Os dentes perdidos de Chet Baker
I
Ancorado na terra de ninguém
com tantas coisas novas na vida:
a recordação da ternura,
duas irmãs e eu no meio,
tipos duros.
Eu, claustrofóbico
em busca da paz interior.
drogado e suicida
abandonando os bons costumes.
Eu, homem de negócios
amassado pela merda
e por amantes fulminantes,
ancorado na terra de ninguém
onde grandes seres espirituais
me visitam.
Solitário, resistindo.
Um dia estava esgotado
Recuperando a fé diante
da vida que tinha no sótão.
Eu, aquele que revolve merda,
filho do caos.
Oh a arte!
II
Não há mais o que fazer,
Estrelas e babacas
saiam das jaulas!
Meu cú corre perigo.
Alegre, livres e ruidosas,
As dúvidas são muitas.
Algumas coisas perduram:
Oklahoma,
dias de ciclones,
lua cheia no sótão,
as portas de Deus,
a serpente, o quarteirão
e eu.
Muito barulho ao meu redor
mesmo que agarre o touro com as unhas
o bobo continua na fábrica,
deixando pra trás o inferno,
amos e escravos.
Salve-se quem puder.
Oh música!
III
Saboreio a mim mesmo
com “Bird” na minha cela.
Dê-lhe uma punhalada!
O aprendiz
mórbido muito mórbido
na insuportável noite
de merda e ratos.
Loucos e mendigo
e o regresso do marinheiro,
salvação e perdição.
Só me falta
o cassino da esperança
e eu sendo o mais infiel.
Visão sobre os escombros.
Chicotes, muitos chicotes
no triângulo das pitonisas
e dos canibais.
Os ferros do morto
e no final da capitania
sempre haverá um
“Filho da puta” por perto
que salta pela janela.
Oh Salvação!
Com licença de Pedro Juan Gutiérrez
Trilogia suja de Havana
Rio de Janeiro, 22 de fevereiro de 2005