O incrível mundo das pessoas não tão incríveis assim.

masmariaelisa
Storica Blog
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2 min readJun 17, 2016

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Quando eu nasci, ainda contávamos os meses, e não as semanas. As fraldas, ao contrário do meu futuro, já eram descartáveis (e não se falava em outra coisa). Com dois ou três, me botaram para ler um “a mais bê” desengonçado, a professora ensinando a mim e aos seus fiéis alunos de pelúcia que antes de pê e bê, só eme vou escrever.

Qual então não foi a surpresa dos velhos quando me disseram que no jardim eu não entraria. “Essa aí já sabe ler”, e me mandaram colher outros frutos, porque ali já não havia flores que eu pudesse plantar. Guardei a infância no meu bolso e saltitei de ano em ano aceitando nada menos que o sucesso; e sucessivas vezes fracassei em silêncio. Me disseram que o tempo era curto mas que a jornada seria longa, e que talvez nem fim tivesse. Engraçado como tudo foi ao contrário.

Quando dei por mim, cadernos debaixo do braço pesavam o sonho de ter uma carreira profissional. Sem ter a chance de tropeçar, embarquei no trem que carregava as novas expectativas de um velho mundo conhecido. Ao contrário da paisagem que se esvaía pela janela, eles estavam ali como o eterno combustível do meu desgastado “sucesso”.

Enquanto a locomotiva não para, penso que a janela poderia congelar a paisagem lá fora. Penso que as portas poderiam se fechar. Penso que o silvo furioso poderia se calar. Penso que os trilhos poderiam se quebrar. E que não seria má ideia se o trem pudesse um dia voltar.

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