Ikigai: você sabe qual é a sua razão de existir?

Natalie Witte
Strong-up
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4 min readNov 8, 2019

Ikigai é uma palavra de origem japonesa que costuma ser traduzida como “a razão de ser” ou “a razão de viver”. De acordo com a filosofia milenar dos japoneses, todos nós temos algo que justifica a nossa existência; o desafio é descobrir esse centro de gravidade das nossas próprias vidas.

Ikigai corporativo

Gosto muito de uma visão sobre o Ikigai como sendo o ponto de interseção entre o que uma pessoa faz bem, o que ama fazer, o que pode gerar pagamentos ou negócios e o que o mundo precisa.

Levando o conceito do Ikigai para as startups, costumo desafiar os empreendedores a refletir sobre o que realmente os move. Isso vai além do propósito — na verdade, o propósito é o ponto de partida de tudo. Mas descobrir o Ikigai é um exercício mais amplo e profundo.

Além de paixão e propósito, envolve uma análise, por parte dos fundadores, do impacto que eles querem gerar no mundo e também da real capacidade que a empresa tem de fazer algo fora do comum, algo que seja capaz de conquistar o mercado.

Ponto de partida e equilíbrio

É interessante ver que cada startup começa por um ponto diferente da roda do Ikigai. Algumas, partem de algo que pode ajudar o mundo. Começam com um propósito, uma missão. Outras, surgem de algo que seus fundadores amam fazer e/ou já fazem muito bem. E um terceiro grupo cria sua startup a partir da identificação de uma demanda do mercado. Qual é o caminho correto? Qual é o melhor? Nesse caso, não existe certo ou errado. O importante é não perder de vista as outras dimensões. Seja qual for o ponto de partida, o sucesso passa, obrigatoriamente pelo equilíbrio entre os quatro fatores.

Dificuldade em monetizar

Um dos problemas mais recorrentes que eu costumo abordar com as startups é “O que a sua startup pode fazer que outras pessoas vão comprar”, o quesito “monetização” da startup. Não é por coincidência que ele está diametralmente oposto a “o que você ama fazer”: quando existe algo que nós fazemos com muito amor, é possível que nós passemos a dar pouca importância para o ganho financeiro que pode (e deve) vir a reboque da nossa atividade. Mas, como eu gosto de lembrar aos meus “bebês”, a paixão é fundamental mas para um negócio se sustentar ele precisa ser rentável (e escalável), já que ele precisa despertar o interesse (e, quem sabe, a paixão) do seu público.

Bom para o mundo

Por muito tempo, as empresas administraram sua consciência pensando que gerar empregos e pagar impostos já era uma contribuição suficiente para o mundo. Sim, elas estavam certas (naquele momento)! Mas sempre foi possível ir além… E aconteceu: nas últimas décadas, temos visto o crescimento do tema de responsabilidade socioambiental nas empresas dos mais diferentes portes e atividades, inclusive com a criação do Sistema B. Com elas, estamos vivenciando empresas que já foram criadas em torno do propósito de fazer algo bom para o mundo. Entregar algo positivo para a sociedade já faz parte do modelo de negócio de muitas startups — bem-sucedidas, diga-se de passagem. Veja o exemplo do KickStarter.

Quando e o que pivotar?

Ao transportar o Ikigai para as startups, é importante deixar claro que em 20 minutos, tudo pode mudar, como diria o saudoso Boechat, na Band News FM. “O que você pode ser pago para fazer” varia ao sabor das demandas do mercado e das alternativas de que ele dispõe. “O que você fazia bem” ontem pode não ser mais suficiente hoje ou amanhã. Em outras palavras, é preciso olhar para o Ikigai como sendo algo em constante evolução, seja na pessoa de seus sócios, seja na startup…… A prudência não consiste na evasão, na fuga, mas sim na coragem de enfrentar o medo do desconhecido e do julgamento alheio, seja sob forte chuva, seja sob o sol escaldante. Isso é autoconhecimento.

Termino com uma citação de Ralph Waldo Emerson (que eu amo), considerado o filósofo precursor da mentalidade empreendedora norte-americana:

“Na educação de todo homem existe uma hora em que ele chega à convicção de que inveja é ignorância; de que imitação é suicídio; de que ele precisa considerar a si mesmo, tanto por bem ou por mal, de acordo com seu destino; de que, apesar do universo infinito estar repleto de bem, nenhuma semente de trigo generoso lhe virá às mãos a não ser pelo trabalho que dedicar ao pedaço de terra que lhe foi dado para cultivar. É de natureza inédita o poder que reside no homem, e ninguém senão ele mesmo sabe o que é capaz de fazer, e tampouco ele o sabe antes de o ter tentado.”

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Natalie Witte
Strong-up

Business and M&A Lawyer with more than 12 years of experience as a legal adviser to tech companies and startups. More info on www.linkedin.com/in/nataliewitte/