O Leandro sempre fala de um papo que teve com a Elisa Lucinda sobre chegar tarde na vida das pessoas e que ele chegou na hora que pôde chegar, mas que trabalha para estar cada vez mais cedo na vida das pessoas, antes do primeiro soco do racismo que geralmente é na infância.
É louco pensar que meu ídolo me viu crescer. Comecei a ir nos shows aos 13 anos e as músicas, ideais e a estética que o Emicida apresentava, influenciou diretamente na minha vida por chegar exatamente no momento onde eu tinha acabado de sair (ou fui arrancada) da bolha em que eu me encontrava e passei a viver e enxergar a minha realidade e as que estavam ao meu redor. Anos difíceis chegaram e o meu único ponto de refúgio era o rap, mas principalmente as músicas e os shows do Emicida. Tímida e filha única, prefiria guardar as coisas pra mim, mas ao mesmo tempo sentia que alguém conversava comigo e me entendia. A música tem esse dom. O rap tem. O hip hop tem. A identificação foi rápida e direta e muitas coisas mudaram para melhor á partir daí. Depois conheci a pessoa por trás da obra e eu vi que “tô na TV e tô na rua, numa vida igual a sua” não era só frase de efeito, então o Emicida realmente virou referência pra mim de resistência, sucesso, autoestima, de sonhar e realizar.
Hoje, com 20 anos, eu tenho total consciência de quem sem o Emicida e o hip hop a jornada teria sido bem mais difícil. Ele foi a minha primeira referência negra depois da minha mãe que me fez acreditar que eu posso. Hoje eu vejo as meninas de 12, 13 anos já conscientes, com opinião e isso me alegra por saber que provavelmente elas vão saber lidar com situações que eu também passei de uma forma mais consciente, pois o soco infelizmente é inevitável… e há quem diga que representatividade não importa. Quando eu ouvi o Emicida citando a conversa com a Elisa Lucinda eu entendi exatamente o que ele quis dizer. Precisamos cuidar das nossas crianças. A luta continua.
