Dicas para contribuir em comunidades: principais meios e estratégias

Beatriz Oliveira
SysAdminas
16 min readJun 28, 2023

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Se você está pensando em contribuir com comunidades de tecnologia e não sabe bem por onde começar, não se preocupe, você certamente não é a única pessoa. Essa dúvida é comum, pois existem diversos meios e é necessário analisar o que melhor funciona para você, levando em consideração alguns pontos.

O primeiro deles é a familiaridade com os métodos de contribuição. Por exemplo, nem sempre fazer palestras e falar em público vai ser algo confortável para todas as pessoas. Por isso, é possível contribuir por meio de outras formas que não causam tanta exposição direta, como escrever artigos ou organizar meetups.

O segundo ponto é lembrar que trabalhos para a comunidade geralmente são atividades extras e voluntárias, ou seja, é algo que você deve fazer no seu tempo livre, de acordo com a sua disponibilidade e não receberá remuneração por isso.

O terceiro ponto é ter em mente que para contribuir não é necessário ser especialista em um determinado assunto ou tecnologia. Basta ter vontade de apoiar a comunidade para começar.

Entendo que muitas vezes a insegurança bate forte na hora de escrever um artigo, contribuir com um projeto open source ou até mesmo fazer uma palestra. Mas a maioria das pessoas que conheço que hoje contribuem com a comunidade também tiveram esses receios ao iniciar suas contribuições, ou seja, é super comum, mas ideia é que você não deixe o medo ou a vergonha te inibirem de começar.

Minha jornada em comunidades

Comecei a me envolver com as comunidades ao escrever no blog Code like a Girl aqui no Medium em 2017 e, no mesmo ano, comecei a apoiar a organização de eventos da comunidade PHP Women BR. Apesar de não ser uma pessoa desenvolvedora, tive a oportunidade de contribuir em todo o processo de elaboração de oficinas e meetups, sem aparecer muito nos palcos ou fazer muitas apresentações entre 2017 e 2018.

Somente em 2019 comecei a fazer palestras com mais frequência, quando me juntei às comunidades WoMakersCode e SysAdminas. Por ser introvertida, esse processo de exposição e interação com outras pessoas não foi algo natural para mim e exigiu uma adaptação difícil. No entanto, ao longo do tempo e após apresentar em diversos eventos, percebo que melhorei essa habilidade. Embora ainda não me sinta totalmente confortável, consigo articular minhas ideias de forma mais efetiva durante as apresentações.

Durante os últimos anos em comunidades, também tive a oportunidade de conhecer diversos programas de contribuição e atualmente faço parte de vários deles, incluindo o AWS Community Builder, Microsoft MVP, Elastic Contributor Program, Google’s Women TechMakers Ambassador e VMware vExpert. Esses programas são iniciativas de grandes empresas de tecnologia que reconhecem pessoas engajadas na comunidade. Entrei em cada um deles em momentos diferentes e a chave para participar foi ter uma frequência consistente de contribuições para a comunidade.

Compartilho tudo isso para mostrar que não há uma regra a seguir para se envolver com as comunidades. Ao longo dos últimos seis anos, eu fui escolhendo atividades e me adaptando aos poucos a diferentes métodos, como escrita, palestras e organização de eventos. Por exemplo, em alguns momentos, escolho fazer muitas palestras, o que me leva a escrever artigos com menos frequência. Em outros momentos, me dedico muito a escrita e deixo as palestras de lado por um tempo. Você não precisa fazer todos os métodos o tempo todo. Vá testando e escolhendo o que melhor se adapta à sua realidade e vontade de contribuir.

Para te ajudar a entender melhor, nos tópicos a seguir vou detalhar as principais formas de contribuição com comunidades de tecnologia e algumas dicas que aprendi nos últimos anos em contato com este meio.

Apoiar a desenvolver e evoluir software open source

Uma das maneiras de contribuir é apoiar no desenvolvimento de software de código aberto ou open source em inglês. Para começar, procure projetos que estejam de acordo com suas áreas de interesse e expertise. Em seguida, busque tarefas ou issues que estejam marcados como “good first issue”. Nesse processo você pode resolver problemas já existentes ou até mesmo implementar novos recursos.

Existem muitos projetos de código aberto que estão aceitando contribuições e você pode encontrá-los em sites como “Up for Grabs” e “First Contributions”.

Embora eu não seja uma pessoa desenvolvedora, já tive a experiência de contribuir dessa maneira, participando do Hacktoberfest em 2019. O Hacktoberfest é uma iniciativa organizada pela DigitalOcean, que ocorre anualmente durante o mês de outubro e tem como principal objetivo fomentar e movimentar a comunidade Open Source. A participação geralmente possui algumas regras básicas, a principal delas é que os participantes devem enviar no mínimo 4 Pull Requests (PRs) em projetos open source durante o mês de outubro. Para quem atende aos requisitos, a Digital Ocean geralmente envia alguns brindes como camiseta e adesivos.

Se você deseja aprofundar e entender mais sobre esse tipo de contribuição, recomendo a leitura do Open Source Guide produzido pelo GitHub.

Responder dúvidas em fóruns e grupos técnicos

Você certamente já deve ter buscado a resposta para algum problema e caiu em fóruns de discussões onde havia a resposta para o seu caso.

É ótimo quando isso acontece, não é mesmo?

Mas para que isso exista, diversas pessoas ajudam a manter esse ecossistema, respondendo questionamentos em fóruns como o Stack Overflow ou até mesmo grupos de tecnologias específicas em canais de comunicação como o Discord, WhatsApp ou Telegram.

Então, se você já costuma utilizar esses canais para consulta, pode ser uma ótima ideia tentar responder dúvidas que você conheça a solução. Às vezes você não vai ter a resposta exata, mas pela experiência que você tem, pode ser que você já conheça algum material de referência que possa ajudar aquela pessoa que está questionando algo.

É importante lembrar que não existem perguntas bobas. Então, é fundamental ter empatia e responder as pessoas sem criticá-las por suas dúvidas, pois principalmente quando iniciamos na área, muitas vezes não sabemos nem como ou o que pesquisar na internet. Além disso, na área de tecnologia, temos diversos termos específicos, muitos deles em inglês, e apenas com o tempo e experiência conseguimos aprender.

Em algumas situações, durante o processo de estudo ou em um troubleshooting no trabalho, a resposta para um problema pode estar descrita claramente em uma simples mensagem de erro, que pode ser facilmente compreendida e resolvida. No entanto, quando não temos tanta experiência ou estamos muito imersos no problema, podemos acabar acreditando erroneamente que não somos capazes de solucioná-lo, atribuindo nossa dificuldade à incompetência.
Creio que boa parte das pessoas em nossa área já passaram por essa situação, portanto saber direcionar com empatia quem está fazendo perguntas e tirando dúvidas é essencial para quem deseja contribuir com a comunidade nesse formato.

Desenvolver documentações, artigos, livros e tutoriais

Considero a escrita um dos métodos mais legais para começar a contribuir com a comunidade, pois não é necessário se expor diretamente como geralmente acontece em palestras e também não requer tantos recursos para iniciar, além disso, os seus leitores podem consumir os materiais escritos a qualquer momento e de acordo com a necessidade de cada uma delas.

Outro ponto importante para levar em consideração é que as pessoas de tecnologia costumam consumir conteúdos escritos com bastante frequência em vários meios, alguns dos mais conhecidos são fóruns, documentações das tecnologias, plataformas e linguagens, artigos, tutoriais publicados em blogs de comunidades e livros.

Para iniciar esse tipo de contribuição, recomendo que escolha a forma que quer ter seu conteúdo publicado. Por exemplo, você pode ter um blog provisionado e mantido por você ou também pode publicar seus textos em plataformas prontas como o Medium ou o dev.to.

Escrever é uma habilidade que precisa ser exercitada com constância. No início eu tinha vergonha de escrever porque pensava que a minha escrita não era tão boa, e realmente tinha como ser, uma vez que eu não praticava, então, minha recomendação é, mesmo que você tenha esse medo, não deixe de escrever, pois você só conseguirá evoluir se praticar aos poucos e respeitando o seu tempo, claro.

Outra coisa que eu pensava, era que o meu conhecimento não era tão vasto sobre nenhum tema e que não valia a pena falar sobre assuntos que outras pessoas já haviam escrito, porém, hoje vejo que não é bem assim, pois cada pessoa tem uma didática para explicar algo, então mesmo que você esteja escrevendo sobre um tema que já exista, não tem problema, pois a forma que você compartilha o seu conhecimento é que torna o seu conteúdo único.

Aqui vão algumas dicas para você começar a escrever seus primeiros textos:

  • Antes de começar a escrever, defina o tema e título que vai guiar o seu conteúdo.
  • Inicie o seu processo de criação de conteúdo especificando os tópicos que vão construir o início, meio e fim do texto. Dividir as seções do material pode te ajudar a estruturar melhor as ideias.
  • Use um editor de texto para te auxiliar com possíveis erros de ortografia, para isso, eu costumo utilizar o Google Docs e recentemente tenho começado a usar o Chat GPT para algumas correções também.
  • Escreva sobre tópicos que já são familiares para você, assim será mais fácil de elaborar as ideias inicialmente, entretanto, não deixe de se aprofundar e estudar ainda mais durante o processo de escrita, inclusive, é super comum ler e buscar aprender mais sobre o que você está escrevendo.
  • Se puder, peça ajuda para outra pessoa revisar o seu conteúdo antes de ser publicado. A revisão pode ser técnica ou ortográfica.
  • Depois que tiver escrito e publicado o seu artigo, mostre em redes sociais como Twitter, Instagram e Linkedin que você está falando sobre aquele tema e qual o seu objetivo em abordar aquilo, assim o seu conteúdo poderá alcançar mais pessoas.
  • Não se apegue a números de visualizações e likes, faça o seu conteúdo e publique de maneira genuína. Métricas são importantes para entender o seu alcance, mas, é bom lembrar que seu conteúdo certamente vai ajudar alguém uma hora ou outra, por isso, se ao menos uma pessoa for beneficiada com o seu material, você já estará impactando a comunidade de forma positiva.

Até hoje eu recebo feedbacks de artigos publicados há mais de 3 anos. Às vezes eu olho pra eles e penso em revisar e mudar vários pontos, mas, no fim, deixo as coisas como estão, pois também é uma forma de ver como a minha escrita e forma de falar com a comunidade vem mudando ao longo dos anos.

Eu gosto de escrever em português, pois sei que existem muitos conteúdos em língua inglesa. Em 2022, essa percepção foi confirmada quando meu blog pessoal e o da SysAdminas ficaram entre os 25 vencedores do IT Blog Awards da Cisco. Eles eram alguns dos poucos vencedores em português e que também eram mantidos e criados por mulheres, entretanto acho que podemos melhorar esse cenário, pois temos muitas oportunidades de gerar mais conteúdos feitos por pessoas diversas e em língua portuguesa.

Traduzir conteúdos

Como já abordado no tópico anterior, é evidente que a maioria dos conteúdos de tecnologia estão disponíveis em inglês, porém nem todas as pessoas que estão na área, possuem familiaridade com esse idioma, visto que aqui no Brasil o nosso idioma nativo é o português e apenas 5% dos brasileiros falam inglês, como aponta uma pesquisa da British Council, então, se quisermos realmente incluir cada vez mais pessoas em nossa área, é essencial criar meios acessíveis para que isso aconteça.

Por isso, a tradução de conteúdos é uma ótima oportunidade para tornar conteúdos técnicos acessíveis em nossa língua materna. Um exemplo de material técnico com esse intuito é o glossário da Cloud Native Computing Foundation (CNCF), que detalha diversos termos que usamos na área de tecnologia e aceita traduções para diversos idiomas, incluindo português.

Eu não tenho experiencia nesse formato de contribuição, por isso indico que se você quiser iniciar, busque projetos já consolidados como o que foi citado acima para começar e entender melhor como funciona.

Apresentar conteúdos

Fazer apresentações de conteúdos é um método muito bacana, mas ao mesmo tempo muito desafiador, principalmente para pessoas que não costumam falar em público ou que são introvertidas, porém, as comunidades são ótimos espaços para quem deseja praticar e melhorar suas habilidades de comunicação.

Algumas das principais formas utilizadas para apresentar conteúdos, são:

  • Palestrar em meetups e conferências
  • Participar de painéis e rodas de conversa
  • Fazer palestras técnicas em lives
  • Fazer live coding
  • Gravar vídeos
  • Conduzir workshops
  • Participar de podcasts

Como achar eventos e iniciativas para palestrar
Muitas pessoas não sabem, mas para palestrar em eventos ou outras iniciativas geralmente é necessário submeter um tema através de call for papers. Às vezes esse termo também pode ser visto através dos acrônimos CFP ou C4P ou em tradução literal, como chamada para trabalhos.

Os “calls for papers” geralmente pedem uma breve descrição do conteúdo e um título para a palestra. No entanto, alguns eventos podem oferecer a oportunidade de enviar propostas para outras atividades, como painéis, rodas de discussão, workshops, entre outros. Isso varia de acordo com os formatos, objetivos e cronogramas de cada evento. Além desses itens, também é comum que peçam links das suas redes sociais e informações sobre você que geralmente podem ser descritas em uma bio, detalhando um pouco sobre quem você é e sua experiência de forma sucinta.

Depois de enviar sua sugestão de tema, basta aguardar, pois caso seu tema seja selecionado, você certamente receberá algum contato da organização do evento. No entanto, é importante ter em mente que nem sempre as palestras são aceitas, e isso é normal e faz parte do processo. Uma estratégia que pode ser útil é aplicar o mesmo tema em diferentes calls for papers, pois às vezes um tema pode não ser adequado para um evento, mas pode ser para outro. Por exemplo, por diversas vezes eu palestrei sobre infraestrutura em eventos de desenvolvimento de software, e isso só foi possível porque eu submeti sem medo os temas em calls for papers distintos.

Aqui vão algumas dicas para quem deseja começar a fazer palestras ou lives:

  • Comece aplicando em call for papers de comunidades ou eventos que você já conhece e sinta-se confiante para participar.
  • Após suas apresentações, solicite feedbacks de pessoas próximas e de confiança que assistiram à sua palestra. É normal haver pontos de melhoria, então anote tudo que precisar ser ajustado e vá melhorando aos poucos.
  • Verifique se alguém da sua área gostaria de apresentar junto com você, pois fazer uma apresentação em dupla pode deixar as coisas mais confortáveis.
  • Faça slides simples, sem muitos textos.
  • Crie um script que te ajude a manter a linha de raciocínio durante a apresentação.
  • Antes de apresentar, treine sozinho ou com pessoas próximas para ficar mais confortável e confiante ao falar sobre o assunto escolhido.
  • Use um cronômetro para não perder a noção do tempo e extrapolar o horário da palestra.
  • Se for fazer lives ou gravar vídeos, escolha um lugar sem ruídos ou interferências externas, e que possua uma boa conexão com a internet.

Se decidir realizar workshops com atividades práticas, preste atenção nos seguintes pontos:

  • Considere que cada pessoa pode ter um computador com um sistema operacional diferente. Se for possível, tente criar laboratórios que possam ser executados na nuvem, por exemplo, para evitar problemas com hardware e sistemas operacionais variados.
  • Crie um passo a passo claro e detalhado, descrevendo as atividades do workshop. Isso ajuda os participantes a ter uma ideia clara do que estão fazendo.
  • Convide outras pessoas para ajudar na condução do workshop, especialmente se houver atividades práticas. Certamente, várias pessoas vão precisar de apoio simultaneamente e, se você estiver só, terá dificuldades em ajudar todo mundo.

Como funcionam as rodas de conversas e painéis
Em painéis e rodas de conversa, geralmente há uma pessoa que atua como moderadora e faz a intermediação entre os participantes, que respondem perguntas e falam sobre o tema abordado. O interessante desse formato é que ele é mais flexível e confortável para quem não gosta de estar sozinho em público, já que não é necessário ficar no palco sozinho.

Como funcionam os podcasts
Se você for participar de podcasts, a dinâmica é parecida com a de palestras e lives. A diferença é que geralmente não há apresentação de slides. É importante ter uma pauta definida e cronometrar o tempo de apresentação. Se estiver gravando remotamente, é importante estar em um lugar sem ruídos externos e com uma boa conectividade.
Embora eu nunca tenha editado ou sido host de um podcast, já participei de alguns como convidada e todos foram ótimos. Os pontos que listei acima foram suficientes para fazer as gravações tranquilamente.

Oferecer mentoria de carreira ou revisões de currículos

Acredito que fazer mentoria de carreira é extremamente necessário, independentemente do nível de senioridade que você possui, pois sempre há habilidades para desenvolver e outras pessoas podem nos fornecer direcionamentos e embasamentos que, às vezes, não conseguimos ver com facilidade. Comecei a fazer mentoria recentemente e os resultados têm sido muito positivos, pois tem me ajudado a organizar melhor as ideias e objetivos de minha carreira.

Por isso, se você deseja apoiar outras pessoas que estão em busca de orientação, oferecer mentoria de carreira é uma ótima alternativa. Além disso, você também pode ajudar no desenvolvimento de carreira dessas pessoas fazendo revisão de perfis no LinkedIn ou até mesmo revisando seus currículos. Na comunidade SysAdminas, algumas voluntárias costumam abrir algumas turmas de mentoria e revisão de currículo algumas vezes ao ano, e os resultados costumam ser muito satisfatórios.

Nunca assumi o papel de mentora, mas já ajudei diversas pessoas da área com direcionamentos de carreira, preparação para entrevistas e revisão de currículos e perfis do LinkedIn. Além disso, sou facilitadora do workshop “I am Remarkable”, uma iniciativa do Google que incentiva as pessoas a desenvolverem habilidades de auto-promoção e reconhecimento de suas conquistas. Como facilitadora, conduzo sessões que abordam aspectos de diversidade, inclusão, desenvolvimento pessoal e profissional, ajudando as pessoas a desenvolverem mais autoconfiança. Embora não seja uma mentoria de carreira propriamente dita, o workshop ajuda no desenvolvimento de habilidades importantes para o sucesso na carreira.

Fazer esse tipo de trabalho é extremamente relevante, pois é possível ajudar as pessoas a se desenvolverem no mercado, apoiando-as em sua empregabilidade e autoconfiança.

Organizar eventos presenciais ou online

Organizar eventos é uma atividade bastante desafiadora, mas também muito gratificante. Até o início de 2020, era bastante comum realizar eventos presenciais, mas com a pandemia de COVID-19, muitos líderes de comunidades precisaram se adaptar e levar esses eventos para o ambiente digital.

Existem muitas diferenças entre organizar eventos online e presenciais, mas em ambos os casos, é importante criar um ambiente acolhedor e inclusivo para todas as pessoas que participam.

Como alguém que organiza eventos para a comunidade há seis anos, tanto no formato presencial quanto online, aprendi algumas coisas importantes. A seguir, listo os principais aprendizados que obtive.

Em eventos presenciais:

  • Verifique a capacidade máxima do local escolhido e planeje a quantidade de inscrições com antecedência para evitar problemas de superlotação.
  • Escolha um local que seja facilmente acessível por transporte público e ofereça informações claras sobre a localização do evento.
  • Considere ter intérpretes de libras para palestras e apresentações, a fim de garantir a inclusão de pessoas com deficiência auditiva.
  • Certifique-se de que o local possua rampas de acesso, corrimãos, elevadores em locais com mais de um andar e banheiros adaptados para receber pessoas com mobilidade reduzida e com deficiências.
  • Se o evento for fornecer alimentação, busque oferecer um cardápio variado para atender a diferentes restrições e alergias alimentares.
  • Considere também fornecer crachás para que as pessoas participantes possam inserir seus nomes e pronomes, a fim de promover a inclusão e evitar erros ao se dirigir aos participantes.
  • Nem sempre é fácil conseguir todos esses recursos listados acima, especialmente quando estamos organizando eventos gratuitos e dependemos de parcerias para obtê-los. Por isso, uma dica que dou é tente conhecer o seu público com antecedência, através do formulário de inscrição, assim você consegue ter insumos para buscar os recursos adequados a tempo.

Em eventos online:

  • Tente garantir que seus eventos tenham legendas nos vídeos e transmissões, a fim de garantir que pessoas com deficiências possam acompanhar também.
  • Tenha uma pessoa responsável para moderar e responder aos comentários durante a transmissão, pois no formato online, a interação do público geralmente é pelo chat.
  • Se você quiser fazer um evento mais reservado, utilize plataformas como Zoom, Teams ou Google Meet, onde é possível controlar quem pode acessar.
  • Para eventos abertos a qualquer pessoa, é possível utilizar o Youtube ou a Twitch. Para fazer as transmissões no Youtube da SysAdminas geralmente utilizamos o Stream Yard.

Em qualquer tipo de evento:

  • Utilize plataformas voltadas para publicar o formulário de inscrição do seu evento, como o Sympla ou o meetup.com.
  • Divulgue seu evento em várias redes sociais para alcançar um público maior.
  • Se precisar de dinâmicas para engajar o público, utilize plataformas como Kahoot para fazer alguns quizzes ou o Mentimeter para obter feedbacks e respostas em tempo real.
  • Busque incluir palestrantes diversos em seus eventos. Embora seja fácil convidar pessoas conhecidas, é recomendável fazer uma busca mais ampla no mercado e trazer outras pessoas de fora da sua rede, apoiando e dando espaço a quem está começando no universo de apresentação de conteúdo. Para encontrar pessoas diversas, você pode solicitar referências ou publicar um formulário de call for papers.
  • Se você planeja publicar um formulário de Call for Papers, é importante que este inclua informações que ajudem a entender a proposta dos palestrantes, como título e descrição da palestra, nível de profundidade do tema, bio do palestrante e links das redes sociais do palestrante, por exemplo.
    Isso ajudará a ter uma noção melhor do conteúdo que será apresentado e também permitirá que você conheça melhor os palestrantes antes do evento. Além disso, é importante que o formulário deixe claro quais são as datas e prazos para envio das propostas e quais são os critérios de seleção que serão utilizados para escolher as palestras que serão apresentadas no evento.
  • Tenha sempre um código de conduta claro que estabeleça o que é ou não permitido durante o evento.

É importante salientar que tudo o que estou abordando é baseado na minha experiência nos últimos anos. Além disso, sempre organizei eventos gratuitos, por isso não consigo fornecer informações detalhadas sobre eventos que possuem monetização. No entanto, creio que há muitos detalhes que precisam ser levados em consideração quando se trata de eventos com recursos financeiros envolvidos, como alinhamentos com fornecedores e patrocinadores.

Organizar eventos em geral é uma tarefa complexa, mas é uma maneira incrível de contribuir com a comunidade, pois essa atividade ajuda a desenvolver habilidades de priorização de tarefas, organização e negociação com pessoas e empresas. Ao solicitar a hospedagem de um evento para uma empresa, por exemplo, é necessário informar vários detalhes sobre o formato do evento, datas previstas, tópicos a serem abordados, perguntar sobre possibilidade da empresa oferecer brindes e também justificar o motivo pelo qual a empresa deve apoiar o evento, entre outras coisas que podem parecer triviais, mas são fundamentais para o processo.

Eu comecei a contribuir com comunidades dessa forma e acho que não poderia ter começado de maneira melhor. Todos os papéis em uma comunidade são importantes, pois os eventos não são feitos apenas por quem está no palco brilhando. Também existe todo um trabalho nos bastidores necessário para que um evento aconteça.

Considerações finais

Após ler tudo isso, espero que você tenha entendido um pouco mais sobre como funcionam os processos de contribuição em comunidades de tecnologia e que se sinta inspirado a começar a contribuir. É importante que novas pessoas entrem e contribuam, cada uma no seu próprio ritmo, para que a roda continue a girar. O trabalho é voluntário, mas fundamental para o desenvolvimento de várias pessoas na área de tecnologia. Você pode participar independentemente do nível de senioridade. Sua contribuição é bem-vinda e necessária.

Por fim, se tiver alguma dúvida ou quiser compartilhar alguma contribuição, não hesite em deixar seus comentários nesse post.

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Beatriz Oliveira
SysAdminas

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