Os dentes perdidos de Chet Baker

Sylvia Arcuri
Sylvia Arcuri
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2 min readAug 10, 2021
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I

Ancorado na terra de ninguém

com tantas coisas novas na vida:

a recordação da ternura,

duas irmãs e eu no meio,

tipos duros.

Eu, claustrofóbico

em busca da paz interior.

drogado e suicida

abandonando os bons costumes.

Eu, homem de negócios

amassado pela merda

e por amantes fulminantes,

ancorado na terra de ninguém

onde grandes seres espirituais

me visitam.

Solitário, resistindo.

Um dia estava esgotado

Recuperando a fé diante

da vida que tinha no sótão.

Eu, aquele que revolve merda,

filho do caos.

Oh a arte!

II

Não há mais o que fazer,

Estrelas e babacas

saiam das jaulas!

Meu cú corre perigo.

Alegre, livres e ruidosas,

As dúvidas são muitas.

Algumas coisas perduram:

Oklahoma,

dias de ciclones,

lua cheia no sótão,

as portas de Deus,

a serpente, o quarteirão

e eu.

Muito barulho ao meu redor

mesmo que agarre o touro com as unhas

o bobo continua na fábrica,

deixando pra trás o inferno,

amos e escravos.

Salve-se quem puder.

Oh música!

III

Saboreio a mim mesmo

com “Bird” na minha cela.

Dê-lhe uma punhalada!

O aprendiz

mórbido muito mórbido

na insuportável noite

de merda e ratos.

Loucos e mendigo

e o regresso do marinheiro,

salvação e perdição.

Só me falta

o cassino da esperança

e eu sendo o mais infiel.

Visão sobre os escombros.

Chicotes, muitos chicotes

no triângulo das pitonisas

e dos canibais.

Os ferros do morto

e no final da capitania

sempre haverá um

“Filho da puta” por perto

que salta pela janela.

Oh Salvação!

Com licença de Pedro Juan Gutiérrez

Trilogia suja de Havana

Rio de Janeiro, 22 de fevereiro de 2005

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Sylvia Arcuri
Sylvia Arcuri

Professora doutora em literatura hispano-americana pela UFRJ. Leciono Língua Portuguesa no CE Erich Walter Heine no Rio de Janeiro. Aprendiz de Escritora