Sobre proximidade, brilho no olho e 20 de novembro

Beatriz
TRIUNFO
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5 min readNov 21, 2018

Quando eu decidi voltar a escrever sobre as minhas vivências em ser fã do Emicida a intenção era mais informar mostrando um ponto de vista diferente do habitual. Os canais de notícias tem a missão de nos informar, mas não necessariamente vivem aquilo de corpo e alma. O mais legal de fazer isso foi perceber e receber mensagens de pessoas que se identificavam com o que eu tava escrevendo, que são coisas que eu sinto.

Quando eu vou em um show do Emicida, eu vejo o mesmo brilho nos olhos que eu tenho nos olhos das pessoas. É mais do que assistir a um show, é fazer parte dele e é nesses momentos que eu vejo o Ubuntu se concretizar e, sempre que eu penso nisso, eu lembro do dia da gravação do DVD de 10 anos de Triunfo.

A gente esperou muito pelo dia 20 de novembro de 2017. Foram muitas as especulações de quem seriam os convidados, as músicas, como ia acontecer… Esperamos nossos amigos que vieram de todos os cantos do Brasil pra realizarmos juntos um sonho, depois de anos acompanhando o Emicida. Já vimos shows na rua, no Sescs, nos Centros Culturais, no Teatro Municipal, do lado do cemitério (sério!) e vê-lo ali, numa casa de show, com uma estrutura incrível, cheia de leds e cores, com uma banda foda, foi mágico. Era tipo o Wakanda do Rap!

Eu nunca vou conseguir descrever o quanto esse dia foi especial, mas o que eu posso dizer é que eu tive um sentimento de gratidão imenso por parte das pessoas que estavam ali. Quantos shows nós fomos, quantos amigos fizemos, quantas lutas passamos, quantos sorrisos, lágrimas, amores e vitórias foram embalados ao som daquelas músicas que estavam sendo cantadas naquele dia? Quantas vidas foram mudadas por conta daquelas canções e por conta da pessoa que as canta? Acompanhamos de perto essa história, vimos a Lab crescer, às vezes até nos sentimos um pouco íntimos hahahaha e isso é o que faz a diferença.

Conversando com outros fãs do Emicida, eles dizem sentir a mesma coisa: o Emicida se tornou parte da nossa história. Conversando com a Fabrícia, uma fã do Rio de Janeiro que veio de lá pra São Paulo exclusivamente pra assistir ao show, ela me descreveu o seguinte:

“Desde que que eu ouvi pra nunca mais ter parado, eu sabia que era muito verdadeiro o sentimento que tinha me passado com aquela música, eu escrevia ela, e ficava lendo e tentando entender. Pra mim era um sonho conhecê-lo um dia, e quando eu o conheci eu fiquei muito feliz, não consigo explicar pra ninguém até hoje a sensação que era conhecer o Emicida. Não estava acreditando que quem estava na minha frente era o cara que eu mais admirava. Foi surreal aquele dia, um dos melhores momentos que eu já tinha vivido em toda a minha vida, entre essa lembrança maravilhosa, não quis largar do pé dele nunca, sempre que era do meu alcance eu ia nos seus shows por me passar tanta energia positiva, eu saia mais feliz, melhor do que quando entrei.

Acreditar nos meus sonhos? Essa era minha frase preferida, depois que vi o Emicida e o Nyack no palco, o Mundiko com uma caixa e algumas blusas, e agora ver o show com a banda, a loja da Lab, como é, e sentir o peso de que acreditar nos sonhos que vão se realizar sim, independente de qualquer incerteza, ele com certeza é a melhor pessoa desse mundo pra dizer isso, além de nunca deixar meus sonhos pra trás, me fez ter outro olhar com suas músicas, poesias, falas. Acredito que um dia vou alcançar meu sonhos igual a ele. Não é à toa que assim como ele meu filho se chama Leandro, um presente. Na época eu não soube desenvolver o que era ser mãe, mas uma coisa eu sabia: “o nome dele vai ser Leandro”. Era isso que eu pensava toda vez que ele chutava, e nem mesmo sabendo o sexo dele até os 7 meses eu sabia que era um Leandrinho que estava a trazer todos os ensinamentos que o Leandro Emicida já me passava a muito tempo.

Não vejo a hora de contar pro Leandro o que me motivou a colocar o nome dele assim, e aqui eu me emociono, aqui eu escrevo sabendo lá se o Emicida vai ler.

Todo meu esforço valeu a pena, vivenciei o dia da gravação do primeiro DVD do Emicida, e mesmo na platéia sendo fã, me senti importante. Olhava pra ele e pra plateia e chorava várias vezes, nunca me imaginei indo pra São Paulo me deparando com essa cena, esse dia foi encantador, histórico.”

A gente se sente próximo dele, mesmo não sendo, mas ao mesmo tempo somos. Ouvimos sobre suas dores, alegrias, amores, raivas e compartilhamos dos mesmos sentimentos. Fizemos com que aquelas músicas se tornassem parte da gente e, naquela noite do dia 20, acredito que estávamos ali para agradecer e pra comemorar. Talvez a gente nem soubesse que o nosso coração pulsava isso, e olhando no olho do Emicida ali da grade, eu concluí que ele estava extremamente agradecido também e me senti abraçada.

Hoje é dia 20 de novo. Tempos difíceis, perversos e de muitas dúvidas, e eu acho importante a gente se lembrar daquele dia e principalmente lembrar de como saímos daquele show. Com vontade de vencer, de obter o nosso próprio Triunfo. Mais do que nunca, essa vontade não pode se esvair e sempre que a gente pensar em desistir devemos lembrar do dia 20 de novembro de 2017 e lembrar que existem muitos dos nossos, que é possível e que seguimos resistindo e Triunfando.

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Beatriz
TRIUNFO
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Designer, afrofuturista, administro o fã Clube Triunfo e escrevo de vez em quando.