WeWork, Cenipa, Sarbarnes-Oxley e Startups S/A
Há três semanas, uma crise de dimensões unicornianas caiu sobre a WeWork (veja https://www.linkedin.com/pulse/wework-de-unicórnio-concorde-natalie-witte/). Muita gente está discutindo o futuro da empresa mas eu prefiro tentar entender o que originou a crise e, mais que isso, como o mercado pode aproveitar os seus aprendizados para prevenir outras ocorrências semelhantes.
Tenho um objetivo, um propósito: fortalecer o ecossistema das startups. Sonho com o dia em que empreendedores e investidores trabalhem em uma dinâmica construtiva, de apoio mútuo, de ganha-ganha. Um dia em que o poder público vai dar as mãos para a academia, o empresariado e a sociedade para criar um ambiente mais favorável para inovação e crescimento das empresas. Para visualizar esse ambiente empreendedor de sonho, vale conferir o exemplo de Israel no livro de Dan Senor e Saul Singer (https://books.google.com.br/books/about/Na%C3%A7%C3%A3o_empreendedora.html?id=Jd_VSBMHuNcC&printsec=frontcover&source=kp_read_button&redir_esc=y#v=onepage&q&f=false) e no artigo da Endeavor (https://endeavor.org.br/inovacao/israel-uma-nacao-empreendedora/).
Cenipa: o que importa é investigar as causas e evitar repetições
O Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) é o órgão da Aeronáutica que tem como função apurar as causas de acidentes aéreos e prevenir novas ocorrências. Lendo o texto de Alexandre Saconi, no UOL (https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2019/07/20/investigacao-acidente-aereo-caixa-preta.htm) achei interessante o fato de que os relatórios do Cenipa não apresentam os nomes das pessoas que estavam no voo. Isso reforça o firme propósito de prevenir e não apontar o dedo para os responsáveis. Essa incriminação fica a cargo de outras investigações…
Trouxe o Cenipa para a conversa por dois motivos: primeiro, porque eu acho que os Adam Neumann da vida não são o centro da questão. O que importa de verdade é entender as causas da queda da WeWork e evitar que novos acidentes aconteçam pelos mesmos motivos.
Sarbanes-Oxley
Em 2002, a insegurança gerada por escândalos financeiros como o da Enron levou à criação da Lei Sarbanes-Oxley nos Estados Unidos. O objetivo principal era restaurar a confiança dos investidores com relação à governança das empresas. De acordo com o artigo de Jaren Dillian na Bloomberg (https://www.bloomberg.com/opinion/articles/2019-10-11/wework-shows-the-ipo-process-is-broken), o que funcionou muito bem para dar mais segurança nas operações com empresas públicas (SA) foi justamente uma das causas do desastre da WeWork. Eu precisei ler com calma o artigo para entender a correlação: ao acrescentar uma série de exigências para as empresas de capital aberta, a lei acabou retardando os IPOs. O próprio autor cita estatísticas que podem, de um lado, comprovar, e, do outro, desmentir a sua tese. Mas, para mim, ela faz total sentido!
Startup S/A!
Em junho, eu publiquei um artigo sobre o Marco Legal das Startups e uma defesa antiga que eu faço para que as startups já nasçam como S/A (https://www.linkedin.com/pulse/startups-sa-eu-já-sabia-natalie-witte/) . As vantagens são muitas, como flexibilidade para entrada e saída de acionistas, estrutura mais atraente para investidores, transparência e governança, entre outras.
Juntando WeWork, Cenipa, Sarbarnes-Oxley e Startup S/A, fico me perguntando: será que a prevenção de novos acidentes vai passar pela antecipação da abertura da caixa preta das empresas? Com transparência e prestação quadrimestral de contas, é até possível haver uma crise… Mas ela certamente terá pernas curtas…
PS: Há muito tempo, as caixas só são pretas no nome. A cor mudou para laranja para que elas se tornassem mais visíveis. Tornar os mecanismos de controle mais evidentes e facilmente identificáveis também é uma ótima ideia! Fica a dica.
