A relação entre cloud computing e sustentabilidade

Beatriz Oliveira
SysAdminas
7 min readDec 19, 2023

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O uso da cloud computing tem se mostrado um grande aliado para organizações e a sociedade, impulsionando a busca por inovação e a utilização de serviços computacionais. Além de proporcionar benefícios tecnológicos, o uso da cloud computing também apresenta vantagens ambientais quando aplicado de maneira adequada. Neste artigo, abordaremos conceitos relacionados a cloud e infraestrutura local (on-premises), discutiremos o crescimento exponencial dos dados no mundo e exploraremos como a cloud computing pode ser uma aliada fundamental para o avanço da sustentabilidade.

As diferenças entre a cloud computing e os datacenters on-premisses

O modelo on-premises refere-se à abordagem em que uma empresa mantém um data center próprio e gerencia toda a infraestrutura de TI. Isso engloba a administração de servidores, armazenamento, redes, sistemas de refrigeração, segurança física e outros componentes essenciais para manter e operar os serviços de TI de uma organização.

Por outro lado, a cloud computing está relacionada à utilização de recursos computacionais sob demanda através da internet. Nesse modelo, é possível usufruir de diversos serviços, incluindo armazenamento e computação. Esses serviços e sua infraestrutura são fornecidos pelos cloud providers, responsáveis pela sustentação e manutenção desses componentes. Os usuários, por sua vez, podem utilizá-los conforme suas necessidades.

Nos últimos anos, temos observado um crescimento significativo da cloud computing em diversos setores. Isso se deve à rápida capacidade de expansão e crescimento que ela proporciona aos negócios.

O Gartner prevê que até 2026, 75% das organizações adotarão um modelo de transformação digital baseado na nuvem como plataforma subjacente fundamental.

A era dos dados e seu impacto

É indiscutível que vivemos na era dos dados. Atualmente, utilizamos e compartilhamos dados de diversas maneiras, seja ao usar redes sociais, enviar e-mails, realizar compras online, registrar nosso desempenho em aplicativos de treino, entre outras atividades.

De acordo com uma publicação do Fórum Econômico Mundial, estima-se que até 2025 serão criados diariamente cerca de 463 exabytes de dados em todo o mundo.

Para termos uma noção do crescimento tecnológico global, recomendo a leitura completa do relatório divulgado pelo We Are Social e Hootsuite em janeiro de 2023.

O relatório revela que, a população mundial atingiu 8,01 bilhões no início do mesmo ano. O relatório também destaca que 5,44 bilhões de pessoas usam telefones celulares, o que representa 68% da população global. Além disso, atualmente, há 5,16 bilhões de usuários de Internet em todo o mundo, correspondendo a 64,4% da população total do planeta.

Para sustentar esse contínuo crescimento e inovação tecnológica, é necessário contar com uma significativa capacidade computacional para armazenar e processar todas essas informações. No entanto, é crucial fazer isso de maneira consciente e eficiente, a fim de evitar efeitos problemáticos.

Segundo uma matéria do site Manufatura Digital, Atualmente, a indústria de data centers consome entre 1% e 3% da eletricidade global, sendo responsável por aproximadamente 0,5% das emissões de CO2, conforme dados do Data Center Market.

Até mesmo o uso da inteligência artificial, que recentemente passou a ter um grande crescimento, apresenta um considerável impacto no meio ambiente.

Um dado alarmante, divulgado em um artigo do portal Terra, revela que em um estudo de 2019, pesquisadores da Universidade de Massachusetts, nos EUA, identificaram que o treinamento de um modelo comum de IA de grande porte pode resultar em emissões de até 284 toneladas equivalentes a CO2. Esse valor é quase cinco vezes maior do que as emissões geradas por um carro ao longo de sua vida útil, incluindo o processo de fabricação.

A relação da cloud computing com a sustentabilidade

A cloud computing e a sustentabilidade estão interligadas de várias maneiras. Ao adotar o uso da cloud, você e sua organização podem aproveitar as soluções oferecidas pelos cloud providers, tendo a oportunidade de contribuir para a sustentabilidade global. Confira os principais a seguir.

Consolidação de recursos
A cloud computing também viabiliza a consolidação de recursos, possibilitando que diversas empresas compartilhem a infraestrutura física dos data centers e a utilizem conforme a demanda. Isso elimina a necessidade de cada empresa manter seus próprios servidores e instalações, resultando em uma redução do desperdício de recursos.\

O uso da virtualização também é um forte aliado nesse processo, pois permite executar vários sistemas operacionais em um único servidor físico. Isso reduz a quantidade de hardware necessário, economizando energia e espaço físico.

De acordo com a Green Software Foundation, na nuvem, a eficiência do hardware geralmente se traduz em um aumento na utilização dos servidores. É melhor usar um servidor com 100% de utilização do que 5 servidores com 20% de utilização devido ao custo do carbono incorporado.

Eficiência energética
Os provedores de cloud geralmente investem em data centers eficientes em termos energéticos. Esses data centers geralmente são projetados para otimizar o consumo de energia e minimizar o desperdício, resultando em uma pegada de carbono menor do que muitas instalações locais.

Conforme um artigo do Uol de 2023, a Google, por exemplo, afirma possuir uma pegada de carbono zero devido a investimentos em medidas de compensação, e tem como meta operar com energia livre de CO2 até 2030. A Microsoft comprometeu-se a atingir neutralidade de carbono até 2030, utilizando tecnologias como a captura e armazenamento de carbono. Por sua vez, o Grupo Meta planeja alcançar uma pegada líquida zero em toda a sua cadeia de valor até 2030.

Elasticidade
A elasticidade da cloud permite que seus usuários possam ajustar os recursos de acordo com as demandas em tempo real. Isso significa que os recursos computacionais podem ser otimizados para corresponder exatamente às necessidades, evitando o consumo excessivo de energia durante períodos de baixa demanda.

Reciclagem de hardware
Os provedores de serviços em cloud geralmente atualizam e substituem hardware regularmente para manter a eficiência. Ele geralmente têm programas de reciclagem de hardware, o que acaba contribuindo para a redução do desperdício eletrônico.

A Amazon Web Services (AWS), por exemplo, possui um programa de logística reversa que oferece um caminho sustentável para componentes de hardware que poderiam ser descartados devido ao fim de sua vida útil. Eles garantem a reutilização de diversos componentes de hardware, que são devidamente reparados e testados antes de voltarem a ser usados.

Trabalho remoto e redução de deslocamento
A cloud computing também facilita o trabalho remoto, o que pode reduzir significativamente a necessidade de deslocamentos diários para o escritório. Menos deslocamentos significam menos emissões de carbono provenientes do transporte.

A efetividade da sustentabilidade na cloud depende de como a construímos

Um estudo da Accenture mostra como a migração para a cloud pública pode impulsionar uma redução de aproximadamente 5,9% nas emissões de carbono do setor de TI. Segundo o estudo, em um ano, a economia de 60 milhões de toneladas de CO2 equivaleria a tirar 22 milhões de carros das ruas.

No entanto, é importante observar que a efetividade da sustentabilidade também depende de como as organizações implementam e gerenciam suas operações em cloud. Ainda dentro do estudo da Accenture, são destacados três níveis de ambição para a jornada em direção à sustentabilidade no uso da cloud computing:

  • Migrações estratégicas sem grandes mudanças, que também podem ser conhecidas como lift and shift, que frequentemente fazem amplo uso de infraestrutura como serviço (IaaS).
  • Uso de práticas de engenharia de software sustentáveis, as quais envolvem a escolha adequada da linguagem de programação para atender a uma necessidade específica.
  • Otimização de aplicativos para a “estrutura da nuvem”, em outras palavras, utilizando a abordagem cloud native.

O estudo também revela que, em comparação com a infraestrutura tradicional, as migrações iniciais para a nuvem são capazes de reduzir as emissões de carbono em mais de 84%. Essas reduções podem ser ainda mais significativas com o desenvolvimento de aplicações específicas para a nuvem, alcançando até 98%.

Além dos fatores citados acima, ao usar a nuvem, é importante considerar outros aspectos, como a região em que você vai armazenar seus dados e aplicações, pois a Green Software Foundation aponta que, a intensidade de carbono varia de acordo com o local, uma vez que algumas regiões têm uma matriz energética que contém mais fontes de energia limpa do que outras.

Em resumo, para tornar a migração para a cloud eficaz, é crucial pensar de maneira inovadora e utilizar a computação em cloud da maneira adequada. Simplesmente migrar para a cloud e utilizar apenas infraestrutura como serviço (IaaS), ou mesmo manter aplicações com códigos ineficientes e adicionar mais hardware para sustentar alto desempenho, não é suficiente. Considerar construir soluções cloud native e fazer a modernização de aplicações é fundamental para alcançar sucesso em sua jornada para a cloud e, ao mesmo tempo, promover a sustentabilidade.

Por fim, se você está estudando sobre o assunto e deseja aprofundar-se mais, recomendo a leitura dos seguintes materiais:

  • Manifesto da Green Software Foundation, uma organização sem fins lucrativos formada pela Linux Foundation, que conta com a participação de organizações e indivíduos envolvidos em diversos projetos. Seu objetivo é promover um ecossistema de software sustentável e confiável.
  • Os principais cloud providers oferecem ferramentas para medir e gerar relatórios que você pode utilizar como base para reduzir as emissões de carbono na cloud. Consulte os principais por meio dos links abaixo:

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Beatriz Oliveira
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