O maior sistema público de transplantes de órgãos do mundo

Rafael Fernandes
SUS 30 anos
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5 min readNov 27, 2019

O Brasil é, segundo a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), o segundo país do mundo em número absoluto de transplantes. É também, de acordo com o Ministério da Saúde, o maior sistema público de transplantes do mundo. Atualmente, cerca de 95% dos procedimentos realizados em todo o país são financiados pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

Foto: Felício Rocho/divulgação

O que é, e como funciona a doação de órgãos

O transplante de órgãos é um procedimento cirúrgico que consiste na reposição de um órgão (coração, fígado, pâncreas, pulmão, rim) ou tecido (medula óssea, ossos, córneas) de uma pessoa doente (receptor) por outro órgão ou tecido normal de um doador, vivo ou morto.

Após a parada cardiorrespiratória, pode ser realizada a doação de tecidos (córnea, pele, musculoesquelético, por exemplo). Estabelece-se que doação de órgãos pós morte só pode ser feita quando for constatada a morte encefálica, que é a perda completa e irreversível das funções encefálicas (cerebrais), definida pela cessação das funções corticais e de tronco cerebral, portanto, é a morte de uma pessoa.

A doação só poderá ser realizada, no caso de paciente em morte encefálica, se houver autorização de um familiar, como previsto em lei. Se os familiares não autorizarem, a doação não poderá ser realizada.

Pela legislação brasileira, não há como garantir efetivamente a vontade do doador, no entanto, sabe-se que, na grande maioria dos casos, quando a família tem conhecimento do desejo de doar do parente falecido, esse desejo é respeitado. Por isso a informação e o diálogo são absolutamente fundamentais, essenciais e necessários. Essa é a modalidade de consentimento que mais se adapta à realidade brasileira.

O doador vivo pode ser qualquer pessoa que concorde com a doação, desde que não prejudique a própria saúde. O doador vivo pode doar um dos rins, parte do fígado, parte da medula óssea ou parte do pulmão. Pela lei, parentes até o quarto grau e cônjuges podem ser doadores. Não parentes, só com autorização judicial.

A lista de espera de doação

O Brasil tem 32.716 pacientes cadastrados em lista de espera para um transplante dos seguintes órgãos: rim, fígado, coração, pulmão, pâncreas e córnea. Os dados foram divulgados pela Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO). A maioria aguarda pela doação de um rim: 21.962. Mais da metade desses pacientes está em São Paulo. Para receber um órgão, a pessoa precisa estar inscrita em uma lista de espera monitorada pelo Sistema Nacional de Transplantes. O que determina a compatibilidade é o tipo sanguíneo, a dosagem de algumas substâncias colhidas no exame de sangue e características físicas.

O segundo órgão com maior demanda é a córnea, com 8.574 pacientes na lista de espera — destes mais de 30 mil aguardam, 15.593 ingressaram no primeiro semestre de 2018 e 1.286 morreram neste período. No caso das mais de 21 mil pessoas que aguardam um rim, 5.493 passaram a esperar entre janeiro e junho deste ano e 728 não sobreviveram.

Transplantes alternativos

A ciência passou a buscar alternativas para o transplante tradicional de órgãos. Uma é mais aceita entre os médicos e outra ainda busca reconhecimento e precisa avançar para garantir segurança aos pacientes: o coração artificial.

Os corações artificiais mais antigos são importados. Eles chegam a custar R$ 600 mil no Brasil — o Sistema Único de Saúde (SUS) não cobre esse custo, mas alguns planos chegam a pagar uma parte do valor.

Centros de pesquisa, como o Hospital Sírio Libanês e o Instituto do Coração (Incor), desenvolvem pesquisas nacionais para reduzir o custo e desenvolver soluções alternativas. Para conseguir projetar esse coração artificial, houve o envolvimento de outros centros de pesquisa da Universidade de São Paulo, do Penn State Hershey, Imperial College e Fraunhofer IWS/Alemanha.

Esses ventrículos permitem que o paciente aguarde por mais tempo a chegada de um doador, que muitas vezes pode demorar meses, até anos. Entre 2005 e 2010, de acordo com o Fernando Caneo, médico assistente da Unidade de Cirurgia Cardíaca Pediátrica do Incor, o uso do equipamento nos Estados Unidos subiu de 12,4% dos casos para 20,4% — são 1.500 ventrículos implantados em adultos.

O xenotransplante é uma alternativa à doação de órgãos entre seres humanos. Esse processo é a troca de órgãos entre espécies diferentes. A ideia é boa, mas envolve alguns obstáculos, como por exemplo a transmissão de doenças. Alguns vírus encontrados em animais podem causar doenças graves em humanos.

Com esta nova técnica, os cientistas conseguiram inativar um tipo de retrovírus suíno, prevenindo dessa forma a transmissão de doenças no xenotransplante. Conforme os outros estudos de edição genética, os cientistas usaram a fertilização in vitro e manipulam o DNA do ovo fecundado antes que ele se transforme em embrião. Retiraram parte da cadeia genética responsável pela produção de enzimas e proteínas que causam a rejeição em humanos, pois além da transmissão de doenças outro desafio a ser enfrentado é a rejeição genética

Os órgãos dos porcos existem em todos os tamanhos. Então será capaz de fazer o transplante até em bebês bem pequenos com um rim de tamanho apropriado.

Robôs nas cirurgias

Em Belo Horizonte, aconteceu pela segunda vez no país, um transplante de rim utilizando um robô. O método é utilizado em transplantes intervivos (quando o órgão é retirado de um doador vivo) e apenas na retirada do órgão do doador, e não para transplantar o órgão em quem está recebendo. Segundo o médico responsável, o urologista Marco Túlio Lasmar, ele representa um avanço na área e uma série de benefícios para o paciente.

“O robô tem uma visão aumentada em três dimensões, que confere uma precisão cirúrgica mais apurada. Uma amplitude de movimentos maior”, explica Lasmar, que afirma que isso favorece a recuperação do paciente. “Dessa forma, o trauma cirúrgico é minimizado, com isso a recuperação pós-operatória é melhor, com alta mais precoce. Muitas vezes, o paciente recebe alta entre 24 horas e dois dias; na cirurgia convencional, esse tempo pode se prolongar a, no mínimo, três dias”, explica Lasmar. Outro ponto positivo apontado pelo médico é o tipo de incisão feito pelo robô, que é menos invasivo do que a forma convencional. “Quando é cirurgia aberta convencional, há uma incisão chamada lombotomia, que causa um desconforto ao paciente que pode persistir por meses e por anos”.

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Rafael Fernandes
SUS 30 anos

Journalism student, Gaucho, Brazilian, 22 years old.