Vagabond — Sem Teto nem Lei (Agnès Varda, 1985)

Larissa Goya Pierry
Subvercine
Published in
3 min readOct 1, 2018

Publicado originalmente no Tumblr em 12/05/2016

Seguindo minha lista dos filmes favoritos de 2015, o próximo a ser postado seria “Cléo das 5 a 7? da diretora francesa Agnès Varda, precursora do movimento vanguardista de cinema nesse país (sim, nouvelle vague, se não sabe o que é, procura agora!) e influenciou muitos diretores e principalmente diretoras. Acredito que o simples fato de uma mulher dirigir um filme já seja uma grande conquista, agora, conseguir se manter nesse ramo de trabalho e criar obras tão significativas, poéticas, belas e tristes, é ainda mais admirável e inspirador.

Seriam esses os adjetivos que eu usaria pra descrever esse filme porreta da Varda, com certeza. Não apenas é um lindo road movie sobre uma pessoa viajando pelos arredores da França, com todo o gosto e graça aventureira que esse tipo de filme nos apresenta, é, antes de tudo, um filme sobre uma mulher andarilha (Sandrine Bonnaire), como o título diz “sem teto nem lei”, isto é, em uma sociedade em que as mulheres devem estar sempre “resguardadas” por uma instituição ou outra (família, marido, igreja, escola, trabalho), uma mulher que escolhe largar tudo para viajar por aí sozinha, é algo bastante raro de se encontrar.

Esse filme está cheio de raridades, o tom quase documental dá um ar de realidade, e o tom intimista em que Mona Bergeron conta sua própria história, abre espaços para várias eras ainda por vir, para que outras mulheres também compartilhem suas subjetividades, prisões e momentos de êxtase.

Para finalizar, esse filme me lembra uma frase do livro “Os Vagabundos Iluminados” do Jack Kerouac:

“Get yourself a hut house not too far from town, live cheap, go ball in the bars once in awhile, write and rumble in the hills and learn how to saw boards and talk to grandmas you damn fool, carry loads of wood for them, clap your hands at shrines, get supernatural favors, take flower-arrangement lessons and grow chrysanthemums by the door, and get married for krissakes, get a friendly smart sensitive human-being gal who don’t give a shit for martinis every night and all that dumb white shit in the kitchen”

ou

“Consiga uma cabana não tão distante da cidade, viva barato, vá festejar nos bares de vez em quando, escreva e vagueie nas colinas e aprenda a cortar tábuas e conversar com avós seu maldito tolo, carregue montes de madeiras para elas, bata palmas perante altares, consiga favores sobrenaturais, aprenda lições de arranjo de flores e cresça crisântemos perto da porta, e se case pelo amor de deus, consiga uma menina amigável sensível e esperta que não dê a mínima para martinis toda noite e toda aquela merda branca e estúpida na cozinha.”

A diretora, Agnès Varda.

--

--

Larissa Goya Pierry
Subvercine

Psicóloga. Feminista. Escrevo umas coisas por aí. Apaixonada por Cinema, Literatura, Música e pelas belas estranhezas da vida.