3 poemas de Dinah Oliveira
Epílogo
Vejo o tempo em suas mãos
nos cabelos das cores de inverno
o frescor da beleza sobrevive
nos sulcos do seu sorriso
Vejo a lucidez acirrar a angústia
reduzir seu agora ao passado
os limites diluírem a perfeição
dos traquejos de menina
Vejo o olhar ausente na janela
dos caminhos esquecidos
o silencioso minguar dos dias
entre cochilos e partida.
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Sem-par
Brinco sem-par
perdido no
embate de-pernas
encravado
no cínico
duelo das-línguas
esquecido
no súbito
gozo sem-falas
deixado no
efêmero
sabor do-mar.
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Sobressaltos
Fomos atingidos, nossa morte é lenta
Sobressalto de corpos nas calçadas
Feridos em seus estômagos vazios
Poeira obscena de indesejável odor.
Fomos atingidos, nossa miséria é lenta
No choro do filho que foge da bala
Destino riscado entre joelhos vergados
Na crença do pão nosso de cada dia.
Fomos atingidos, nossa razão é lenta
Vidros fechados e mãos em punho
Embaraço de justificativas tacanhas
Onde o todo é questão de escolha.
Fomos atingidos, nossa morte é certa
Bala perdida, lado ente do cérebro
Vegeto cego de corpo desatinado
Incógnito em dissimulada empatia
⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀⠀
Revisão: Caroline Lima e Itaércio Porpino