rabiscar umas letras no trampo, até o dia que larguei e entrei de cabeça no rap por volta de 2010 e desde então não parei mais.

Quais são suas maiores referências e inspirações na vida e na música?

Minhas referências pra vida são sempre as pessoas ao meu redor: família, amigos, os bom malandro da quebrada que todo mundo considera. Já na música acho que se destaca o Mano Brown — como quase pra todo mundo que faz rap — além de muitos outros também das antiga e da gringa. Hoje em dia quem me inspira principalmente são os manos e as minas que tão ao meu redor no convívio, no contato, não só à frente, mas também nos bastidores, nas mídia, no geral, fazendo o bagulho acontecer.

Você é um dos mais influentes nomes do Grime e Drill no Brasil. Você sempre fez isso ou variou por mais estilos dentro do hip-hop?

É o que dizem, mas o que acredito de verdade é que numa cena nova como é por aqui todo mundo que vem fazendo é influente: nas rimas, nas produções, nas festas, nas mídias e por aí vai. E eu não comecei no Grime, faço rap em primeiro plano com a minha identidade e estética brasileira, mas em questão da inspiração da gringa, com o decorrer do tempo aprendi a me referenciar muito mais na estética da Europa do que na da América do Norte.

Você se sente um dos precursores dos estilos no Brasil? Se sim, como é isso?

Não me sinto percursor de nada não, mano. Sou só mais um mano que tá fazendo o que ama. O que eu sinto é gratidão por quem me vê como referência assim como vejo quem é pra mim também.

Nas suas músicas você coloca muito de futebol e Corinthians. De onde vem a inspiração pra essa temática?

Vem da vida, né. Vivência. No Brasil muitas músicas sempre tiveram referência ao futebol, faz parte da nossa cultura. Eu sou Corinthians desde que nasci e faço questão de tá sempre lembrando isso. Vai, Corinthians!

Partindo agora pro Brime: quão importante foi a viagem pra Londres com o Fleezus para o processo criativo do álbum?

Foi importante pra eu entender que nem tudo é impossível. Aos 30 anos saímos do Brasil e chegamos lá de igual. Vimos que o acesso lá é mais fácil, eles têm um bom equipamento, uma boa câmera, uma boa roupa, um bom carro e por aí vai. Mas também vimos que o corre é o corre, os manos que tão na luta lá e fazendo um som é a mesma batida que nóis aqui. Aprendi também a valorizar mais o Brasil: quando você sai, você vê que os manos lá valorizam muito a música brasileira. Por exemplo, teve um mano beatmaker que conheci, e mesmo sem saber falar português, ele sabia cantar Artur Verocai, Milton Nascimento. Uns barato que nem todo mundo daqui dá atenção. Foi uma viagem de muito aprendizado, e o processo do Brime foi pegado, mas também foi natural, porque nóis 3 (Febem, Fleezus e CESRV) tá sempre junto nas sessões de estúdio de cada um.

CESRV, Febem e Fleezus em Londres. (Reprodução: Jesse Bernard)

Você acha que o Brime é o maior marco do Grime no Brasil? Como acha que ele influencia o cenário? Afinal, juntou 3 dos maiores nomes do Grime BR no projeto

Acho que o Brime foi uma chance na qual fizemos valer a pena. Pode ser uma grande referência no segmento, mas acredito que marco mesmo sejam as músicas que Vandal fez quando ninguém fazia, e o próprio programa Brasil Grime Show que abriu porta pra muito mano que não tinha condição de gravar em estúdio, de ser ouvido; além disso, o programa deu acesso pras pessoas que não conhecia e não tinha onde buscar, porque tem muita gente que assim como eu não entende muito de inglês. Ter um acesso na mesma língua ajuda muito no sentido de causar mais interesse, de se aprofundar, de espalhar a cultura.

Qual foi a sensação de subir no palco do CENA2K19 pra cantar ‘Esse é Meu Estilo’?

Mano, eu sou bem frio nas minha reações emocionais, pra caralho mesmo; talvez seja pela minha criação e pá. Então eu mantive a postura, subi e fiz meu barato, óbvio que eu não esperava a recepção que eu tive do público: muita gente cantando, bagulho doido, ainda no Anhembi, um lugar que que já estive várias vezes com a escola de samba do meu bairro, que fica a 15 minutos da minha vila, foi foda. No dia seguinte quando vi a foto em casa sozinho, eu até chorei. Aquele mar de gente te correspondendo, isso é viver o sonho, igual todos aqueles shows que vejo no YouTube dos artistas que admiro, tá ligado?!

Qual a sua visão para o futuro do Grime/Drill no Brasil, quanto à popularização, surgimento de novos artistas e tudo mais?

Mano, pelo que eu entendi quando fui pra lá, o Grime é um bagulho underground até mesmo no UK. Os artistas que ficaram mundialmente conhecidos foram além na mescla do som. Então acredito que vai crescer sim, mas a longo prazo. Já o UK Drill, a visão que tenho de quando passei por lá é que o bagulho já era um fênomeno. O barato se espalhou muito rápido pela Europa toda e mesmo pros EUA. Pra você ter ideia, o estilo foi criado em 2012 e olha a proporção que já tá tomando. Temos aí como exemplo recente o PopSmoke (RIP) batendo números na Billboard com o UK Drill.

E conta pra nóis, nessa quarentena deu pra criar algumas paradas? Tem algum som no pente?

Essa quarentena aí deu uma quebrada na firma, mano. Tinha vários show pra fazer, tanto do Running quanto do Brime, mas é isso, é mais uma batalha pra nóis que tamo no corre e vamo que vamo. O ritmo de criação não é mais o mesmo, porque sem rua, sem vivência, e sem vivência, sem inspiração; então o bloqueio às vezes bate pesado. Mas tô com umas 4 músicas aí pra um próximo projeto, um álbum acredito eu. Esse ano devo lançar alguns singles dele, o primeiro inclusive deve vir muito em breve.

Bate e Volta

Uma camisa de time?

Corinthians dos anos 90, com patrocínio da Suvinil.

Um acessório?

Fone de Ouvido.

Um Artista?

Zeca Pagodinho

Uma bebida?

Whisky, gelo de coco e RedBull.

Um ídolo no futebol?

Sócrates, dentro e fora de campo.

Uma música?

Vida Loka Pt. 2 — Racionais Mc’s

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