Cry Macho: O Caminho para Redenção — A desconstrução da cultura do macho.

Sunça
Sunça no Cinema
Published in
3 min readNov 4, 2021

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Um debate sobre o velho e o novo, e a interação entre o mestre e seu aprendiz.

Título Original: Cry Macho.

Direção: Clint Eastwood.
Roteiro: Nick Schenk, N. Richard Nash (baseado no romance Cry Macho, de N. Richard Nash).

Elenco: Clint Eastwood, Dwight Yoakam, Eduardo Minett, Natalia Traven, Fernanda Urrejola, Horacio Garcia Rojas, Alexandra Ruddy, Ana Rey e Paul Lincoln Alay.

País: EUA
Duração: 101 min
Estreia: 16/09/2021

Em 1971 Clint Eastwood apresentou seu primeiro trabalho de direção, o longa: “Perversa Paixão”. Cinquenta anos se passaram, e agora, em 2021, Clint aos 91 anos estrela e dirige “Cry Macho: O Caminho para a Redenção”. A obra não esconde a idade de seu protagonista. Ele é um nonagenário e isso dita a narrativa e o ritmo da obra. Não à toa, em determinado momento ele afirma: “Eu não posso curar velhice”. A trama do filme se passa em 1979 e Eastwood é o ex-caubói Mike Milo, que recebe uma missão de um antigo chefe. Essa simples premissa é o que se faz necessário para a construção de uma ponte entre o personagem e a própria vida e carreira do ator. O importante é o debate entre o velho e o novo, a interação entre o mestre e seu aprendiz e a desconstrução da cultura do macho.

Situações, acontecimentos, outros personagens e até seu próprio preparo físico, relembram Mike de sua idade. Assim a obra se coloca como uma vivência cotidiana, um senhor de idade avançada que se vê obrigado a viver novas aventuras e perceber que a vida ainda é repleta de oportunidades. O protagonista é um peão de rodeio aposentado que perde seu atual emprego. Um ano depois recebe de seu ex-chefe, Howard Polk (Dwight Yoakam), a tarefa de buscar seu filho de treze anos no México. O garoto rebelde, Rafo (Eduardo Minett), sofre abusos de sua mãe e o pai o quer de volta. Mike Milo encontra o garoto em uma briga de galos com seu animal campeão nomeado: “Macho”. Os dois partem em uma viagem de volta ao Texas. Mike e Rafo apresentam uma química confortável apesar de o roteiro não entregar profundidade para a relação.

Durante o percurso os dois se tornam amigos e juntos vivem uma jornada repleta de descobertas. A trama funciona como um faroeste moderno, apesar de não se preocupar em sugerir uma grande importância para seus acontecimentos. Seus planos são claros, limpos e diretos. O ritmo é lento e suas sequências têm mais tempo que o de costume para acontecer. Seus conflitos e momentos dramáticos não recebem destaque e em sua maioria são resolvidos de forma cômica ou anticlimática. Os momentos simples e cotidianos são o que realmente importam e o que nos trazem reflexões. O protagonista está sempre tentando ajudar os demais personagens e aos poucos abraçando as novas oportunidades de uma vida que parecia sem perspectivas.

A narrativa é simples, conta uma história clichê, com um romance apressado e alguns diálogos expositivos. Porém esses problemas não conseguem tirar o brilho do debate que o diretor propõe sobre a velhice, sua carreira e a desconstrução da masculinidade idealizada. Mike Milo tenta mostrar a Rafo que a ideia de “macho” é uma grande bobagem. Rejeitando os ideais de masculinidade que o próprio Clint Eastwood representou por anos nas telas. Milo percebe que é no cotidiano e na generosidade que se encontra alguma satisfação e alegria.

“Cry Macho: O Caminho para a Redenção” é a experiência de assistir Clint Eastwood aos 91 anos desconstruir e reconstruir a si mesmo. Não é sobre a proximidade da morte ou sobre o fim da vida. Mas sobre a necessidade de fazer escolhas e tomar decisões. É sobre o dia-a-dia e as oportunidades que ele nunca para de nos oferecer.

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Às vezes certo, às vezes errado, nunca com razão.