O pedido
-Frito ou ensopado?
Minhas mãos suam sob a mesa. O guardanapo de pano está condensado como um algodão entre meus dedos e a palma da minha mão. Não se pode mais imaginar que, aberto, cubra grande parte das coxas durante a refeição. As pupilas negras do homem me observam do alto enquanto a caneta em sua mão treme com a ponta firme no bloquinho branco. As sobrancelhas baixas e juntas me aguardam.
O restaurante inteiro me observa.
A música pára.
O teto está agora a cinco…
sete…
dez metros da minha cabeça.
Meu corpo escorrega na cadeira querendo apenas se juntar aos sapatos ainda com forte cheiro de couro novo. Minhas unhas já marcam minha mão. A respiração se intensifica.
Hesito.
Olho de um lado para o outro. Com o corpo adaptado à curvatura do espaldar, deixo o guardanapo embolado cair. As pupilas miram o objeto embolado e esquecem, por fim, se será frito ou ensopado.