O que a saga Harry Potter nos ensina sobre comunicação?

Mariana Amorim
sysvale
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8 min readFeb 8, 2023

Contém spoilers

Photo by Rae Tian on Unsplash

Disclaimer: Esse post está separando a criadora da obra, e todas as polêmicas que envolvem J. K. Rowling, combinado?

Obs: Isso é uma postagem opinativa, ou seja, embora contenha embasamento em argumentos reais, é um post parcial.

Vamo lá?

Para uma rápida contextualização, vale definir que iniciaremos nosso passeio falando de arquétipos na psicologia.

Carl Jung é um famoso psicólogo, que defendeu os arquétipos como habitantes do nosso inconsciente coletivo. É algo que todo ser humano carrega dentro de si e compartilha com outros humanos. São sistemas de reações instintivas, psíquicas e obrigatórias que todos temos e não podemos fugir. São encontrados em sonhos, por exemplo, mas também em outras histórias, tradições religiosas, filmes — que é o que conversaremos aqui.

Os arquétipos se relacionam com diversas características da natureza humana, basicamente. Por isso, eles unem uma quantidade enorme de pessoas com as mesmas características inconscientes. Quando utilizados em um determinado contexto, sua narrativa tem uma alta probabilidade de ser bem sucedida, por isso, ela está presente na religião, na ciência, na filosofia, na política, e sim, na comunicação.

O que esse post pretende ilustrar, é como a comunicação também se apropriou (rsrsrs) dos arquétipos, para atingir determinados públicos e torná-los fiéis, promotores, defensores ou tudo isso junto, de suas marcas/projetos/personalidades públicas, etc.

Diante de todo o furor em torno do jogo de RPG que será lançado essa semana— Hogwarts Legacy— me recordei da saga Harry Potter, e em como ela representa muito bem a conexão de arquétipos com sua audiência. E para ficar um post mais lúdico, vamos compará-los com alguns personagens da franquia.

Vai funcionar assim: Arquétipo > Aplicação em um personagem e características do arquétipo > Uma marca que utilize.

Então bora.

O Inocente (Luna) — pureza, simplicidade e positividade em relação a si mesmo e ao mundo. Características marcantes na personalidade são autenticidade, espontaneidade e transparência na tomada de decisões.

(Reprodução: Giphy)

Nos filmes, a personagem Luna Lovegood é uma bruxinha que cativa exatamente pelas características citadas. Muito autêntica, espontânea, delicada, Luna ganha ao longo da saga a atenção do público que se identifica com seu modo de pensar e agir.

Uma marca que faz isso para seu público: Natura. Se preocupa em ser autêntica na sua comunicação com seu público, utiliza elementos como uma mascote — a Nat — que representa a terra nativa da marca: Brasil. A Natura é hoje, a maior multinacional dos cosméticos, e mostra a beleza do simples, com delicadeza, e em várias nuances.

O Sábio (Hermione) compartilha conhecimento para chegar até grandes lugares. Preza por estar sempre de olho nas principais tendências, estudos e materiais que possam melhorar o entendimento sobre assuntos diversos.

(Reprodução: Giphy)

Hermione Granger — também conhecida como: melhor personagem - desde sua primeira aparição no filme, e ao longo de todos os outros, apresenta à audiência o tempo inteiro a importância do conhecimento para obter êxito em qualquer coisa que se faça. Isso, resumindo ao mínimo do que a personagem entrega à história: amadurecimento através do conhecimento, lealdade com seus amigos, pensamento crítico e analítico, entre outros.

Uma marca que faz o uso do arquétipo do sábio para seu público: Ted Talks. A marca se dedica a deixar ensinamentos à sua audiência, preocupando-se em entregar algo que possa ser aplicável na vida pessoal e na carreira profissional, por exemplo.

O Herói (Harry) — está pronto para encarar qualquer desafio que surja em seu caminho. Há um certo ar de que com o devido esforço e dedicação, tudo é possível.

(Reprodução: Giphy)

Não é “de orelhada” que Harry Potter seja o herói e carregue o nome da saga. Existe um contexto muito bem elaborado para tal, não apenas por ser o “resolvedor final” de todas as tretas que aparecem na história, mas em como Harry, por si só, não vai deter todos os poderes e habilidades necessárias para lidar com tudo ao mesmo tempo. Heróis não se constroem sozinhos, e não é diferente com Harry, ele precisa do suporte de quem o apoia para atingir seus objetivos.

A marca que faz esse crossover com seu público é a Nike. O approach que a Nike usa em sua comunicação do “faça, estou contigo, estou próximo, você consegue, etc” faz com que a recíproca do público dê continuidade para essa narrativa.

O Fora da Lei (Sirius) — também pode ser reconhecido enquanto rebelde, inquieto e pronto para quebrar barreiras do cotidiano, é capaz de revolucionar o que está ao seu alcance.

(Reprodução: Giphy)

Sirius Black aparece como “antagonista” em Harry Potter e o Prisioneiro de Azkaban, é um bruxo antigo e temido, porém, ao longo do filme, a audiência percebe que seu personagem não é vilão, tampouco antagonista da história, e passa a enxergá-lo como revolucionário para o tear da trama.

A marca fora da lei escolhida é a Uber (sem polêmicas por hora) a Uber surge como a destruidora (?) do modelo tradicional de transportes, até então os táxis. Aos poucos, a Uber usa essa revolução a seu favor, e torna-se um exemplo de inovação disruptiva em mobilidade, quebrando aquelas famigeradas barreiras impostas no início da sua operação (pelo menos no Brasil).

O Explorador (Rony) — carrega consigo uma grande vontade de descobrir o mundo, suas novidades, não se prender a amarras da sociedade e se desprender do tédio do dia a dia.

(Reprodução: Giphy)

Rony Weasley é um queriiido. Um dos principais personagens do casting, é fundamental para todos os filmes da saga, sem dúvida. Rony é um típico experimentador. Olha que graça a persistência de Rony para fazer o feitiço do Wingardium Leviosa.

E que marca se arrisca e traz novidades o tempo inteiro em seus produtos/serviços? A também queridinha Amazon, dona do arquétipo explorador. É e-commerce, marketplace, Echo Dot, Fire Stick Tv, Kindle, Streaming de música, de vídeo. Esqueci algum?

PS: Poderia melhorar a usabilidade do Prime Vídeo? Poderia… Mas fica essa queixa para um post sobre Bad UX.

O Mago (Severus) — pode contar com um ar de mistério, improvisação, ironia, ilusão e — como o nome já adianta — muita magia.

(Reprodução: Giphy)

Severus Snape, quem diria… Acreditei piamente que seu protagonismo terminaria em Harry Potter e o Enigma do Príncipe.

Mas que nada! O bruxo é peça chave para o desfecho da história. Anda às voltas com a saga, mas não perde o poder de sua presença.

A marca que representa esse arquétipo é a Disney.

Conhecer a Disney é quase que um sonho inerente para 9 entre 10 crianças, para uma grande parcela de adolescentes e até alguns adultos. A Disney sempre estará no imaginário do público com esse ar de magia e sonhos, e a comunicação, claro, vai se valer disso.

A Pessoa Comum (Neville) — seu principal objetivo é se inserir de forma efetiva na sociedade, ou seja, percebemos que esse arquétipo tem afinidade com rotina e não se importa em ser mais um dentre vários.

(Reprodução: Giphy)

Neville Longbottom poderia ser esquecido em alguns momentos da história, exceto pelo fato de que preenche contextos necessários da trama. Não vou me aprofundar, mas a ação final de Neville em Harry Potter e as Relíquias da Morte II, vai deixá-lo marcado na saga.

Uma marca para a pessoa comum, concordando com uma das fontes desse post, porém sob outra perspectiva, é a: Havaianas. O cara comum utilizado pela Havaianas é colocado na sua comunicação como pessoas famosas em situações triviais, mas a Havaianas tem uma proporção maior que isso. O fato mais salutar é que, hoje em dia, Havaianas não tem um preço comum em relação há, não sei, 15 anos atrás? Mas ainda assim, pessoas comuns continuam a consumir o produto, porque preço se transformou em valor. Graças a comunicação? Sim. Pois é Havaianas, e Havaianas todo mundo usa.

O Amante (Chapéu Seletor) — por mais que o nome faça referência a um sentimento romântico, o ponto principal desse arquétipo não necessariamente envolve o amor, mas sim a sensação de ser único para cada um, exclusivo.

(Reprodução: Giphy)

As pessoas deveriam observar melhor o chapéu seletor. Olha o poder dele: captar a essência de cada um, e dizer para onde deve ir (no caso de Harry Potter, a qual casa em Hogwarts pertence). Quer exclusividade maior? Duvido.

Marca do amante: Carolina Herrera. A principal característica dessa exclusividade da CH, é o design dos seus produtos, pensados milimetricamente para atender os anseios dos seus consumidores. Se você não conhece as linhas da marca, dê um Google e fique embasbacado(a).

O Bobo (Dobby) — despreocupados, engraçados e acessíveis, esse perfil é conhecido por fazer graça de si mesmo e ver a vida de forma muito tranquila, eles serão aceitos independente de quem são.

(Reprodução: Giphy)

Dobby é um pequeno Elfo que faz a gente se encher de fofura, mesmo sendo um bichinho muito estranho. Ele é muito fiel, e quando é necessário está presente pra te trazer divertimento e ajuda, inclusive.

A Devassa usa o arquétipo do bobo. Sua comunicação despretensiosa e divertida, traz para a marca o tom de despreocupação, mas de forma inteligente e que engaja a audiência. Além de ser uma marca acessível, não se importa em ser o supra sumo das cervejas, porque ela já tem seu público.

O Cuidador (Hagrid) — sua meta é ajudar o próximo, as pessoas são colocadas como foco e não mede esforços para que isso seja feito.

(Reprodução: Giphy)

Rúbeo Hagrid, um dos mais fofos personagens da história toda, um amor que cuida do Harry, logo depois dos demais bruxinhos, se preocupa também com os bichos, com a natureza, é leal, é a própria personificação do cuidador.

A Porto Seguro utiliza o arquétipo do cuidador como poucas. Atinge diversas gamas de públicos com interesses diversos — já que o portfólio da empresa é imenso e pulverizado — levando em sua comunicação a preocupação com todos eles, sem distinção.

O Criador (Tom Riddle/Lord Voldemort) - engenhoso, cheio de criatividade e não sossega até que encontre novos projetos interessantes, é criativo e vai eliminar as barreiras em seu caminho.

(Reprodução: Giphy)

Eu não quero polêmica, mas, Tom Riddle — vulgo Voldemort, é ou não é o maior engenho da saga? Tudo acontece a partir desse rapaz. Passado, presente e futuro. É inegável que Voldemort é sim criativo, e é o novelo que desenrola toda a trama.

Marca de arquétipo criador: Apple. Não há muito o que falar, a Apple é a Apple. Criativa, sempre sedenta por novos projetos, sempre com o olhar para a inovação, já com um portfólio considerável, e incansável em suas evoluções de produto. Só pode ser ela.

O Governante (Dumbledore) — aquele que se posiciona como um líder nato. Quando preciso ele não deixa de investir em aspectos como a autoridade e força no discurso.

(Reprodução: Giphy)

Simplesmente Albus Dumbledore. O maior líder e mais respeitado em Hogwarts. Cheio de mistérios, é a autoridade mor na escola de bruxos. Dumbledore é visto como exemplo a ser seguido.

O time Linux vai me desculpando, mas o arquétipo do governante que ilustra é a Microsoft. A Microsoft como marca, se apresenta como a precursora da ordem tecnológica. Lidera pelo exemplo. Ou seu primeiro contato com o mundo computacional não foi o Windows? A Microsoft apesar de hoje, ser a segunda maior líder do mercado de tecnologia — perdendo para a Apple — segue sendo aquela guerreira respeitada de priscas eras.

E assim, espero que a compreensão de como as marcas trabalham sua comunicação tenha ficado mais compreensível com o mundo Harry Potter.

Um abraço e até a próxima! 🥰

Sobre a autora: Mariana AmorimTenho 10 anos de experiência com comunicação, 4 anos com agilidade, sou graduada e especialista em Marketing pela Faculdade Anhanguera, especialista em Gestão de Projetos pelo Senac — DF, e especialista em Comunicação em Saúde pela FioCruz Brasília — Atualmente trabalho como Product Owner e Comunicação na Sysvale Softgroup e Cidade Saudável. E também, Potterhead.

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