Faster, Pussycat! Kill! Kill! (Russ Meyer — 1965)

Larissa Goya Pierry
Subvercine
Published in
3 min readOct 1, 2018

Publicado originalmente no Tumblr em 20/05/2016

Esse filme singular que, se fosse traduzido para o português, perderia totalmente seu título mágico, é a obra mais conhecida do Russ Meyer. Já falei dele por aqui, ele também foi o diretor de um dos filmes mais geniais que descobri nos últimos meses: Beyond the Valley of the Dolls (1970), junto com o Roger Ebert, ele escreveu esse roteiro, cheio de sátiras e exageros.

Com Faster, Pussycat! não é diferente. De modo geral, dá pra dizer que esse filme é uma coletânea de momentos irônicos e clichês, com situações absurdas e muitas vezes engraçadas…resumindo, tudo o que poderia acontecer com 3 mulheres usando couro/roupas apertadas e dirigindo carros velozes, realmente acontece! Mas é o extremo oposto do que qualquer pessoa imaginaria, pois, ao invés de mostrar essas 3 mulheres como sexo frágil ou apenas objetificadas, o diretor as coloca como malandronas prontas a quebrar a cara de qualquer pessoa que as desafiar.

A líder do grupo e ícone do filme, sem dúvidas, é a Tura Satana, atriz natural do Japão. Em minha opinião, é a personagem dela, “Varla” (até o nome soa impositivo) quem dá o molde pro filme, não somente através do seu visual, extremamente sexualizado e quase andrógino, como através de sua personalidade dominadora e fálica…que ela usa inclusive contra as outras mulheres. Além de Varla, o trio também é composto por Rosie e Billie, que completam o espectro de personalidades femininas subversivas.

Go go dancers, carros velozes no deserto, roupas de couro, minissaias, violência feminina contra homens, caça ao tesouro, combates físicos e plot’s twists são o que tornam esse filme especial e delicioso de se assistir.

Ao final, temos as questões de sempre: sim, tudo bem, temos um filme com uma representação de gênero subversiva, pelo menos para a época, afinal, não tem como dizer que uma história onde as mulheres são mostradas como dominadoras e tão “espertas” quanto os heróis aventureiros daquela época não é transgressor!

Apesar disso, temos o outro lado, pois a história ainda é escrita por um homem e por ter uma alta carga de sexualidade e violência, também apela para homens. Vemos um contexto onde as mulheres são retratadas de forma diferente do “sexo frágil” mas, por oposição, são masculinizadas para se aproximar de um ideal de mulher diferente, o que de certa forma também é opressor.

Entre polêmicas e questionamentos, sempre é bom se desligar por um tempo e curtir um clássico cult que consegue não se levar tão a sério e ser subversivo através do humor nonsense. Enjoy!

--

--

Larissa Goya Pierry
Subvercine

Psicóloga. Feminista. Escrevo umas coisas por aí. Apaixonada por Cinema, Literatura, Música e pelas belas estranhezas da vida.