Jungle Cruise — Inspirado em clássicos mas sem uma experiência própria.
Bons personagens em um mundo fantástico passando por aventuras genéricas.
Título Original: Jungle Cruise.
Direção: Jaume Collet-Serra.
Roteiro: Michael Green, Glenn Ficarra, John Requa, John Norville e Josh Goldstein.
Elenco: Dwayne Johnson, Emily Blunt, Édgar Ramírez, Jack Whitehall, Jesse Plemons, Paul Giamatti, Veronica Falcón, Dani Rovira, Quim Gutiérrez, Andy Nyman.
País: EUA
Duração: 127 min
Estreia: 30/07/2021
“Jungle Cruise” é a nova tentativa da Disney de produzir uma franquia no estilo “Piratas do Caribe”. Ambas iniciativas foram criadas a partir de uma atração do parque que teve seus elementos expandidos e, ao seu redor, foi criado um universo mágico. A sequência está garantida pelo estúdio e a nova série foca na ação e aventura, com o enredo sobre caçadores de artefatos perdidos. Inspirado em clássicos como “Tudo por Uma Esmeralda”, “Uma Aventura na África”, “A Joia do Nilo” e “As Minas do Rei Salomão”. A obra se constrói sobre um trio de protagonistas com a dinâmica de “A Múmia”, um vilão alemão estilo nazista que também está atrás do objeto em questão. Assim como em “Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida”. Tudo isso em um mundo mágico cheio de lendas, mistérios e inimigos amaldiçoados. Seguindo o caminho de “Piratas do Caribe”.
Lembrar e se inspirar em filmes do gênero não é necessariamente algo ruim, mas pode soar repetitivo e cansativo. Dito isso, “Jungle Cruise” começa bem, dedicando sequências de apresentação a cada um de seus personagens, desenvolvendo suas personalidades e colocando o trio protagonista junto para assim iniciar a jornada. No início somos surpreendidos com o cenário onde tudo vai acontecer, a Amazônia. Quando chegamos na cidade de Porto Velho em Rondônia, percebemos como é pobre a representação brasileira no filme. A caracterização do Brasil se dá através de menções a dengue e a anaconda, nossa cultura e costumes não são representados. A imagem do indigena é estereotipada e a falta de cuidado é tamanha que fica sugerido que no Brasil se fala espanhol. Vale notar que, para a obra, a cento e cinco anos atrás a moeda brasileira era o Real. Os roteiristas sequer imaginaram que nestes anos todos poderíamos ter mudado de papel-moeda. Essa falta de pesquisa histórica empobrece o filme e na prática o que temos é uma aventura genérica que poderia se passar em qualquer rio próximo a uma floresta.
Frank (Dwayne Johnson) é um capitão de barco que sobrevive tirando proveito dos turistas. O ano é 1916 e a cidade de Porto Velho também atrai gananciosos que buscam se enriquecer com lendas. A Doutora Lily Houghton (Emily Blunt) e seu irmão MacGregor Houghton (Jack Whitehall) chegam na Amazônia em busca de uma árvore, que segundo a lenda, as pétalas podem curar todas as doenças. No Brasil Lily contrata Frank para levá-los em busca da lenda.
Frank é um personagem que não é confiável, mas pede desculpas após trair alguém. Faz piadas de tiozão, ele é o brucutu bonzinho. Um personagem que funciona pelo grande carisma do The Rock. Lily é aventureira e inteligente, uma figura forte e determinada. Porém seu arco dramático se resume a busca pelo item mágico e infelizmente ela perde o protagonismo ao longo da trama. Seu irmão Jack é um personagem interessante e cômico. Ele discretamente assume sua sexualidade em uma conversa com Frank, o que é um marco importante para os filmes família da Disney. Mas o texto do longa o coloca como uma figura frágil, vaidosa e em situações de mal gosto. Uma representação estereotipada que enfraquece o personagem e a importante iniciativa da empresa. Príncipe Joachin (Jesse Plemons) é um protótipo de nazista caricato que busca as pétalas para usar em seu exército e vencer a primeira guerra mundial. O que surpreende nesse personagem é como Jesse consegue “entrar na brincadeira” e construir um personagem eficiente.
O diretor Jaume Collet-Serra não sabe aproveitar o potencial da ambientação na selva amazônica e do rio Amazonas. São cenários que oferecem muitas possibilidades e pouco foi utilizado. As cenas de luta e ação são bem construídas e misturam o humor com a tensão. Muitas dessas sequências parecem planejadas para evocar a sensação de se estar em uma atração da Disney. No geral é um trabalho de direção padrão. Apesar de um bom primeiro ato que sabe apresentar seus personagens, utilizando suas características em conjunto com os cenários e o encanto da ambientação. Os efeitos especiais não ajudam. Ambientes são bem construídos e passam a ideia de grandiosidade e beleza. Mas o CGI falha em alguns momentos, ficando claro que os atores estão atuando diante de telas verdes e que os animais com os quais interagem não estão lá.
“Jungle Cruise” é um divertido filme para toda a família. Mas se estabelece como uma produção genérica. A árvore mágica e suas pétalas existem apenas para que várias situações aconteçam, sem ter um impacto maior na trama. Os vilões amaldiçoados tem pouco tempo de tela e aparecem pontualmente para mover os personagem de um local para o outro. Durante toda a trama existe a construção de um romance que não funciona. São bons personagens em um mundo fantástico passando por aventuras genéricas. É um filme inspirado em vários clássicos mas que se esquece de criar sua própria experiência.