Do estágio à liderança: como ajudar pessoas desenvolvedoras nesta jornada

Daniel Gomes
Syngenta Digital Insights
5 min readJun 6, 2022

Nos últimos anos, tive a felicidade de acompanhar e ajudar pessoas desenvolvedoras em suas trajetórias de carreira. Como gestor dos times de Engenharia da Strider, e agora da Syngenta Digital Brasil, fui responsável pela seleção, onboarding e desenvolvimento de boa parte do nosso time. Muitas destas pessoas começaram como estagiários ou juniores. Algumas delas são, hoje, lideranças técnicas ou gestores de engenharia. Vou compartilhar aqui alguns dos principais aprendizados que tive no desafio de acelerar a trajetória destas pessoas.

Seja uma liderança técnica ou de gestão, o trabalho começa antes do dia 1, ainda na entrevista. Reconhecer a ambição e o talento da pessoa, fazer o plano de onboarding, conduzir conversas sobre carreira, formação técnica e de soft skills… e tempo — sim, precisa de tempo para a pessoa amadurecer. Minha visão é que não tem segredo, bastam 3 coisas: i) A pessoa ter potencial e ambição; ii) Um ambiente propício (colaborativo, dinâmico, em crescimento); e iii) intencionalidade e comunicação clara.

O processo de contratação de uma pessoa iniciante tem algumas particularidades. Geralmente, trata-se de alguém com nenhuma ou pouca experiência profissional. Se na entrevista devemos buscar o fit com a posição em aberto, este fit vai ser muito mais sobre alinhamento cultural e potencial de crescimento. Não temos muitas evidências sobre as competências técnicas e experiências anteriores para entender como a pessoa gosta de trabalhar, em qual ambiente ela desempenha melhor. Temos então de buscar sinais que mostrem potencial, ambição e paixão por tecnologia. Um dos sinais mais claros é a pessoa ter projetos pessoais, mostrar clareza do que quer (ou pelo menos do que não quer) em termos profissionais e também fome de aprendizado.

Claro, nem sempre estas características são evidentes ou completas. Neste momento entra o plano de onboarding. Quais pontos de comportamento vamos precisar reforçar durante os primeiros dias? Quais aspectos técnicos a pessoa novata vai precisar estudar? Como ajudá-la a se adaptar ao nosso modo de trabalho? Nos tempos de Strider, tudo isto era feito de forma mais orgânica. Basicamente “jogávamos” a pessoa novata “na fogueira”, mas com um time muito disposto a ajudar e muito competente para fazê-lo. Recentemente, tenho focado em tornar este ambiente propício um dos elementos, dando mais intencionalidade e garantindo que perfis que precisam de acompanhamento mais estruturado também consigam avançar rápido nos primeiros dias. A pessoa gestora e um buddy devem estar próximos, garantindo que a(o) newcomer receba as orientações necessárias, mas, como o objetivo é que a pessoa consiga desempenhar bem com alta autonomia (o mais rápido possível), este acompanhamento também precisa dar espaço ao erro e ao aprendizado com as próprias experiências.

Isto só vai acontecer se existir um nível adequado de segurança psicológica, tanto para estagiários, como para pessoas mais seniores. Fazemos isto não só dando feedbacks constantes, sinceros e desafiadores, como também deixando claro que estamos abertos a recebê-los da mesma forma — e incentivando que a pessoa novata haja dessa maneira. Os 1:1s são fundamentais para isto. Uma estrutura horizontal, um time colaborativo, e alta densidade de talentos também. Todos nós aprendemos pelo exemplo, precisamos de modelos para seguir, buscamos mentores que respeitamos técnica e comportamentalmente. A pessoa gestora deve direcionar as iniciantes, mas também deixar que elas encontrem seus próprios caminhos: construam as conexões necessárias, acionem as pessoas certas na hora certa, busquem ajuda e aprendizado constante. E estejam abertas aos feedbacks, aprendendo também a usá-los para crescerem como técnicos e profissionais.

Mentoria é uma das mais importantes habilidades de qualquer profissional. Mentorear uma pessoa iniciante é a melhor forma de continuar aprendendo e se provar como um profissional sênior. Entender as diferentes formas de aprendizado, o modo como o outro gosta e aprende melhor, ajudar alguém a dar os próximos passos de carreira é uma arte, uma honra e uma alegria. Sejam habilidades técnicas ou de comportamento, guiar uma pessoa sobre quais e como desenvolvê-las para poder crescer na carreira desejada é fundamental para o crescimento de todos no time, no mercado e na sociedade.

Um bom gerente também deve estar atento às oportunidades que surgem para expandir as responsabilidades das pessoas de seu time. Depois da transição inicial de domínio técnico, de autonomia para planejar e executar missões complexas, e da capacidade de mentoria, os próximos passos são mais profundos e precisam de mais tempo. A transição para um papel de liderança técnica ou de gestão vai depender muitas vezes da necessidade da empresa de ter mais uma pessoa fazendo este papel. Mas não precisa ser uma oportunidade formal, melhor inclusive que seja informal mesmo, assumir a liderança de um domínio, de uma entrega complexa, de 2 ou 3 pessoas iniciantes.

Afinal, aprender fazendo é sempre a melhor forma. Não só pelo aprendizado em si, mas também pela confiança que gera na pessoa e em seus pares. Ter um ambiente que permite estas experiências, onde autonomia e responsabilidade são valores inseparáveis, é fundamental. Ter lideranças que estão atentas às oportunidades de aumentar o escopo e o desafio dos talentos do time, também. A pessoa realmente querer e estar buscando estas oportunidades é condição necessária. Como eu disse no início, talento e ambição, ambiente propício e intencionalidade da gestão, é isto que precisamos para acelerar a transformação de pessoas iniciantes em excelentes lideranças. Comunicar esta intenção constantemente e verdadeiramente apoiar esta evolução é também a arma mais poderosa de retenção e crescimento da equipe e da empresa.

Este é o primeiro texto de uma série de publicações que estão por vir. Nos próximos, vou entrar em mais detalhes de cada um destes pontos, explorando também o meu desafio atual, que é formar pessoas gestoras. Depois de chegar ao nível de liderança, você vai precisar aprender a formar outras pessoas que conseguem desenvolver pessoas iniciantes. Algumas das habilidades aprendidas na trajetória de iniciante para liderança vão ajudar, mas você também vai ter de aprender novas. Comunicação (coletar, filtrar, analisar e distribuir informações), intencionalidade (ter um plano) e dizer as coisas difíceis (feedback e desafiar) são algumas delas. Isto é o melhor de tudo, não é? Sempre ter algo novo para aprender, sempre um novo desafio para crescer e ajudar as pessoas, seu time e sua empresa a continuar evoluindo.

--

--