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Walk the talk: A (re)construção de marcas em momentos de crise

Ana Paula Lafuente
Supernova cc
Published in
6 min readJun 27, 2020

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PANdemia

PAN

prefixo que vem de origem grega que significa “todo, por inteiro”, totalidade.

Hoje, mais do que nunca, a palavra chave é pensar COLETIVAMENTE.

A nossa sociedade nunca passou, ou mesmo observou, nada parecido com o que estamos vivendo atualmente nesta crise do COVID-19.

Estamos passando não só por um abalo na saúde e no setor econômico, com também na cultura. Muitas das vezes nos deparamos com verdadeiras escolhas de Sofia. O que fazer? Precisamos salvar vidas, salvar empresas, um ou outro ou tudo ao mesmo tempo?

A disrupção é tão gigante que estamos no meio de uma neblina sem fim e não enxergamos um palmo à nossa frente. Temos, assim, zero visibilidade, ou mesmo previsibilidade, do que pode vir a acontecer.

O fato é que, após guerras e crises como esta, empresas, pessoas e sociedades saem diferentes disto tudo, nada volta a ser como era antes. Se olharmos para trás, quais será que foram as grandes oportunidades que surgiram pós 2ª Guerra Mundial, por exemplo? O que as empresas fizeram?

Será que vale olhar para a história para se ter uma ideia do futuro?

Após a 2ª grande guerra, a sociedade viu uma nova ordem econômica surgir, principalmente com a ascensão do capitalismo em um longo processo de crescimento vulgarizado como Era de Ouro. Sem me ater muito à história, até porque não sou especialista, houve de fato grandes nações que conseguiram se reerguer e encontrar oportunidades. Parques industriais cresceram exponencialmente; novas tecnologias e inovações vindas da guerra chegaram para ficar e faziam girar a grandes estruturas industriais; Iniciativas e políticas de assistência social foram desenvolvidas por governos para amparar os trabalhadores em situação de desemprego, doença e velhice; e, claro, o consumo popular passou a ser o carro-chefe da expansão da economia.

Além disso, iniciaram-se, de maneira mais rápida, diálogos entre grandes potências sobre acordos políticos e econômicos e planos de reconstrução de países para que não se repetissem os mesmos erros da Grande Depressão; alguns dos quais foram atribuídos a diversos embrolhos políticos e econômicos do pós 1ª guerra.

No que tange ao Brasil, o país nunca passou por grandes guerras, como outras nações, então não temos essa “experiência” de total (re)construção econômica, política e social. Porém, hoje, estamos sentindo e cortando na carne em várias frentes e é preciso fazer algo com agilidade, propósito e consistência para enfrentar este momento e sair dele com mais consciência. Neste cenário, marcas, empresários e sociedade possuem um papel central e essencial.

[O PAPEL DAS MARCAS]

Propósito

Tornou-se nítida atualmente a necessidade de se tomar decisões de curto prazo, acima de qualquer coisa. Não existe mais planejamento de longo prazo, marcas que não sabem porque existem, que vendem produtos/serviços sem proposta de valor. É, no meio disto tudo, que entra em cena o propósito das marcas.

Autenticidade e transparência nunca foram tão determinantes. E isto precisa se refletir nas atitudes e valores da organização, como pilares da Marca e comportamentos dos executivos. A maioria dos empresários já entendeu que deverá tomar atitudes, ações e decisões para ajudar a sociedade HOJE, porque o governo não irá e não conseguirá fazer. Entenderam que precisam trazer tranquilidade para as pessoas e as ajudar a resolver problemas.

Sendo assim, é cada vez mais latente que as marcas se posicionem, que comuniquem só o que faz sentido e o que tem propósito com a situação atual. Precisam engajar, gerar valor e criar um verdadeiro ecossistema, envolvendo todos os seus stakeholders.

Valor se constrói com disciplina e consistência. É momento de ouvir, entender e atuar. Não existe mais vender só por vender. As pessoas passaram a ser prioridade estratégica (people first).

Hoje o rei ficou nu e as marcas se desvelaram. É hora de fazer muito, de pensar propositalmente, mais do que falar (walk the talk). Acabaram as promessas vazias, deve-se fazer algo com RELEVÂNCIA, TIMING e respeito ao CONTEXTO que estamos vivendo.

Como a Ana Couto disse em uma de suas lives, as marcas precisam evoluir, construir e gerar valor equilibrando, de forma simultânea, sua oferta (produto/serviço), estrutura (modelo de negócio/processos) e cultura organizacional (mentalidade/forma de fazer). Estamos em rumo para uma sociedade cada vez mais conectada e mais humana, fiel a seu propósito e comprometida com a mudança para melhor.

Adaptar para Inovar

Como Charles Darwin já falava:

“Não é o mais forte ou mais inteligente que sobrevive, nem o mais inteligente, mas sim o que melhor se adapta às mudanças”.

Não podemos acreditar que marcas são fortes o suficiente, que basta fazer mais do mesmo. Estamos vivendo em um estado de pandemia, que ainda continuará por algum tempo e que nos força, sim, a nos ADAPTARMOS constantemente.

A lógica do mercado sempre foi oferta e demanda, e sempre será. Entretanto, diria que, além de importante, é emergencial que as marcas se atentem para as novas demandas e necessidades do seu consumidor. E, para isso, muitas delas precisarão se reinventar, INOVAR e criar novas abordagens, comunicações e tipos de entregas.

Marcas são organismos vivos, ecossistemas em constante evolução, formados por e para pessoas. Para realizar essa transição do mercado, o mindset de inovação precisa ser o ponto de partida. A visão de experimentação, mudança e incerteza precisa fazer parte da cultura organizacional da empresa e de como as pessoas agem, comprometem-se e têm liberdade dentro das organizações. Neste contexto, adaptabilidade e resiliência são palavrinhas-chave.

Não há receita de bolo. O segredo é sempre se manter relevante, fiel aos seus valores e com uma abordagem ágil durante este processo de reconstrução para, assim, “permanecerem” neste novo ambiente e cenário pós-COVID 19.

Como Darwin postulou em sua teoria, o vírus pode não atacar algumas marcas, mas irá mudar drasticamente o modo como produzimos, entregamos e nos relacionamos com todos os stakeholders. E, com isso, o consumo também deverá “evoluir naturalmente”.

Estamos vivenciando a criação de um novo e completo mindset, de um novo patamar de cooperativismo, de construção de um verdadeiro círculo virtuoso entre marcas, pessoas e sociedade. Há um verdadeira disrupção de modelos empresariais para garantir a sobrevivência; um engajamento cada vez mais crescente de marcas com a solidariedade e atuação em rede; respeito às pessoas e à vida em 1º lugar; e uma ampliação verdadeira do papel social destas marcas e empresas.

Acredito que estamos nos vendo e nos reconhecendo, cada vez mais com accountability, ou seja, mais responsáveis pelas nossas atitudes, atos e posicionamentos.

Sei que tem certas coisas que não controlamos, mas precisamos, e podemos, gerar valor, inovar e criar enquanto marcas e negócios. Precisamos colocar o nosso talento a serviço do mundo. É hora de nos perguntar, de fazer e agir diferente, de vestir a camisa da criatividade, coragem, empreendedorismo e positividade para, enfim, conseguirmos passar por essa pandemia juntos e pensando propositalmente e coletivamente. Que a trajetória de várias marcas e negócios possa permanecer como um legado positivo, diferencial e impactante pós-COVID e ajude a sociedade como um todo a se reerguer e encontrar oportunidades de crescimento lá na frente!

Até porque, como Peter Drucker já falava:

“O maior perigo nos tempos de pandemia e turbulência não é a turbulência em si, mas agir com a lógica do passado”.

Até a próxima!

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Ana Paula Lafuente
Supernova cc

Carioca e libriana, sou apaixonada por GENTE! Amo contar histórias e escrever sobre comportamento, branding, negócios, produto, e claro, muito marketing. 🌻