A indústria da música no mundo digital: uma plataforma pouco explorada

Paula Moreira de Souza
Studio Sol
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5 min readSep 8, 2016

Ah, a música!

Falar de música é sempre bom, principalmente quando esse é o seu trabalho. Porém, se você faz parte dessa indústria, sabe a quantidade de obstáculos que enfrentamos no nosso dia a dia. Alta dos preços de instrumentos musicais, download ilegal, serviços de streaming que pagam um valor ínfimo por música executada, produções locais que não seguem contratos e artistas buscando seu lugar ao sol.

Esse título pode parecer óbvio em um primeiro momento, mas como a grande parte da nossa indústria não acompanhou as recentes mudanças que aconteceram no mercado nos últimos anos, esse tema deixa de ser óbvio e passa a ser uma grande incógnita na nossa realidade. Infelizmente, a não utilização das plataformas digitais nos deixa alguns passos atrás de outros segmentos de mercado que utilizam essa mídia com maestria.

Não estamos falando aqui, caro leitor, de serviços de streaming ou participação de artistas em redes sociais, mas de uma área que é basicamente a base de todo o processo musical: as empresas de instrumentos musicais.

Contextualização: Consumo do meio digital no Brasil

Pra entendermos melhor sobre esse assunto, precisamos primeiro contextualizar o cenário em que estamos inseridos. As mudanças ocorridas no mercado, principalmente com o surgimento da internet (em meados dos anos 1990 no Brasil), das novas mídias e das redes sociais, alteraram a forma de trabalho dos profissionais, inclusive da área musical.

Alguns estudiosos da comunicação afirmam que a revolução nos meios de comunicação provocou uma mudança determinante na forma de interação entre os indivíduos, no modo como cada um poderia se relacionar e estar em contato com outros ao seu redor. Esse fato é extremamente determinante para o profissional da indústria da música: interação entre indivíduos.

A mídia de massa é caracterizada por um conteúdo homogenizado, ao contrário da mídia digital, que é completamente interativa. O mercado mudou. E essa plataforma (que já não é tão nova, mas que passa por mudanças constantes) ajuda a mídia a chegar ao seu potencial cliente de maneira mais seletiva. É uma nova dinâmica.

O processo de transformação por que passou e passa a sociedade contemporânea, a chamada globalização, se caracteriza por essas novas dinâmicas e tem imposto profundas modificações na sociedade, abrangendo, notadamente, o setor da cultura musical.

Desde a segunda metade dos anos 1990, estamos vivendo um processo de transição da indústria fonográfica. Vivenciamos a desvalorização vertiginosa da venda de formatos convencionais, como o CD e o DVD, a valorização da execução das músicas no formato “ao vivo” e principalmente a busca por novos modelos de negócios. A crescente utilização das novas tecnologias e das redes sociais gerou uma reorganização do mercado. E as plataformas digitais têm uma grande relevância na estratégia da comunicação e circulação de conteúdo.

Mesmo trabalhando com música, vivendo música e respirando música, é incomum ver ações de empresas de música focadas para o ambiente digital. Geralmente, você vê um banner com uma promoção de um instrumento musical. Ok. Mas o mundo digital não é só isso.

Mas como utilizar corretamente as plataformas digitais?

Não existe um manual ou regras que ensinem como ser “fera” em mídias digitais. Depende do seu planejamento e da sua estratégia. O importante é marcar presença nessas plataformas.

As empresas musicais têm o costume de utilizar apenas a mídia offline para todas as suas ações publicitárias e institucionais. Seja com exposições nos pontos de vendas ou anúncios em revistas. Não estou defendendo que você deva parar de anunciar na sua revista preferida, mas sugiro que não deixe de levar em conta a mídia digital. Se seu planejamento comporta esse tipo de mídia e atinge seu target, vamos em frente e anuncie.

Porém, no meio digital você tem uma gama muito maior de oportunidades, com resultados que podem ser mensurados de maneira bem mais rápida e com monitoramento do comportamento do seu público. Assim, você pode sempre direcionar a sua próxima campanha.

É importante ter ações especiais no ponto de venda? SIM! É super bacana. Mas quantas pessoas são realmente impactadas com essa ação?

Que tal um exemplo?

Você que apresentar sua nova linha de guitarras. O que você pode fazer?

- Segmentar anúncios por clusters (grupos) específicos de pessoas, como homens e mulheres, de 35 a 45 anos, que são da classe B e possuem interesse em rock internacional;

- Definir quantas vezes a sua campanha irá aparecer para o público;

- Escolher sites confiáveis para exibição da sua marca;

- Monitorar o comportamento do seu público e ver qual a percepção dele sobre o seu produto;

- Oferecer feedback exclusivo e personalizado para cada potencial comprador;

- Exibir uma relação de lojas mais próximas à casa do consumidor ou lojas online que já são parceiros da sua marca (melhorando ainda mais a comodidade do músico na hora de comprar o instrumento);

- Segmentação por cidade, estado ou país (em alguns locais do globo, temos segmentação até mesmo por CEP!);

- Apresentar vídeos de reviews e demostrações de outras pessoas com o instrumento para o público;

- Utilizar um investimento MUITO MENOR do que em ações offline, mas com um alcance muito maior.

São várias as opções para direcionar o produto certo para o público certo.

Posso usar o Facebook e o Google? Claro! Mas não se esqueça: engajamento, posicionamento e reforço de marca são ESSENCIAIS (sim, em letras garrafais para que você, leitor, não se esqueça) para o seu negócio. Faça boas campanhas institucionais. O seu consumidor com certeza lembrará de você no momento da compra.

Quer um último incentivo para investir nas plataformas digitais? A sua marca pode estar no bolso do seu consumidor. Com apenas alguns toques na tela do smartphone, o seu produto estará visível para o seu público. Segundo a pesquisa Mídia Dados, o número de pessoas que utiliza o 4G do celular aumentou 8 vezes de 2014 para 2015. É impossível ficar de fora.

Corre que dá pra acompanhar!

O comportamento e a mentalidade de toda uma geração mudou. E mesmo com esse atraso na indústria da música, ainda dá para recuperar o tempo perdido.

E independente do que aconteça daqui pra frente, lembre-se: não fique fora do ambiente digital. Não é só com posts em redes sociais que sua marca vai causar uma mudança no cenário. Use e abuse de um universo de oportunidades. O fator econômico, o cenário atual do país, tudo contribui para o desenvolvimento do setor, é claro. Mas o que você, que movimenta a indústria da música, faz para mudar o cenário da sua empresa no ambiente digital?

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Paula Moreira de Souza
Studio Sol

Graduada em Publicidade e Propaganda e pós-graduada em MBA de Gerenciamento de Projetos pela Fundação Getúlio Vargas.