“A Lição de Anatomia do Dr. Tulp”, Rembrandt. 1632.

Anatomia dos Product Designers

Um breve histórico da profissão e de suas características atuais.

Larissa Trindade
Sympla Design
Published in
6 min readMay 4, 2018

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O termo “Product Designer” se tornou uma buzzword com a eclosão dos produtos digitais. Se você pesquisar a definição dessa profissão no Google, encontrará uma infinidade de respostas e artigos explicando quem somos, quais são nossas formações acadêmicas, onde atuamos e o que fazemos. Entretanto, para entender o que esses profissionais fazem de fato, é necessário ter uma visão ampla para compreender que Product Designers são Designers e que nosso papel é solucionar problemas para usuários e empresas através do entendimento de suas necessidades.

Product Designers são Designers.

No mercado, recebemos vários nomes e você já deve ter ouvido uma infinidade deles: Industrial Designer, Web Designer, Information Architect Designer, Interaction Designer, User Experience Designer, Visual Designer, etc. A lista é bem longa e, a cada dia, surgem mais ramificações dessa profissão. Por mais que tenhamos inúmeras terminologias, essa variedade não necessariamente representa uma mudança significativa no processo de design. Os problemas solucionados são diferentes e as ferramentas variam, mas o processo sempre passa pelas seguintes etapas: entendimento do problema, levantamento de dados, ideação (busca por soluções), prototipação e validação. Ou seja, as metodologias e as soluções podem ser diferentes, mas o que move Designers é o desejo de solucionar problemas e evocar uma experiência agradável para o usuário final.

No artigo What is Product Design, @jgadapee faz uma comparação bem interessante: mesmo que o mercado influencie os títulos recebidos pelos Designers, o processo de design continua tendo a mesma base. Na foto abaixo, retirada da publicação de Gadapee, podemos ver a semelhança na forma como dois Designers — com títulos diferentes e em épocas diferentes — analisam ideias. À esquerda temos Brodovitch, na década de 50, explorando layouts para a Harper’s Bazzar. À direita, Jake Knapp liderando um design sprint, analisando wireframes, ideias e informações escritas em post-its*.

Foto retirada do artigo What is Product Design escrito por Jordan Gadapee, 2016

Seguindo essa mesma linha de pensamento, temos como exemplo o trabalho realizado por Eliot F. Noyes para a IBM. Noyes foi contratado em fevereiro de 1956 por Thomas Watson Jr, presidente da empresa, para reinventar a imagem da empresa. Durante seu trabalho, Eliot declarou que os títulos dos profissionais não importavam, a única coisa que importava era construir objetos e evocar experiências que as pessoas amassem. Como resultado desse trabalho, Watson Jr. declarou que “Good design is good business.” — um bom design é um bom negócio. Essa afirmação nos leva a refletir por que a nomenclatura do design muda com tanta frequência. Designers mudam de títulos porque é importante para o mercado. A maioria dos melhores Product Designers da atualidade recebiam outros títulos há 15, 20 anos. E a verdade é que provavelmente essa nomenclatura irá mudar no futuro à medida que novas tecnologias, mídias e produtos forem criados.

Designers mudam de títulos porque é importante para o mercado.

Tendo em vista que os Designers são profissionais que entendem problemas e usam metodologias criativas para desenvolver soluções que proporcionem melhores experiências para os usuários, os Product Designers são parte de um grande grupo de profissionais e não devem ser tratados como “unicórnios” ou “seres com super poderes”.

Mas o que define Product Designers atualmente?

Numa época em que empresas bilionárias são construídas em torno de produtos digitais, investir na contratação de profissionais que solucionem problemas para os usuários e estejam alinhados às estratégias da empresa se tornou algo primordial. É aí que entram Product Designers, profissionais generalistas que transitam entre UX (User Experience) e UI (User Interface), com foco em produtos digitais.

Product Designers são pessoas que entendem que alguns problemas podem ser resolvidos com base em apenas uma área do design, mas que grande parte das soluções nasce da junção de diversas partes de um quebra-cabeça. Logo, transitam entre diferente áreas para conseguir projetar soluções significativas com foco nos usuários, simplificando suas vidas, fazendo com que se sintam realizados e utilizem o produto mais vezes.

Outras características importantes desses Designers são a flexibilidade e abertura a mudanças, já que os produtos, assim como seus usuários, estão em constante transformação: o que ontem era extraordinário, hoje se tornou mundano e amanhã será obsoleto. Grande parte dos produtos que usamos hoje não existiam há alguns anos, e é possível que deixem de existir ou que existam de forma completamente diferente no futuro.

E na prática, o que fazem?

Product Designers dialogam com múltiplas áreas da empresa. Precisam estar sempre em contato com Product Managers para ter uma visão mais ampla de negócios e com Engenheiros, para que as expectativas estejam sempre alinhadas às limitações técnicas. E tudo isso sem perder o foco nos usuários. Sabe aquele processo citado anteriormente? (Entendimento de problemas, levantamento de dados, ideação, prototipação e validação). O dia-a-dia do Product Designer gira, basicamente, em torno dessas etapas.

Processo de Design utilizado na Sympla-Imagem adaptada do site nngroup.com, 2016.

Compreensão: Fazem parte da etapa de compreensão o entendimento de quem é o público do projeto (suas dores e necessidades) e de como as decisões de design podem impactar as estratégias de negócio da empresa. Durante essa etapa, Designers devem coletar dados com os usuários e stakeholders para adquirir uma visão ampla do problema. Isso exige uma comunicação constante com outras áreas da empresa. A chave, nessa etapa, é se questionar sempre e saber onde ou com quem buscar respostas.

Definição: Agora que já se tem o contexto, é hora de organizar e sintetizar as informações que foram colhidas. É comum que sejam encontrados outros problemas durante a fase de compreensão, mas Product Designers precisam ser realistas e entender que nem todos os problemas serão resolvidos de uma só vez. É preciso manter o foco no problema inicial para dar continuidade ao processo. Os demais problemas encontrados não serão esquecidos: eles devem ser comunicados, discutidos e, dependendo da relevância, incluídos no roadmap de curto prazo.

Ideação: Sabendo as dores dos usuários e entendendo as estratégias do negócio, já é possível levantar algumas ideias para solucionar o problema. Dentre elas, apenas as mais adequadas — viáveis tecnicamente ou que possam ser desenvolvidas em um período de tempo determinado, por exemplo — passam para a etapa seguinte.

Prototipação: Nessa fase é preciso voltar aos softwares e criar protótipos para validar as ideias. O ideal é chegar mais próximo do que os usuários irão interagir de fato e colher feedbacks o mais rápido possível dos Engenheiros, Product Managers e outros Designers para construir um produto em consenso e evitar gargalos.

Validação: É necessário testar o protótipo com um recorte da base de usuários para entender o que funciona e o que não funciona. Quando o produto está nas mãos dos usuários, é importante conversar com as equipes que monitoram e analisam dados, tais como Business Intelligence, Data Intelligence, Growth e Marketing, para conseguir medir o desempenho do design na prática. Uma outra forma de colher feedbacks é estar sempre dialogando com as áreas de ponta e os times que têm contato direto com os usuários — elas conhecem e entendem as dores dessas pessoas como ninguém e, por isso, podem te dar feedbacks qualitativos sobre as alterações feitas.

Implementação: Por fim, Product Designers precisam servir de suporte para os desenvolvedores durante a implementação e, assim, evitar o lugar-comum de culpá-los quando o projeto entregue for diferente do desenhado. Engenheiros são nossos melhores amigos. Sem eles, os “pixel-perfect mockups” não se tornam produtos reais.

É muito importante compreender que o processo de design de um produto não termina ao fim das etapas citadas. É um processo cíclico. Após o produto ou alteração serem lançados, é necessário analisar dados quantitativos e qualitativos do uso para validar se a solução de fato resolveu o problema identificado. Os dados coletados também servem como insumo para iterações futuras.

As responsabilidades e atuações de Product Designers variam de acordo com os usuários atendidos, os produtos desenvolvidos, a estrutura da empresa, sua estratégia e seu modelo de negócios. Na Sympla, as habilidades dos Product Designers estão acima de qualquer nomenclatura e a nossa atuação é essencial na construção de um produto que faça diferença no dia-a-dia dos nossos usuários.

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