Das Sociedades de Massas às Sociedades de Matizes

Suely Souza Lima
Suely Souza Lima
Published in
3 min readMar 27, 2017

Estamos vivendo um momento único e novo em nossa história. As massas se manifestam, mas não temos um único líder em sua condução, temos uma dispersão. Isto faz uma grande diferença!

Detecta-se uma grande transformação histórica que é o aparecimento das redes sociais, atuando politicamente com grande força. Estas são potências, virtualidades, que podem suscitar novas formas do atuar no social. Isto muda muito; a questão da representabilidade entra em cheque, pois, estamos passando de uma época de ¨representações¨ à uma época de ¨apresentações¨ em tempo real. Como podemos pensar a questão das representações políticas em um tempo histórico de redes sociais? O modelo das representações políticas não servem mais?

Precisamos de políticos que recolham as apresentações que a população está produzindo nas ruas e passem a metabolizá-las¨ e catalisá-las¨ sem trair os desejos e compromissos daqueles que os elegeram e os colocaram em um lugar de poder.

Com as redes sociais criam-se a possibilidade das auto-organizações das massas mas, concomitantemente estas deixam de ser sociedades de massas e passam a ser sociedades de matizes. Perde-se aquela indiferenciação própria das massas que obedecem a comandos definidos e passam agora para uma multiplicidade de comandos com muitas tonalidades.

De seu computador, cada usuário pode emitir a sua opinião em tempo real no ciberespaço. Isto mostra que estamos superando a era das puras representações, pois, estas emissões são agora compartilhadas, (não ao acaso mas, em cada compartilhamento pulsa um desejo) ao mundo e depois retornam ao emissor. Temos , portanto, diferentes espaços se articulando em simultaneidade. Estes espaços virtuais produzem redes que se auto -organizam. Esta mescla, espaço virtual e espaço público, entram em interação e isto é o novo. Produzem novas expressões políticas.

Este é um diagnóstico. As representações, não mais dão conta desses processos. As apresentações estão sendo incorporadas em tempo real às redes sociais. Os rumos que as manifestações estão tomando basculam entre o caos e a ordem. Não temos garantias, porém sabemos que estas novas formas geradas nas multidões podem ser criativas e precisam ser ouvidas para que possam catalisar mudanças, pois das turbulências surgem auto-organizações. Neste sentido o caos não é confusão, dispersão ou bagunça. Neste momento de planetarização que caracteriza o nosso momento histórico existe a necessidade de captarmos estas novas formas que estão pulsando no social. Com a produção/ criação destas auto-organizações provenientes das expressões desejantes dessas multidões faz com que pensemos em novos manejos da democracia. De que maneira podemos articular esse paradoxo que são os partidos políticos e as expressões apartidárias?

Como podemos trafegar democraticamente por esse paradoxo? Estas questões são as novidades destas manifestações.

Para analisarmos este acontecimento que tem características caóticas, sugiro algumas ferramentas: o caos é um potencial e nesse sentido ele é um virtual que produz auto-organizações. Para que estas sejam captadas precisamos de alguns elementos, pois a sua produção emana dos diversos matizes que estão sendo pulsados nas multidões.

Para captarmos estes novos matizes, que são puras diferenças, precisamos reconhecer a produção destas auto-organizações, pois elas são usinas das novidades provenientes das multidões. Como podemos chegar às expressões de desejos das populações, decifrá-las e traduzi-las em informações que possam mostrar os campos de força presentes nelas?

Precisamos pensar em pelo menos três operadores para lidar com estes matizes. São eles: referências, consistências e consequências. Criando o campo das referências os campos de forças contidos nas manifestações sociais/subjetivas são historicizados. Dar consistência a esses campos de intensidades é descobrirmos suas vigas mestres, ou seja, nomear seus alicerces, portas e telhados.

A característica principal de uma auto-organização é sua capacidade de metabolizar acontecimentos. Isso gera consequências irreversíveis no social. Podendo nomear estes operadores criam-se a possibilidade de nos aproximarmos das potencialidades caóticas e dar-lhes novos rumos, produzindo novos universos de articulações políticas provenientes dessas intensidades. As emanações das multidões pulsam no campo do coletivo abrindo janelas para novas ações políticas.

Texto originalmente publicado em 05/07/2013.

Alcimar Alves de Souza Lima
Médico, Psicanalista, Profº Instituto Sedes Sapientiae

--

--

Suely Souza Lima
Suely Souza Lima

Pedagoga, Psicoterapeuta Junguiana, Psicodramatista, Especialista em Desenvolvimento Comportamental, Life Coach em Programas de Liderança e Escritora.