Testes de usabilidade na pesquisa de experiência
Acredito que seja de comum acordo que, no mundo cada vez mais digital em que vivemos, a experiência do usuário (UX) é um fator crucial para o sucesso ou fracasso de uma marca. Ela se refere à percepção e resposta do usuário em relação ao uso de um produto ou serviço, logo, uma boa experiência do usuário pode aumentar a satisfação do cliente e sua fidelidade à marca, enquanto uma experiência ruim pode levar à insatisfação e perda de clientes.
Para garantir uma UX de qualidade, existem diversas técnicas e abordagens de pesquisa que podem ser utilizadas (chamamos de pesquisa de experiência). Neste artigo, iremos focar em uma das mais importantes e eficazes: os testes de usabilidade.
Como mencionado, existem outros tipos de técnicas para realizar pesquisas de experiência, como entrevistas, questionários e observação de campo, cada um com suas vantagens e desvantagens, necessitando que o pesquisador saiba ponderar e escolher qual é a melhor técnica para a sua problemática. No caso dos testes de usabilidade, eles se destacam por oferecerem uma abordagem prática e direta, além de serem capazes de revelar insights sobre a interação entre os usuários e um produto ou sistema, identificando problemas e oportunidades de melhoria.
Neste texto, vamos falar sobre a importância de testes de usabilidade, desde a sua preparação até a análise dos resultados. Discutiremos as etapas necessárias para realizar testes eficazes, como definir objetivos, preparar o ambiente, recrutar participantes e analisar os dados coletados cuidadosamente.
Para preparar um teste de usabilidade, é preciso fazer um plano detalhado. Esse plano nos ajuda a comunicar os detalhes do teste, as responsabilidades da equipe e definir a quantidade de recursos necessários. O plano deve ter o objetivo do teste, o perfil dos participantes, o cenário de uso, as tarefas que os usuários devem fazer, os critérios de avaliação e os resultados esperados. É necessário ter os recursos certos para fazer o teste, como equipamentos de gravação de vídeo, software de análise de usabilidade e um lugar para fazer o teste.
O escopo
Para definir o escopo, é muito importante que nos façamos as seguintes perguntas:
— Para quem é o produto?
— Quais são as necessidades que o produto atende?
— O produto é novo?
— O produto substitui algo existente ou complementa algo já disponível?
Essas perguntas são fundamentais para que possamos descrever o produto, compreender as suas funcionalidades, estabelecer seus objetivos com o teste e definir o público-alvo do produto. Para isso, é necessário descrever as funcionalidades do produto do ponto de vista do usuário, ou seja, considerar as situações em que o produto seria utilizado.
Recrutamento
Para obter resultados significativos nos testes de usabilidade, é importante selecionar os participantes corretos. Como principais ações nessa parte do planejamento, temos:
- Definir critérios: É necessário estabelecer critérios claros para selecionar os participantes e buscar levar em consideração idade, gênero e características específicas relacionadas à experiência e habilidades relevantes para seu produto ou serviço.
- Tamanho da amostra: Determinar o tamanho da amostra é essencial para obter insights confiáveis. No geral, um grupo de 5 a 8 participantes é o recomendado, sendo suficiente para identificar os principais problemas de usabilidade.
Criação das tarefas
É na criação das tarefas que descrevemos detalhadamente a execução do teste, incluindo o passo a passo, os dados a serem coletados, as métricas de sucesso e as tarefas a serem realizadas pelos usuários. Para isso, precisamos responder às seguintes perguntas:
— Quais ações as pessoas devem ser capazes de realizar com o produto?
— Quais são os passos envolvidos na interação dos usuários?
— Como avaliaremos se o produto atende às necessidades dos usuários?
— Quanto tempo é necessário para que o usuário conclua uma tarefa usando o produto?
Essas perguntas são de extrema importância na criação das tarefas do teste e nas métricas de avaliação, e respondê-las nos ajuda a compreender melhor o processo e evita que cometamos erros na idealização das atividades.
Para o momento de criação de atividades, é necessário que o pesquisador tenha em mente que as tarefas precisam ser específicas, não permitindo que haja ambiguidade na sua realização, que ela aborde cenários do mundo real e que tenha um objetivo claro a ser alcançado. A partir disso, podemos destacar alguns pontos desta etapa:
- Seja específico e realista: As tarefas devem ser claras e precisas, fornecendo instruções detalhadas sobre o que os participantes devem fazer. Evite tarefas vagas ou ambíguas que possam levar a interpretações errôneas.
- Aborde cenários do mundo real: Pense em cenários do mundo real em que os usuários podem se encontrar ao usar o produto ou serviço.
- Estabeleça metas e objetivos claros: Além de descrever a tarefa em si, forneça aos participantes metas e objetivos específicos a serem alcançados durante a execução da tarefa.
- Varie a complexidade das tarefas: Ao criar um conjunto de tarefas, varie a complexidade e a dificuldade delas. Inclua tarefas mais simples e diretas, bem como tarefas mais desafiadoras que exijam um maior conhecimento ou habilidade do usuário.
- Observe a sequência das tarefas: Outro ponto para se atentar é a ordem em que as tarefas serão apresentadas aos participantes. No geral, recomenda-se inicar com as tarefas mais simples e introdutórias, para que os participantes se familiarizem com o produto e ganhem confiança.
Lembre-se sempre de que as tarefas devem ser adaptadas ao contexto do produto/serviço. É interessante, também, testar com antecedência as tarefas com colegas ou pessoas que não estejam envolvidas no projeto para identificar possíveis problemas.
Análise dos Resultados
Após finalizar os testes de usabilidade, é hora de analisar os resultados e extrair ideias valiosas. E nesse momento da pesquisa, podemos dividir o trabalho mais uma vez, criando um passo a passo para uma análise mais precisa e adequada. No processo de análise, é importante que os dados estejam bem organizados, pois o teste de usabilidade pode criar uma enxurrada de informações e nós podemos nos perder nelas se não tivermos cuidado. Assim, toda a organização desses dados vai tornar mais fácil o trabalho seguinte, de identificação de padrões e geração de insights.
- Passo 1: Organize os dados - Comece por oganizar todas as informações coletadas durante os testes. Isso inclui anotações, gravações em vídeo, capturas de tela e respostas dos participantes a questionários ou entrevistas pós-teste. Certifique-se de ter todas as informações necessárias disponíveis para análise.
- Passo 2: Identifique padrões - Procure por padrões e tendências nos dados coletados e observe quais problemas ou dificuldades foram relatados por vários participantes. Identifique pontos em comum nas interações dos usuários e faça anotações sobre problemas que se repetem.
- Passo 3: Priorize os problemas - Classifique os problemas identificados com base em seu impacto na experiência do usuário. Determine quais problemas têm maior urgência e devem ser corrigidos imediatamente.
- Passo 4: Gere insights - Analise os dados de forma a extrair insights e compreenda as motivações e necessidades dos usuários. Busque sempre entender o contexto por trás dos problemas e como eles afetam a experiência do usuário.
- Passo 5: Compartilhe os resultados - Una todas as descobertas e novas ideias em um relatório claro e conciso para ser apresentado aos membros da equipe responsável pelo projeto. Nessa apresentação, destaque os principais problemas e forneça recomendações para melhorias.
Conclusão
Os testes de usabilidade são essenciais para compreender e melhorar a experiência do usuário em produtos e serviços. Ao planejar e executar um teste de forma adequada, as equipes podem obter ideias sobre como os usuários interagem com o produto, além de identificar possíveis problemas de usabilidade.
Embora existam diversas outras técnicas de pesquisa de UX disponíveis, os testes de usabilidade se destacam por sua abordagem prática e direta. Eles permitem que os usuários reais interajam com o produto, revelando informações valiosas que não seriam obtidas apenas por meio de entrevistas ou questionários, por exemplo.
Portanto, ao projetar e desenvolver produtos e serviços voltados para os usuários, tenha em mente a poderosa ferramenta que os testes de usabilidade são. Analise se, para o seu produto, é um método que faz sentido e pode trazer as repostas que você precisa.
Sobre o autor: João Paulo Castro é UX/UI Designer na Sysvale Softgroup, tem formação em Engenharia da Computação pela Universidade Federal do Vale do São Francisco e é pós-graduando em Ciência de Dados pela UNAMA.
