#pleasecometobrazil
Colonização era uma parada bem popular no século XV e os europeus colonizavam tudo que viam pela frente. Colombo certa vez pisou acidentalmente num formigueiro e logo exigiu que as formigas trabalhassem de graça, se tornassem católicas, venerassem o rei da Espanha e pagassem seus impostos em dia. Nessa brincadeira, que não durou somente cem anos, a maioria dos países de “terceiro mundo” foram colonizados, neocolonizados, pós-colonizados, recolonizados e mais.
Eis que, no dia 16 de junho de 2016, chega uma empresa chamada Netflix e posta um vídeo divulgando a nova temporada de uma de suas mais populares séries, Orange is the New Black (OINTB para os íntimos). O que chamou a atenção de praticamente todo mundo no meu círculo de amigos, e de mais muita gente no Brasil inteiro, é que o vídeo promocional era estrelado por Inês Brasil.
Se você não conhece os memes brasileiros, talvez não saiba que eles são considerados pelos sommeliers de memes (ou sommeliemes) os melhores do mundo. E se você não conhece a Inês Brasil, talvez não saiba que ela é uma das maiores geradoras de memes do país. Memes, por sua vez, são aquelas coisas que começam underground e logo se tornam mainstream (rumores de que é nesse momento que perdem a graça). Vem do grego /Menes/, que era um cara da mitologia grega muito engraçado, que fazia várias zoeiras.
A Netflix, essa empresa internacional que vem de um certo país super neocolonizador, percebeu que as pessoas não querem mais ser colonizadas. Pelo menos não com tanta facilidade. Povos que já foram exaustivamente conquistados, dominados e explorados começam, em algumas centenas de anos, a criar uma resistência a isso. Não é como se nós brasileiros estivéssemos finalmente preferindo nossa cultura à cultura estadunidense. Infelizmente ainda não é isso. Mas existe uma onda forte que está indo nessa direção, apoiando essa galera underground (de memes ou não) e investindo tempo e dinheiro na cultura brasileira.
O legal é que a produtora de OITNB não simplesmente chegou e falou “mim Netflix, tu Brasil, compra essa série aqui”. Ela fugiu daquele padrão que é invadir e enfiar goela abaixo. Ela bateu na porta, deu bom dia, falou “oi, gente, soube que vocês gostam de Inês Brasil por aqui! A gente também ama!”. E aí lançaram um vídeo, e aí lançaram uns posts com a situação política atual do Brasil, e aí começaram a conversar com a galera das mídias sociais, a se adaptar à cultura pop brasileira e à seus memes. As pessoas amaram isso. Porque finalmente o invasor está tentando te entender, dialogar com você, construir e não somente impor.
Não é como se a Netflix tivesse descoberto o fogo, eu sei. Tem uma galera na indústria do entretenimento e da comunicação experimentando essa tendência faz tempo. Esse ano também, no Lollapalooza, a dupla Jack Ü chamou o Mc Bin Laden ao palco para tocar seu hit número um, “Tá Tranquilo, Tá Favorável”, e melhor de tudo: sem camisa. A Cartoon Network começou ano passado a incluir todo tipo de meme na dublagem de suas animações. Teve a Beyoncé dançando passinho e (spoiler alert) um “miga, sua louca” em Procurando Dory.
Pra mim, podemos resumir tudo naquele velho ditado: quer me foder, me beija.