Líbia: um retrato da desigualdade e do horror

Davi Spilleir
Sustineri
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2 min readNov 17, 2017

Os cidadãos líbios convivem com um sibilino cenário de guerra há pelo menos cinco décadas, desde a meteórica ascensão de Muammar Gaddafi ao poder, em 1969. O regime de exceção que se instalou no país era digno de dar inveja a alguns ditadores da época, como Idi Amin Dadá, Saddam Hussein e Robert Mugabe.

Terror, censura, um sem número de mortos pelo aparato miliar e apropriação indébita dos bens públicos que se confundiam fortemente com os do próprio Gaddafi, levaram à sua derrocada em 2011, com a Primavera Árabe e consequente morte por espancamento em meio à uma população belicosa, farta de seus excessos, farta de seu autoritarismo.

Seis anos após a queda do regime ditatorial, as coisas não parecem ter melhorado, ao contrário, se a situação não está tão ruim quanto era, está até pior! Somam-se à atual conjuntura os horrores impostos pelo Estado Islâmico, com execuções sumárias e, completa negativamente a situação, a agora desvelada existência de leilões de imigrantes negros. A comercialização em pleno século XXI.

A CNN (2017) noticiou o funcionamento do esquema: vendidos por até R$1500, convertendo a moeda local, negros são negociados em balcões. Especuladores gritam e dão lances em gramofones. Pessoas transformadas em mercadorias.

A Organização Internacional para Migrantes (IOM) (2017) relata que essas pessoas são muitas vezes sequestradas em grandes grupos por contrabandistas fortemente armados, que os submetem a condições ultrajantes. Transportados comumente em boleias de caminhões, a esses migrantes eram impostas a fome e a sede. Ao chegarem a grandes centros, como Trípoli, eram postos à venda nas ruas ou em feiras do tráfico.

As regras do mercado, como oferta e demanda, acabam por retroalimentar o processo de sujeitar pessoas à essa realidade humilhante, tão antagônica ao que se espera em uma sociedade de plenos direitos.

Eventualmente temos que voltar os olhos aos clássicos para que entendamos a realidade moderna. Hannah Arendt veria a continuada e sistêmica banalização do mal.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARENDT, H. Eichmann em Jerusalém, um relato sobre a banalização do mal. São Paulo: Cia das Letras, 1999.

ELBAGIR, N.; RAZEK, R.;PLATT, A.; JONES, B. People for sale. CNN. Disponível em: < http://edition.cnn.com/2017/11/14/africa/libya-migrant-auctions/index.html > Acesso em: 16 nov. 2017.

INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR MIGRATION. IOM learns of “slave Market” condition endangering migrants in North Africa. Disponível em: < https://www.iom.int/news/iom-learns-slave-market-conditions-endangering-migrants-north-africa > Acesso em: 16 nov. 2017.

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Davi Spilleir
Sustineri

Bacharel em Comércio Exterior e mestrando em Sustentabilidade pela PUC-Campinas. Desenvolve pesquisas na área de economia solidária. Escreve às quintas-feiras.