Instigue a cultura empreendedora no seu time.

Jaison Erick
Zygo Tech
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4 min readNov 30, 2015
Photo: Ryan McGuire. Creative Commons Zero

Eu já fui muito centralizador, gostava que os projetos que eu liderava fossem largamente influenciados por mim. Gostava de me sentir “necessário”. Ao mesmo tempo que eu me sentia importante, eu me sentia esgotado, pois a maior parte do meu dia era gasto em função de mostrar aos outros como era o meu jeito. Eu não via inovação. A maioria das pessoas perdem a vontade de fazer algo novo quando não são encorajados e desafiados a pensar por si mesmos.

O desafio de um projeto é muito semelhante ao desafio de um empreendedor. Quando estou desenvolvendo um software preciso entender o problema, quem vai usar o que estou fazendo, entender como outras pessoas estão envolvidas e só então realmente fazer algo a respeito. Em muitas empresas (e como era o meu caso) os desenvolvedores não são incentivados a percorrer todo esse trajeto. Existem algumas pessoas que pensam, e outras que executam.

Ao mesmo tempo que os que pensam sentem-se valiosos para a organização, eles se sentem esgotados. Na descrição da vaga você coloca “Proativo”, mas me responda, como ser proativo se você não tem a base para tomar decisões? Não estou falando aqui da capacidade de tomar decisões, ou competência. Digo de ter informações completas sobre o projeto e como ele se estende além da sua área. “Pode programar como está especificado, você não precisa se preocupar com as especificações, pode deixar que já fizemos esse trabalho.”, diz o analista de negócios.

Dar mais autonomia significa instigar que todos exerçam o empreendedorismo. Significa o analista de negócios pedindo ao programador para olhar a especificação e questionar se o problema realmente está sendo resolvido.

Uma cultura é algo que permeia todas as camadas de uma organização, ou seja, não pode ser moldada pelos seus caprichos. Se eu decido pela proatividade da minha equipe e por despertar o empreendedor de cada um, eu não posso exigir que este aceite o que eu quiser em um momento em que estou com pressa de lançar algo para um cliente.

Parte de incentivar uma cultura empreendedora, é ajudar os outros a serem melhores empreendedores, ou seja, entender quando algo precisa ser feito com um pouco mais de urgência, pois impacta na felicidade do seu cliente. Em uma cultura empreendedora de fato, o profissional não vai ficar comentando pelos corredores como ele precisou fazer algo correndo por que você mandou. Ele vai realmente entender o motivo pelo qual ele precisou fazer algo correndo (se é que ele vai precisar).

Na minha opinião, o empreendedor é aquele que tem capacidade de identificar problemas e articular sua resolução, normalmente resolvendo o problema através da colaboração com outras pessoas. Como praticamente todo trabalho envolve a resolução de problemas, qualquer um tem um “eu” empreendedor internamente.

Essa minha noção de o que é o “empreendedor” é novidade pra mim. Na minha concepção original do termo, empreendedor era alguém que tinha uma idéia e fazia essa idéia virar realidade. Parece a mesma coisa certo? A grande mudança na minha visão é que qualquer um com muito dinheiro pode fazer uma idéia virar realidade, e ainda assim não ser um empreendedor.

Eu posso contratar diversos programadores, designers, vendedores, etc. montar um time, colocar a idéia na mesa e fazer com que eles façam o trabalho por mim. Claro, as chances de sucesso são muito baixas, pois esse seria um projeto sem alma, mas no acaso de um projeto assim funcionar, certamente nessa equipe existem empreendedores. Não o “dono” da idéia, mas aqueles que ele contratou.

Se alguém sem a vontade de empreender, juntando diversos empreendedores consegue fazer algo funcionar, imagine se estes empreendedores tiverem um líder também empreendedor. Alguém que tenha vontade de pegar junto no trabalho, que não se importe de sujar as mãos.

O maior desafio de instigar a cultura do empreendedorismo na sua equipe é o Ego. “Eu sou o dono da idéia, eu quero dizer para onde ela vai”. Você teve uma idéia, ela é sua criança. Você vai tomar conta dela, ensinar por onde ela deve andar, ou pelo menos essa é sua intenção. A verdade é que idéias não são realidade. Alguma coisa da sua idéia vai sim se tornar realidade, mas em grande parte dos casos, não do jeito que você pensou.

Já que sua idéia não vai ser exatamente como você pensou, o que acha de se apegar apenas a “big picture”? Você teve uma idéia pois tinha um problema em mente que gostaria de resolver. Se apegue ao problema, tenha certeza que o problema é resolvido, mas dê liberdade e solte as amarras da sua equipe para que eles determinem como esse problema pode ser resolvido. Deixe o espírito empreendedor deles guiarem suas decisões, levando o projeto a caminhos que nem você pensava ser capaz.

Se você fizer um projeto focado em você, o limite da sua capacidade é o limite do seu projeto. Ao invés disso, foque no problema, e deixe sua equipe somar às suas idéias, e o seu projeto não terá limites.

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Jaison Erick
Zygo Tech

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