Cloud Financial Operations (FinOps)

Beatriz Oliveira
SysAdminas
7 min readApr 7, 2022

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À medida que as empresas vão começando a utilizar a cloud em busca de mais eficiência operacional e flexibilidade, novos desafios vão surgindo, e um dos principais está relacionado ao gerenciamento de custos. É muito comum ver histórias de times de tecnologia que gastam demais com a cloud, enquanto os times de compras e finanças enfrentam uma grande dificuldade para ter visibilidade e entender a origem desses custos.

Isso acontece porque, no modelo on-premise, geralmente as áreas financeiras e de compras controlam as aquisições e gastos com equipamentos e licenças. No entanto, à medida que as companhias começam a migrar para a nuvem utilizando o modelo “pay as you go”, quem passa a adquirir os recursos são os times de tecnologia que podem fazer isso com muita facilidade, diretamente no cloud provider, sem passar pelo processo tradicional de aprovações e compras que existia no “on-premise”.

Diante deste cenário, as empresas podem pensar que restringir a criação de recursos será a melhor solução, mas esse definitivamente não é o melhor jeito de fazer um bom uso da nuvem.

Pensando em melhorar esse fluxo, ao longo dos últimos anos vem surgindo no mercado um conceito conhecido como FinOps, que é um acrônimo para “Operações Financeiras em Nuvem” ou “Cloud Financial Operations”, em inglês. A ideia principal deste modelo é fomentar a colaboração entre as diversas áreas que são necessárias para manter o ecossistema da cloud dentro de uma empresa.

No livro “Cloud FinOps”, J.R Strment e Mike Fuller (2020) explicam que “em sua essência, FinOps é uma prática cultural. É a maneira mais eficiente do mundo para as equipes gerenciarem seus custos de nuvem, onde todos assumem a propriedade de seu uso da nuvem com o suporte de um grupo central de boas práticas. Equipes multifuncionais trabalham juntas para permitir uma entrega mais rápida e, ao mesmo tempo, obter mais controle financeiro e operacional”.

Em um primeiro momento, pode parecer que o FinOps existe com o intuito de economizar ou reter dinheiro, entretanto seu foco principal é estimular as empresas a usarem o dinheiro da melhor forma, o que, consequentemente, ajuda a potencializar o crescimento do negócio, pois indo para a nuvem é possível ter uma maior velocidade na entrega de produtos para os clientes, o que pode ocasionar o aumento do alcance dos serviços oferecidos pelas organizações. Além disso, adotando a cloud, as empresas podem até mesmo pensar em vender data centers que estão sob sua gestão e que certamente custam caro para serem mantidos.

Quando e como adotar o finops?

Adotar o FinOps requer mudanças culturais e de processos, os quais envolvem diversas áreas que precisam trabalhar juntas para que esse fluxo funcione bem. Por isso, é necessário criar um ambiente em que haja bastante comunicação e interação entre os stakeholders. Assim, esse novo modelo de gestão de custos variáveis da computação na nuvem traz a necessidade de mudança na cultura organizacional, com foco no resultado do negócio, com novas formas de pensamento e processos mais eficientes, levando a novas habilidades oriundas desta forma recente de consumir serviços.

Segundo a Finops Foundation, no artigo “What is FinOps”, as áreas que têm um papel dentro do gerenciamento financeiro da nuvem incluem:

  • Executivos;
  • FinOps Practitioners;
  • Times de infraestrutura, desenvolvimento e operações;
  • Times de finanças e compras.

Quanto mais cedo as empresas que utilizam cloud passarem a utilizar as boas práticas do FinOps será melhor, e isso deve ser estruturado de preferência pelo CCoE. Entretanto, é sabido que muitas organizações já estão na cloud há algum tempo e não utilizaram essa cultura desde o princípio, porém nunca é tarde para organizar esses processos e obter êxito na gestão dos custos.

A troca do CapEx por OpEx

Ao decidir usar a nuvem, as empresas passam a adquirir menos equipamentos e software no modelo tradicional, e isso faz com que os gastos em Capex sejam menores, enquanto que os gastos com Opex aumentem porque as companhias passam a contratar recursos de TI de acordo com a sua demanda de consumo.

Conforme mencionado no capítulo 1, CAPEX é um acrônimo para Capital Expenditure (em português, “despesas de capital”), que faz referência ao investimento para compra de recursos para as organizações. Já o OPEX é um acrônimo para Operational Expenditure (em português, “despesas operacionais”), e tem relação com as despesas operacionais de uma organização.

A troca de Capex por Opex exige um estudo para avaliar os impactos e riscos para os negócios e para a organização, mas, de modo geral, existem vários benefícios em fazer esta troca. Dentre eles, os mais conhecidos são a redução de custos com manutenção de equipamentos físicos e energia e também maior facilidade para contratar novos recursos computacionais e escalar os já existentes.

Pensando nisso, qual é a melhor estratégia para lidar com os gastos em TI? A resposta é: depende.Escolher entre Capex e Opex para lidar com os custos em tecnologia requer entender como são feitos os investimentos nesta área, conhecer o cenário atual em que se encontra a empresa e as especificidades dos projetos. No fim das contas, o que vale é focar no que é importante para o negócio e em seus resultados, como já abordamos anteriormente.

Como fazer o controle dos custos

Cada cloud provider geralmente fornece uma fatura detalhada com os gastos de cada mês e, nesta fatura, cada item consumido vem detalhado em formato de lista. Assim, visualizar os gastos dessa maneira não é viável quando você controla o uso de vários projetos de diferentes centros de custos e, por isso, existem diversas maneiras que podem ajudar a fazer um controle mais eficiente. Algumas delas são:

  • Criar budgets para cada projeto;
  • Utilizar tags e labels para identificar os recursos que forem provisionados;
  • Criar relatórios que tenham uma linguagem clara, pois nem todas as pessoas envolvidas no FinOps são técnicas e conhecem os serviços utilizados na cloud. Você pode criar esses relatórios usando as ferramentas de billing dos próprios provedores ou pode até mesmo exportar para o PowerBI, por exemplo;
  • Monitorar o uso e desempenho dos recursos utilizados, para saber se os recursos precisam ser escalados, reduzidos ou até mesmo deletados;
  • Alguns cloud providers possuem ferramentas nativas que dão insights sobre a utilização dos seus recursos, as mais conhecidas são: Azure Advisor, AWS Trusted Advisor, Oracle Cloud Advisor e GCP — Recommendations. Por meio deles, é possível ver o que está sendo muito ou pouco utilizado e, com base nisso, você pode tomar a decisão de fazer um redimensionamento dos recursos que aparecem nessa lista, porém, se você quiser fazer esse acompanhamento de maneira mais centralizada, recomendamos que conheça mais a fundo as CMPs.

Esta gestão financeira trará visibilidade dos custos atuais e proporcionará novas oportunidades para migração de outros serviços para a nuvem. Logo, estamos diante de um processo contínuo que permite otimizar tanto os recursos computacionais quanto os recursos financeiros.

CMPs (Cloud Management Platforms)

As Cloud Management Platforms (CMPs) são ferramentas que possuem diversos recursos e módulos que permitem o gerenciamento de diversos ambientes de cloud pública, híbrida e privada através de uma console unificada, tornando assim o gerenciamento do ambiente mais organizado e menos complexo.

É possível utilizar plataformas de gerenciamento de nuvem (CMP) para facilitar a otimização de custos em nuvem, pois, além de fornecer um detalhamento centralizado sobre os custos dos ambientes, essas ferramentas também fornecem recomendações personalizadas de redimensionamento para seus workloads.

As CMPs mais conhecidas e utilizadas no mercado atualmente são:

Identificando recursos compartilhados

Existem alguns itens dentro da cloud que se enquadram em uma categoria que é conhecida como shared services, que nada mais são que serviços comuns a todos os projetos.

Alguns dos shared services mais conhecidos são:

  • Suporte do cloud provider;
  • Rede e armazenamento compartilhado;
  • Serviços de armazenamento de logs e monitoração de recursos;
  • Camadas de segurança como antivírus e endpoints.

Os custos destes serviços podem ser direcionados a um orçamento centralizado ou também podem ser divididos entre todos os centros de custos que os utilizam. A decisão vai depender da estrutura e do porte da empresa, entretanto é importante identificar e entender o uso deste tipo de serviço para não deixar estes custos de fora do mapeamento.

Para entender melhor sobre este assunto, recomendamos a leitura do material “A Guide to Spreading Out Shared Costs”, da FinOps Foundation.

Usando recursos de maneira eficiente

Existem algumas formas de obter descontos através de modalidades específicas de uso de recursos, e as mais conhecidas são:

  • Instâncias reservadas: Neste modelo, é possível adquirir instâncias por um período de tempo prolongado, visto que os períodos de compromisso geralmente variam de um a três anos e, dependendo do cloud provider, os descontos podem chegar a 70% se comparados com o modelo padrão.
    Entenda melhor como cada provedor funciona acessando as páginas Reservas no Azure e Instâncias reservadas na AWS como exemplo;
  • Instâncias Spot (Azure e AWS) ou Preemptivas (GCP): As instâncias Spot e Preemptivas são modelos que os clouds providers encontraram para vender recursos ociosos das VMs com um bom desconto. Assim, enquanto houver capacidade computacional disponível sobrando, as instâncias serão executadas normalmente, entretanto, se o provider precisar desta capacidade, ele pode interromper a sua instância a qualquer momento. Por isso, este modelo é indicado apenas para aplicações que podem lidar com interrupções.
    Entenda melhor como cada provedor funciona acessando as páginas Azure Spot, Instâncias Spot da AWS e VMs Preemptivas do GCP;
  • Desconto por utilização: Alguns provedores oferecem desconto por uso prolongado. Dessa forma, o cliente precisa executar o uso dos recursos por uma porcentagem de tempo no mês e, assim, garantir os descontos sobre o restante da utilização no período remanescente do mês.
    Um dos provedores que se destaca com esse tipo de desconto é o GCP, e você pode obter mais detalhes sobre esse tipo de oferta neste link.

Assim, é possível perceber que o FinOps é um assunto relativamente extenso, pois envolve não somente aspectos técnicos, mas também assuntos financeiros e estratégicos. Por isso, neste capítulo, tentamos abordar pontos que julgamos cruciais para entender quando você está iniciando a sua jornada nesta área.

Por fim, se você deseja aprofundar mais seus estudos neste tópico, recomendamos fortemente que acompanhe as iniciativas da Finops Foundation e também recomendamos a leitura do livro “Cloud FinOps O’Reilly”, de J.R. Storment e Mike Fuller, de 2020.

Esse texto faz parte do Guia da Guia da Computação em Nuvem: Conceito, Prática & Capacitação publicado no Medium, no LeanPub, e na Open Library. Para checar todos os capítulos, clique aqui e acesse a Introdução.

Próximo capítulo: Certificações de cloud pública para iniciantes

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Beatriz Oliveira
SysAdminas

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