Começando do fim: virei liderança, e agora?

Daniel Gomes
Syngenta Digital Insights
4 min readJul 11, 2022

O primeiro ponto que quero deixar claro é que ser uma liderança está menos relacionado com o cargo da pessoa do que com sua atitude. Existem várias maneiras de liderar, vários estilos de liderança. Um deles é hierárquico, outros são por influência, por expertise, por conhecimento, ou mesmo por necessidade. Dito isto, espero que fique claro que não estou escrevendo sobre o cargo de gerente, e que este texto é útil para pessoas em qualquer nível que querem ou precisam exercer liderança.

Desde que entrei para a Strider, agora Syngenta Digital, liderança é um critério de avaliação de desempenho para todo o time, da pessoa estagiária à pessoa gestora. Para quem está mais no início da carreira, a liderança deve ser entendida como iniciativa, responsabilidade, visão de dono. Para as pessoas que estão fazendo a transição para um papel de maior senioridade, aspectos como mentoria, alinhamento, tomada de decisão começam a ser um requisito. Para gerentes, diretores e “c-levels”, formação de times, estratégia, propósito se tornam chaves.

Em tecnologia, é muito comum o termo “tech lead”. Em alguns lugares, isto é um cargo formal. Aqui na Syngenta Digital é um papel que qualquer membro do time pode exercer. Atuar como uma liderança técnica é esperado das pessoas seniores e um passo necessário tanto para o caminho mais técnico, quanto para o caminho mais gerencial de nossa carreira em Y. Pessoas vindas de um background técnico, geralmente, têm dificuldades comuns nesta transição. Vamos discutir algumas delas.

Comunicar-se bem é uma competência rara, a maioria de nós tem dificuldades em estruturar o pensamento e transmitir nossas ideias de forma efetiva.

Pensar de forma objetiva é essencial para comunicar de forma objetiva. Entender o contexto da outra pessoa (ou pessoas) que recebe a comunicação também é essencial. A partir do momento que alguém assume um papel de liderança, as relações e a diversidade de pessoas com as quais ela tem de interagir aumenta. Mesmo dentro do time e de um contexto técnico, algumas pessoas mais seniores começam a ter dificuldade de se comunicar com pessoas mais iniciantes. Fora deste contexto, tem-se o desafio de comunicar com pessoas não técnicas, representantes do negócio, público externo, etc.

Ser uma liderança significa que você vai gerar resultados por meio de outras pessoas, comunicar com efetividade o que você precisa delas é o único modo de ter sucesso.

Em meu artigo anterior, “Do estágio à liderança”, mencionei também a importância da intencionalidade e de dizer as coisas difíceis, outros dois pontos de mudança para um papel de liderança. Ambos estão ligados ao desafio da comunicação e ao centro do problema: pensar de forma clara. Intencionalidade é exatamente isto, ter um plano para atingir um objetivo. Comunicar este objetivo de forma a engajar pessoas na execução do plano é a única forma de atingir os resultados esperados.

Melhorar sua capacidade de comunicação também exige intencionalidade e um plano. Existem diversas ferramentas para ajudar nisto. Uma delas é estruturar sua forma de pensar. Aprendemos isto na escola, mas achamos que não é algo útil para nossa vida profissional. Lembra daquelas aulas de redação? Sua professora ensinou que você deve começar uma redação com uma introdução, dando contexto ao tema que será tratado. Depois você desenvolve o tema, expondo sua argumentação, os motivos de estar propondo suas ideias e os resultados esperados. Ao final, você deve resumir sua proposta, seu argumento central e o objetivo do texto. (Será que vou conseguir fazer isto neste texto?)

E dizer as coisas difíceis? Feedback sincero é a mais poderosa ferramenta para melhoria das pessoas e do time. Dizer para alguém do time que o desempenho está ruim é sempre difícil. Mas de qual outro modo a pessoa vai saber que precisa melhorar? Como liderança, é seu dever dar feedbacks sinceros e acionáveis — e oferecer ajuda para a pessoa que quer melhorar conseguir melhorar. Precisa também dar o reconhecimento, reforçando as atitudes positivas e que a pessoa está no caminho certo. Isto geralmente é mais fácil, mas é muito comum uma liderança esquecer de fazê-lo. Ser sincero e explícito sobre o que está indo bem e o que precisa melhorar é também a melhor ferramenta para construir uma relação de confiança com seu time.

Construir uma relação de confiança, que garanta esta comunicação sincera e objetiva, é a verdadeira liderança.

Para poder mentorear, garantir o alinhamento e tomar as decisões necessárias, a pessoa que assumiu a responsabilidade de liderar precisa conhecer seu time, construir uma relação de confiança com todos e guiar cada pessoa na direção necessária para gerar os resultados. Não caia muitas vezes (com certeza você vai cair algumas vezes) no erro de tentar salvar uma entrega virando a noite você mesmo para terminar o que precisava ser feito. Aprenda que isso é ruim para você e para o seu time. Vai te deixar sobrecarregado e cansado demais para resolver os outros problemas. E vai deixar seu time sempre com papel secundário, reduzindo os espaços para os membros se desenvolverem.

Siga o conselho de Michael Lopp e delegue até doer!

Para quem vem de uma trajetória técnica, delegar pode ser o desafio mais difícil. Mas é delegar o que fecha o ciclo. Você está assumindo um papel de liderança para poder fazer mais por meio do time do que conseguiria fazer sozinho. Então, conhecer bem as pessoas do seu time e delegar de forma que elas consigam fazer as entregas e crescer enquanto entregam, cria o ciclo virtuoso. Dar os feedbacks sinceros quando der certo e quando der errado, mantém o ciclo em movimento. Comunicar efetivamente as intenções e o plano direciona para os resultados. Bons resultados permitem a você e a todo o time crescerem e continuarem este ciclo virtuoso de aprendizado, entrega e novos desafios!

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