Camelo olhando para as pirâmides do Egito

Ser um profissional Startup ou profissional Camelo no pós pandemia?

Miguel de Moraes
Supernova cc
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5 min readMay 6, 2020

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No ano passado eu participei de um treinamento de alta performance para me atualizar e fazer network. Um dos colegas que eu conheci estava muito empolgado. Havia sido promovido recentemente em uma grande empresa. Ele tinha apenas um objetivo: ser um profissional Startup. Na hora eu achei interessante aquele cara de vinte e cinco anos que às nove da manhã de um sábado parecia ter tomado duas latas de energético, se ver dessa forma. Perguntei o que seria um profissional Startup, e nas palavras dele, é um profissional jovem e dinâmico do século XXI, que supera as expectativas e resultados de forma simples e moderna, que cresce rápido e passa a valer um bilhão de dólares para a empresa. Aos trinta ele planejava ter um cargo executivo.

Depois do treinamento nunca mais o vi, mas guardei comigo o conceito de profissional Startup. Passei a observar que, embora esse fosse um pensamento muito particular, era cada vez mais comum encontrar esse perfil profissional.

Atualmente, com a pandemia do coronavírus o mercado de trabalho se tornou uma grande incerteza. Ainda não sabemos como os cenários ficarão em um, dois ou seis meses. Cortes de salários, desligamentos, falências, planos adiados ou cancelados. Com isso os profissionais, assim como empresas tradicionais e Startups precisarão passar por uma grande transformação para sobreviver ou voltar ao mercado.

Foi então que li no Pulse do Linkedin o artigo do Lucas Marques, COO na Méliuz. Aqui ele traça um paralelo sobre como as Startups devem deixar de lado a obsessão de se tornarem belos unicórnios, e trabalhar com o conceito de Camelos. É, isso mesmo, aquele bicho estranho do deserto. Para uma Startup se tornar um unicórnio ela precisa valer, ou receber um investimento de um bilhão de dólares. Para ser uma Startup Camelo, nas palavras do Lucas essas empresas precisam ser da seguinte forma: “se adaptam a diversos climas, e podem sobreviver sem comida e água por diversos meses e, quando precisam, podem correr por grandes períodos de tempo … essas Startups têm mais chance de sobreviver no longo prazo, já que desde o day one, balanceiam fluxo de caixa com crescimento contínuo.”.

Então, se as Startups devem ter uma visão menos acelerada, focada em sobrevivência sustentável e mais segura, o perfil dos profissionais também deve seguir a mesma lógica. Para isso eu usei o modelo apresentado no texto, mostrando como essas pessoas podem começar a se preparar durante a pandemia:

1 — Sem subsídios

São muitas as pessoas que permanecem em uma empresa por causa dos benefícios. Alguns recebem mais em benefícios do que em salário. Com isso vão construindo suas vidas sobre eles e não sobre a remuneração adequada para seu trabalho e custos de vida. Sair do emprego e não ter mais o vale alimentação e/ou refeição para comer coisas que não deveria? Gympass para não usar? Descontos em coisas que não vai consumir? Mas agora, se o salário for reduzido, as contas serão pagas com o ticket? Os profissionais Camelo irão focar naquilo que realmente garante sua renda liquida, que gira a roda da abundância e faz jus ao valor de seu trabalho. Devem ser capazes de sobrevier em períodos de escassez com suas entregas e não por detalhes.

2 — Gerenciando custos

Ainda sobre receber por seu trabalho, os profissionais Camelo precisarão fazer contas, gerar mais renda e menos despesas. Aprendemos que situações inusitadas podem acontecer e simplesmente mudar as verdades. De[Md1] uma forma muito simples percebemos que ter apenas uma única forma de receita contra várias de despesas não é sustentável. Os investimentos irão além de bens materiais ou status. Precisarão pensar em ambientes adequados para home office, melhor conexão de internet, celulares mais potentes para reuniões e múltiplos APPS, morar em locais que ofereçam qualidade de vida pessoal e profissional com custos reduzidos, e principalmente um processo constante de atualizações em suas soft e hard skills, bem como reservas financeiras. Dessa forma, será bom considerar ter mais de uma fonte de renda que não conflite com a principal e não cause desgaste físico e mental.

3 — Captação de investimentos na medida certa

Quanto vale a sua vida? Isso mesmo. Não será apenas um salário alto que precisará ser avaliado. O isolamento social está mostrando o quanto o contato com pessoas, proximidade e convivência são importantes. Trabalhar ao infinito e não ter tempo por causa de um alto salário e bens materiais cobrirá a perda de momentos ao lado de quem se gosta, ou até consigo mesmo? As exigências profissionais irão aumentar, principalmente com o home office se tornando realidade, o ambiente profissional e familiar se tornará um só. Mais do que nunca seu trabalho deverá ser remunerado de forma adequada não apenas relacionado ao seu cargo, mas a uma vida que você precisa viver. Não digo para abrir mão da carreira, mas será preciso aprender a administrar muito bem a condução dela. Em 2019 a síndrome de Burnout foi reconhecida pela OMS em como “síndrome resultante de um stress crônico no trabalho que não foi administrado com êxito”. De acordo com dados Associação Brasileira de RH (ABRH), entre 2017 e 2018 os afastamentos relacionados ao Burnout cresceram 114,8% no Brasil. Como um profissional Camelo, será preciso estar muito atento aos sintomas interno e externos para que no pós pandemia você possa caminhar de forma saudável.

4 — Pensamento de longo prazo

Estar empregado para a vida toda é coisa do passado. Queira ser empregável para a vida toda! Ter ambição e planejar uma carreira, almejar um C-Level é muito bom, mas e depois? Esse mesmo rapaz que queria ser executivo aos trinta, em algum momento começaria a ter menos promoções, afinal os degraus vão diminuindo e, com isso, as frustrações viriam. E depois? Tirar um período sabático, mudar de empresa ou abrir uma? E se nada acontecer como planejado, para que lado vai? Não adianta apostar todas as fichas naquilo que seus olhos podem ver, é preciso ter algumas na manga para futuras apostas.

Conclusão

Os profissionais que resistirão ao novo cenário precisarão ter sim a energia e disposição de uma Startup. Buscarão cada vez mais inovação e diferenciação no mercado que tende a contrair por um bom tempo. Mas, precisarão ter disciplina e resistência de Camelo, afinal, essa não é uma crise econômica mundial como em 2008 ou uma crise política nacional como em 2016. É algo que afeta ao mesmo tempo todos os lados de diferentes maneiras, e você precisa saber lidar com cada um deles. Ainda iremos passar por muitas mudanças, deixando no século XX o discurso de vida pessoal e profissional separadas, e a glamourização de ser um profissional Startup. Se hoje começarmos a pensar como o profissional Camelo, as chances de valer “um bilhão de dólares” irão aumentar, e as possibilidades de sucessos escalonáveis serão bem mais amplas.

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Miguel de Moraes
Supernova cc

Eu gosto de gente! Somei minha bagagem como Gestor de Pessoas, Coach, Marketing, e um pouco de inovação para mostrar que dá para pensar diferente e tá tudo bem.