A Nova Morte — Vamos destabulizar?

(Re)aprendendo a lidar com ela

Rodrigo Turra
swarm creativity

--

Parabéns! Se você chegou aqui, faz parte de uma minúscula minoria que se interessa pelo assunto tão complexo e sombrio que é a morte. Pode reparar, se tem algum post sobre isso na timeline, o primeiro reflexo é “acelerar o passo,” e dar uma fugidinha. “Depois lido com isso.” E pode ter certeza: você vai ter que lidar, sim. E por que não lidar de forma saudável?

Confesso que foi um tanto difícil escrever sobre o assunto. Ainda não perdi alguém próximo e senti que sabia pouco sobre isso. Fui atrás de podcasts, palestras, documentários, conversar com amigos e refleti sobre o assunto que jamais deve ser assuntado. E posso falar? É muita coisa pra desconstruir.

O que compartilho aqui e que tentei ao máximo me aprofundar, é o que chamo de nova morte, ou novas formas de observá-la (pelo menos pra nós, ocidentais contemporâneos).

Tem algo para compartilhar sobre esse assunto? Escreva uma resposta ao artigo aqui no Medium ou divida com a gente no grupo da Swarm Creativity.

1. Filosofar é aprender a morrer

Já faz muito tempo que a nossa cultura passou por um processo de higienização da morte. Antes era comum que crianças lidassem com a perda de familiares dentro de casa, no leito. Hoje, quando se pensa na despedida, vem na cabeça um quarto branco de hospital, distante. Como humanidade, especialmente no ocidente, desaprendemos a lidar com algo tão natural de forma… natural (parece óbvio, né?). E é claro que é muito diferente você lidar com o conceito de morte e participar de perto do definhamento de alguém que você ama, mas é tudo um processo, e cada passo ajuda a desconstruir.

A primeira coisa que me impactou é o pensamento de como aprender a morrer faz você levar uma vida mais plena. Escutei isso no Anticast sobre morte que traz diversos conceitos, filosofias e reflexões profundas que com certeza me fizeram uma pessoa melhor.

Que tal se munir de significados e entender qual deles serve melhor pra você?

“Living is easy with eyes closed” — Benjamin Bear

2. Minha morte, minhas regras

Existem muitas decisões sobre a sua passagem pro lado de lá que você pode tomar ainda hoje, enquanto tem saúde e raciocínio claro. Você já pensou, por exemplo, em quem você gostaria que tomasse decisões por você caso estivesse incapacitado de fazê-lo? Coisas como o desligamento de aparelhos, reanimação, doação de órgãos ou tratamentos invasivos? O “estilo de morte” que você quer levar também é muito relevante: na ortotanásia, literalmente a boa morte, suspenderiam remédios e respiração assistida para casos terminais, enquanto na distanásia o oposto aconteceria, a medicina continuaria tentando salvar a sua vida a qualquer custo.

Para todas estas questões, existe um documento que a maioria dos brasileiros sequer sabe da existência, que se chama Testamento Vital. Nele, você descreve como gostaria que as coisas funcionassem lá no fim: quem decide, que tipos de cuidados você gostaria de receber, etc. No Brasil ainda existem poucos interessados, mas vale a pena se informar sobre isso.

É claro que o assunto não é tão simples assim, por isso recomendo o podcast Mamilos sobre a boa morte e a palestra do Dr. Peter Saul sobre o “occupy death” um movimento de empoderamento da sua própria morte. Sério, suguem todo esse conteúdo.

Você tem sim o direito de escolher. Já refletiu sobre isso?

3. Viva à morte!

Parece distante, mas muitas culturas veem a morte como um processo evolutivo e tiram o peso negativo com que a encaramos. O Dia dos Mortos no México é bastante conhecido no resto do mundo, quando celebram a volta dos espíritos de seus antepassados em tom de festa e com muitas cores. No Japão, o Obon, ou Festival das Lanternas, tem esse mesmo objetivo. Já em Tana Toraja, na Indonésia, os funerais são o centro da vida social e são feitas grandes festas. Por isso, muitos corpos são mantidos em casa por anos após a morte (até que juntem dinheiro), para que o funeral aconteça. Pode parecer assustador, mas a antropóloga Kelli Swazey explica nesse TEDTalk o que esse comportamento nos ensina.

Que tal pegar emprestado algumas referências e (re)formar a sua visão sobre o assunto?

4. Pensando fora do caixão

Apesar de inúmeros problemas, os fascinantes cemitérios têm existido da forma que são por muito tempo, com todo seu charme, ostentação, simbologias, muitos inclusive atraindo turistas. Mas você já pensou que o destino do seu corpo não precisa ser a sete palmos? Além da cremação, que já é bastante conhecida, estão surgindo novas formas de lidar com isso.

Jae Rhim Lee, por exemplo, fala sobre o impacto ambiental dos nossos corpos e está criando uma mistura de cogumelos que daria conta de purificar os poluentes que deixamos no meio ambiente e consumir nossa carne. Já o projeto italiano Capsula Mundi dos designers Anna Citelli e Raoul Bretzel repensa os cemitérios de forma poética como florestas onde cada corpo encapsulado serve de alimento para uma árvore, selecionada previamente. E há algum tempo ouvi falar de projetos como o LifeGem que transformam as cinzas em um diamante.

Qual destes você acha mais interessante? Tem mais algum método inovador pra indicar?

// Para Degustar

O curta de Mishka Kornai, além de lindo visualmente, mostra o ciclo que é a vida.
Coda é um curta superpremiado sobre uma alma tentando escapar da morte. Uma delícia de assistir.
E se existisse uma máquina que te avisa como você vai morrer? Nesse curta existe, mas ela é meio sacana.
Jason Silva do Shots of Awe filosofa sobre como vencer o medo da morte.
O curta Fears da Nata Metlukh fala, sem palavra alguma, como podemos encarar nossos medos.

// Digital Detox

UMA VIDA MAIS PLENA PARA UMA MORTE IDEM

The Magic Box: um livro vintage com cara de infantil para adultos que aborda a vida, a morte e como viver mais a cada dia. Queria muito ter um desses!

Gostou do que leu? Então clique no botão Recommend aí embaixo. Fazendo isso, você ajuda este post a ser encontrado por mais pessoas.

Se você curte o assunto, colabore com a conversa compartilhando no grupo Swarm Creativity outras referências, escrevendo uma resposta ao artigo aqui no Medium.

Para compartilhar:

// Swarm Creativity

A cada mês, publicamos um novo conjunto de artigos, que se integram em uma experiência coletiva e são complementados por você. Leia os demais desta edição em nossa publicação aqui no Medium. Assine nossa newsletter e participe das discussões no nosso grupo no Facebook.

--

--

Rodrigo Turra
swarm creativity

Publicitário, canhoto, geminiano e mutante. Aprendi que um dia sem aprender é um dia perdido. À procura do meu próximo eu. http://www.hiphipturra.com.br/