Amazon: décadas de investimento levaram a empresa a valer um trilhão de dólares

Natalie Witte
Strong-up
Published in
5 min readNov 29, 2019

No ano passado, a Amazon se tornou a segunda empresa do mundo a atingir o valor de US$ 1 trilhão de dólares — a primeira tinha sido a Apple, poucos meses antes.

Com o aquecimento do debate sobre o modelo de crescimento de startups/empresas que tolera o acúmulo de prejuízos milionários ou até bilionários por muitos e muitos anos (no centro desse debate, estão empresas como Uber e WeWork), resolvi me aprofundar na história da Amazon, empresa que deu prejuízo — ou teve lucro relativamente baixo — por mais de 20 anos.

Amazon, the river

O Rio Amazonas é um dos mais extensos e, de longe, o com maior fluxo de água — estima-se que a sua bacia responde por cerca de um quinto de todo o fluxo de água doce do mundo. Ao batizar a sua startup (uma livraria online) com uma referência tão grandiosa, Jeff Bezos, até então analista de Wall Street, já dava uma pista do tamanho da sua ambição: mais que ser uma loja de livros, ser “a loja de tudo”. Um detalhe: você já reparou que a marca tem uma seta que leva de “a” a “z”? Mais uma pista de uma startup criada para ganhar o mundo…

Amazon completa 20 anos de muito sucesso e pouco lucro

Em julho de 2015, a BBC publicou uma reportagem sobre os 20 anos da Amazon. Naquele momento, a empresa tinha chegado a uma receita próxima a 100 bilhões de dólares mas ainda registrava um lucro muito pequeno — ou até prejuízo, como o de US$ 240 milhões de 2014. Um ponto importante a frisar é que, enquanto muitos falam de décadas de prejuízo, o histórico da Amazon é de lucro — restrito, mas positivo. Em média, nos primeiros 20 anos, o resultado líquido da companhia foi de 2,8% — nada mal quando 1% já supera um bilhão de dólares.

Interessante foi a projeção da BBC para o futuro da Amazon, imaginando que a companhia poderia vir a ter um lucro significativo e sua força comprovada nos próximos 20 anos. Muito antes disso — menos de três anos depois, para ser mais precisa — a empresa fechou 2018 com lucro recorde de US$ 10 bilhões e avaliação trilionária, como eu já disse.

Um negócio cada vez mais valioso

Desde o início, a estratégia da Amazon foi de aumentar o valor do negócio de forma crescente e sustentável, mesmo que fosse necessário trabalhar com margens próximas a zero (nunca dumping, como muitos já insinuaram).

O primeiro modelo do negócio era de loja online de livros, um marketplace que conectava editoras e distribuidoras com leitores. Proposta de valor? Visibilidade para os produtores, segurança para os compradores. Em pouco tempo, a Amazon já estava em todos os estados americanos e em 45 países.

É importante lembrar que isso foi em 1994, quando a internet ainda começava a dar seus primeiros passos — você chegou a comemorar quando conseguia completar a conexão via internet discada, com aquele barulhinho característico?

A imagem acima é reprodução de um diagrama feito em um guardanapo pelo fundador da Amazon. Para Bezos, a fórmula de crescimento da empresa passaria pelo aumento na variedade de produtos (hoje, a rede vende mais de 200 milhões de produtos diferentes). Além disso, o investimento na experiência de compra geraria cada vez mais tráfego para o site, o que atrairia um número crescente de lojas interessadas em entrar no marketplace, alimentando ainda mais o crescimento do mix de produtos. Adicionalmente, o ganho de escala levaria à redução de custos, que permitiria trabalhar com os menores preços possíveis (a famosa estratégia da Amazon de Lucro Mínimo) e, consequentemente, atrair, satisfazer e reter cada vez mais clientes.

Em pouco tempo, Bezos ainda acrescentou uma camada de investimento pesado em infraestrutura, aumento permanente de eficiência e uma entrega cada vez mais rápida e confiável ao seu diagrama.

Same-Day Delivery Amazon

Em 2015, a Amazon inaugurou uma modalidade de entrega bastante desafiadora: qualquer produto chegaria no mesmo dia a algumas regiões metropolitanas dos Estados Unidos. Essa operação demandou um altíssimo investimento em infraestrutura mas também gerou um crescimento significativo de demanda — da ordem de 20% ano após ano. Mas o mais interessante é que essa inovação trouxe para a mesa uma nova fonte de receita: a assinatura mensal, o Prime. Atualmente, o serviço já atende a 60 milhões de casas!

Investimento em Pesquisa e Desenvolvimento

Quando se compara os lucros da Amazon à sua receita crescente, um olhar menos cuidadoso pode afirmar que o modelo de negócio não é rentável. O que acontece, na verdade, é uma política de reinvestimento agressiva, sempre com o objetivo de estar um passo à frente do mercado. Desde 2015, a Amazon é a empresa que mais destina recursos para P&D no mundo! Em 2018, foram 22,6 bilhões de dólares, o equivalente a 70% dos ganhos da companhia.

O lado nem sempre visível do iceberg

Responda rápido: a Amazon é… O maior marketplace do planeta? Certa resposta! Mas ela não é completa. Nos resultados da empresa, existe ainda uma categoria chamada “Outros”, que é ocupada majoritariamente pela AWS — Amazon Web Services. Considerada uma das grandes responsáveis pelo crescimento nos lucros da companhia, a receita da divisão de computação em nuvem cresceu praticamente 40% no primeiro e segundo trimestres deste ano, com uma projeção acima de US$ 30 bilhões para o ano de 2019.

E o futuro?

Analistas apontam metas bastante ousadas para a companhia nos próximos anos: ser competitiva também em streaming, em smartphones e em computação na nuvem (cloud), chamando para a briga, ao mesmo tempo e em cada área, gigantes como Disney, Netflix, Apple, Samsung e Google. Isso é perda de foco ou diversificação?

Mr Bezos vai conseguir estender o sucesso do seu marketplace, que responde por 1% de todo o comércio eletrônico no mundo, a outras áreas ou vai acumular experiências como a do Amazon Fire, o smartphone com efeitos 3D sem óculos, lançado pela marca em 2014 e descontinuado em 2015? Só o tempo dirá. Mas se tem uma empresa que eu admiro e na qual eu aposto é a Amazon. Vou seguir acompanhando cada um dos seus passos, tentando extrair lições que sejam aplicáveis a outras empresas, nos seus mais diferentes estágios de evolução.

--

--

Natalie Witte
Strong-up

Business and M&A Lawyer with more than 12 years of experience as a legal adviser to tech companies and startups. More info on www.linkedin.com/in/nataliewitte/